Chacina policial em bairro quilombola em Salvador completa sete anos

Sindipetro-RJ é solidário à luta contra o genocídio do povo negro

A organização Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto e familiares das vítimas convocam ato público em memória dos 12 jovens do Cabula no domingo (06), às 9h, na Vila Moisés

Há sete anos, no dia 06 de fevereiro, 12 jovens negros foram assassinados pela Polícia Militar numa emboscada durante a madrugada na comunidade Vila Moisés no Cabula em Salvador, bairro que mantém vivas as raízes quilombolas. A violência aconteceu num campinho próximo à Estrada das Barreiras onde 143 tiros foram disparados e 88 atingiram as vítimas. Outras seis pessoas da comunidade foram baleadas aleatoriamente, mas sobreviveram.

Desde então, a Reaja juntamente com familiares e amigos e amigas das vítimas do Cabula organizou uma série de ações político-comunitárias e culturais para a descriminalização dos 12 jovens assassinados, para a preservação da memória e dos valores da comunidade que foi profundamente abalada. Em março de 2015, juntamente com a Justiça Global e a Anistia internacional, a Reaja realizou denuncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. Além disto, foram realizadas marchas contra o genocídio do povo negro que naquele ano reuniu mais de 6 mil pessoas nas ruas de Salvador.

Em Brasília, por pressão de familiares, foi criada uma CPI em março de 2015 para apurar a morte e o desaparecimento de jovens negros e pobres no Brasil. O Ministério Público concluiu que foi uma execução, pedindo ao Tribunal de Justiça da Bahia o indiciamento e a prisão preventiva dos nove policiais envolvidos nos 12 homicídios triplamente qualificados.

Essa foi mais uma das inúmeras ações da PM, que atua no país subordinada aos governos estaduais, oprimindo e matando especialmente o povo preto e pobre.

Rui Costa: jogada “de um artilheiro em frente ao gol”

O governador da Bahia, Rui Costa (PT) tinha acabado de assumir o cargo no seu primeiro mandato em 2015, estava no poder há apenas 37 dias, e se referiu à chacina como uma jogada “de um artilheiro em frente ao gol”.

Naquele dia, quatro guarnições do Batalhão de Choque e três viaturas da Rondesp (Rondas Especiais da PM) se instalaram na comunidade espalhando dor e medo, porque teriam recebido denúncias de que um grupo se preparava para explodir caixas eletrônicos de um banco. Moradores contaram que a ação policial teria sido por vingança, porque um tenente foi ferido com um tiro no pé dez dias antes no Cabula.

Secretário defendeu a tropa

Rui Costa, que foi reeleito em 2018, defendeu os policiais junto com seu então secretário de Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa, que ocupava o cargo desde 2011 quando saiu da delegacia da PF para ocupar o cargo no segundo mandato de Jaques Wagner (PT) como governador da Bahia.

Em julho de 2015, divulgaram que o inquérito policial da Secretaria descartou execução ou violação de direitos numa versão acompanhada pelo Inquérito da PM.

Usando o argumento de “excludente de ilicitude”, aquele do pacote anticrime de Sérgio Moro, a juíza do TJ absolveu os policiais. Eles foram afastados, passaram por atendimento psicológico e voltaram às atividades depois que o TJ da Bahia arquivou o processo.

Derrotado na Bahia, o MP encaminhou Recurso Extraordinário para provocar a federalização e novo julgamento, mas em março de 2021 o ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal negou o pedido alegando que precisaria reexaminar as provas do caso, o que não é permitido pela jurisprudência da Corte neste tipo de instrumento processual.

Vítimas entram para quadro cotidiano de mortes

As vítimas foram Evson Pereira dos Santos, 27 anos, Ricardo Vilas Boas Silvia, 27, Jeferson Pereira dos Santos, 22, João Luis Pereira Rodrigues, 21, Adriano de Souza Guimarães, 21, Vitor Amorim de Araújo, 19, Agenor Vitalino dos Santos Neto, 19, Bruno Pires do Nascimento, 19, Tiago Gomes das Virgens, 18, Natanael de Jesus Costa, 17, Rodrigo Martins de Oliveira, 17, Caique Bastos dos Santos, 16.

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No próximo sábado (05/02), a partir de 10h, será realizado um ato em protesto contra a morte de Moise, na Praia da Barra – Posto 8 (Av. Lucio Costa 6900) – RJ

Moïse Mugenyi Kabagambe, presente!

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