Desaparecimento de Bruno e Dom: um crime com as digitais de Bolsonaro e do capital

Está evidente que o governo Bolsonaro está influenciando na morosidade da investigação e localização dos jornalistas desaparecidos no Amazonas. Objetivo é prosseguir com a política do “passar a boiada” qualquer custo para favorecer o capital que quer avançar sobre a floresta

Quando o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em uma reunião ministerial, no dia 22 de abril de 2020, disse que aquele momento de declaração da pandemia da COVID-19 seria uma oportunidade ideal para aprovar mudanças no regramento ambiental, utilizando o termo “passar a boiada”, ele estava em realidade expressando o desejo do grande capital que tem interesse em desmatar a floresta para ampliar suas áreas de cultivo do agronegócio e exploração da mineração, não muito diferente do que acontece atualmente na Petrobrás.

Mas essa lógica não está funcionando apenas no ambiente institucional com a desmobilização de organismos como FUNAI e IBAMA, ela ocorre, sobretudo, no dia a dia da região com as invasões de territórios indígenas com assassinatos e abandono de áreas de preservação para a práticas ilegais de garimpo, extração de madeira e tráfico de drogas. Os jornalistas desaparecidos investigavam justamente o descalabro da Amazônia, transformada pelo governo neoliberal de Bolsonaro em terra de ninguém.

Desde que assumiu, em janeiro de 2019, o governo do Bolsonaro incentiva a degradação na Região Amazônica, mesmo que subliminarmente, apoiando o assassinato de ativistas indígenas e ambientais na região. Bruno e Dom sofrem a mesma violência oligárquica e institucional (na base da omissão) que matou Dorothy Stang, Chico Mendes e Paulo Paulino Guajajara, entre tantos ativistas assassinados.

O perfil dos desaparecidos

Bruno Pereira jornalista de formação, com militância indigenista, foi exonerado da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 2019, depois de coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da terra indígena Yanomami, em Roraima. Ele era responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC). Depois da exoneração Bruno foi trabalhar com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

O jornalista inglês Dom Phillips ensinava inglês, em um projeto social, para jovens dos bairros de Marechal Rondon e Alto do Cabrito, no subúrbio de Salvador-BA. Ele é colaborador do jornal britânico “The Guardian” e está escrevendo um livro sobre a floresta amazônica, com apoio da Fundação Alicia Patterson. Ele também escrevia para o “The Washinton Post”, jornal estadunidense.

Informações desencontradas

Nesta segunda-feira (13), após uma publicação do jornalista André Trigueiro, no Twitter, informando que a esposa do jornalista inglês Dom Phillips teria confirmado que os corpos dos jornalistas teriam sido localizados, a Polícia Federal (PF) emitiu uma nota oficial, desmentindo a informação. Já A Embaixada do Brasil no Reino Unido admitiu ter errado ao informar à esposa do jornalista inglês que seu corpo e do indigenista Bruno Pereira teriam sido encontrados na Região do Vale do Javari.

Por sua vez, ainda na segunda, o jornalista André Trigueiro publicou nesta segunda a sequência de fatos sobre o episódio. Segundo ele, “a família de Dom Phillips recebeu às 8:42 (horário de Londres) mensagem de Roberto Doring, da Embaixada brasileira no Reino Unido, pedindo que ligassem. Paulo Sherwood, cunhado de Dom Phillips, ligou e recebeu de Roberto a informação de que os corpos foram encontrados” , o mostrando um desencontro de informações.

Atos pelo Brasil

Ainda na segunda indígenas da cidade de Atalaia do Norte realizaram um protesto em apoio às lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e contra o governo Bolsonaro, e também contra os ataques que o governo tenta aplicar contra os direitos dos povos originários. O ato também ocorreu em solidariedade às famílias dos desaparecidos.

Já a manhã de domingo (12/06) foi marcada por atos que exigem uma investigação sobre o paradeiro de Bruno e Dom. Protestos foram realizados no Rio de Janeiro, Brasília e Belém-PA.

Em Brasília, a concentração ocorreu no Eixão, durante a tradicional interdição da via aos domingos. O ato no Rio de Janeiro começou às 9h, na Avenida Atlântica, em frente ao Posto 6, em Copacabana.

Em Belém, o protesto também foi realizado no domingo com a presença de ambientalistas, além de uma representação dos petroleiros compostas por diretores da Federação Nacional dos Petroeliros (FN)P, Eduardo Henrique (Sindipetro-RJ) e Bruno Terribas (Sindipetro AM/AP/MA/PA).

Sindipetro-RJ cobra investigação

O Sindipetro-RJ se soma ao movimento popular que cobra investigação imediata sobre o paradeiro dos jornalistas desaparecidos em Atalaia do Norte. É inadmissível a profusão de crimes bárbaros contra aqueles que defendem direitos humanos, povos originários e demais minorias. Basta de impunidade e intimidação!

 

 

 

 

 

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