“A greve é justa, sim! A pergunta deveria ser: por que os bilionários ficam mais ricos e os trabalhadores têm que pagar o custo desta crise que eles mesmos criaram?”

“Todos nós, juntos, podemos dar um ‘Fora, Bolsonaro e todo o seu projeto entreguista do país’!”

A mobilização dos metroviários em São Paulo foi vitoriosa. O Sindicato da categoria decidiu suspender a greve que começaria na madrugada da terça (28), depois que o governo recuou e aceitou a proposta do Ministério Público do Trabalho (MPT) contra o fim de um acordo coletivo que prevê adicional noturno de 50% e hora extra paga em 100%, entre outras garantias. Entrevistamos o presidente do Sindicato, Altino de Melo Prazeres Júnior, que ao dar uma entrevista no “Bom dia São Paulo” da Rede Globo abordou assuntos que não são repercutidos nas mídias empresariais, como por exemplo a renda dos bilionários brasileiros que cresceu durante a pandemia. Resultado: viralizou nas redes sociais!

O que representa conseguir uma reversão e fazer o governo do Estado recuar com uma greve justa na pandemia?

A luta da categoria foi muito forte nesta greve. Diante do ataque do governo, nós paramos à noite e o turno aderiu mais do que em outros tempos. Com o apoio da população e o desgaste que causaria ao governo, nós conseguimos que o governo recuasse ainda na noite, aceitando a proposta que tinha sido feita de manhã pelo Ministério Público do Trabalho às 23h. Nós fizemos a assembleia virtual entre 0h15 à 1h15 e foi muito importante a mobilização de todos os trabalhadores e o diálogo com a população.

 

Os metroviários são mais uma categoria que se mobiliza. Temos visto outras categorias, por exemplo, a organização dos entregadores por aplicativos e a greve dos metalúrgicos da Renault no Paraná que querem revogar 747 demissões na montadora. Sem dúvidas esse é o caminho. Comente por favor.

Nós, metroviários, nos mobilizamos. O Sindicato dos Metroviários participou do processo da paralisação dos entregadores por aplicativos aqui em São Paulo e fomos às ruas com eles. Agora, temos manifestações no país inteiro: vemos a mobilização dos metalúrgicos da Renault no Paraná e nossa ideia é fazer mobilizações no país inteiro onde a Renault estiver; estamos atentos às mobilizações dos petroleiros e dos trabalhadores dos Correios contras as privatizações; dos professores que não têm condições de voltar no meio da pandemia, arriscando as suas vidas e a dos alunos; das populações que estão em seus territórios tentando garantir a moradia, como os indígenas, os quilombolas que enfrentam grandes ataques. São lutas de todos nós, os trabalhadores, os desempregados, os que estão numa situação de exploração e opressão muito grande. Faz parte de todo um processo de luta dos trabalhadores, dos seus aliados, contra a exploração do grande capital.

Os petroleiros estão na luta contra a privatização da Petrobrás, enfrentando todos os ataques que vieram principalmente neste período da pandemia. Como você vê a luta dessa categoria?

Estamos acompanhando a luta dos petroleiros e a importante empresa nacional, que infelizmente parte dela já foi privatizada, que infelizmente parte de suas ações estão nas mãos de empresários nacionais e estrangeiros, que infelizmente venderam parte importante de suas reservas de petróleo, mas que ainda é estatal e precisava ter o controle dos trabalhadores, mas não tem. E agora o Bolsonaro quer entregar tudo. Então, a luta para que a Petrobrás seja 100% estatal e essa riqueza fique na mão do povo brasileiro é muito importante. Por isso a luta contra a privatização da Petrobrás, pelo “Fora Bolsonaro e Mourão” é muito importante para que possamos fazer com que a Petrobrás fique para o povo brasileiro e possa servir para a tecnologia e a construção do nosso país.

Segundo pesquisa da Rede Justiça Fiscal para a América Latina e Caribe, no Brasil, são 221 mil bilionários com renda média mensal de R$ 80 mil, enquanto uma massa de trabalhadores sofre com o salário mínimo a R$ 1.045! Se essas fortunas fossem taxadas a 0,1% , a arrecadação anual do Governo seria igual ao lucro da Petrobrás em 2019 = R$ 40 bilhões.

Na América Latina, no Brasil, no mundo inteiro, o número de bilionários é uma quantidade limitada e essas pessoas estão cada vez mais ricas e a gente cada vez mais pobre. Nesse período de pandemia, eles tentam se aproveitar para tirar mais ainda o direito dos trabalhadores, para aumentar mais ainda a exploração sobre a nossa classe. Ter taxação sobre as fortunas não resolve o roubo, mas seria importante para termos ideia da dimensão do lucro dessas pessoas quando fazemos o debate e acompanhamos pesquisas como esta da Rede Justiça Fiscal para a América Latina e Caribe.

Sua entrevista no telejornal “Bom dia São Paulo” repercutiu bastante nas redes sociais. É um conteúdo raro de vermos na Globo, mas não devemos tirar o foco da importância do que você disse para criticarmos somente a postura do apresentador, não é mesmo?

Sim. Eu dei esta entrevista logo de manhã e eu não tinha nem dormido bem. Tinha havido piquete, a assembleia virtual acabou de madrugada e depois fomos conversar com a turma. Aí, eu fui entrevistado pela TV Globo e o jornalista veio dizer que era errado, injusto fazer a greve e nós demonstramos que a injustiça está nos ricos ficarem cada vez mais ricos e usei dados da ONG Oxfam sobre os bilionários que aumentaram em 27% a sua riqueza no período da pandemia. Então, os trabalhadores lutarem para resistir e para manter o seu padrão de vida não é errado, muito pelo contrário. E se tem alguém que se preocupa com a população de São Paulo são os metroviários e a própria população. Quem não pensa na população, são os governantes e os grandes empresários, porque se pensassem não nos deixariam na situação em que estamos ou não tentariam tirar os direitos dos metroviários ou dos trabalhadores da Saúde, dos professores, ou o escasso valor de R$ 600 que muitos nem receberam e tiveram que se arriscar com a pandemia para correr atrás. Então, a resposta foi na hora e acabou viralizando. A postura do apresentador Bocardi não foi boa, obviamente, mas o que importou mesmo foi o debate sobre como é injusta essa sociedade. Os que lutam estão lutando contra a exploração e nós tentamos fazer uma aliança com todos que lutam, o que chamamos de solidariedade de classe, ou seja, todos nós juntos podemos conseguir algo mais. Os petroleiros, por exemplo, que têm a sua organização própria, mais as centrais sindicais, podemos acreditar que eles possam se juntar e chamar uma greve geral para darmos um “Fora Bolsonaro e todo o seu projeto entreguista do país”.

Entenda o caso:https://sindipetro.org.br/cala-a-boca-bocardi/

Não perca a última live da série que a FNP vem fazendo em torno do ACT com o tema “Organizando a luta na pandemia” com participação especial de Altino de Melo Prazeres Júnior na quarta, dia 5, às 10h. Divulgue e participe!

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