Organizada pela Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e veiculada na manhã desta quarta-feira (5/8), a videoconferência (Live) intitulada “Organizando a luta na pandemia” destacou, como um dos eixos centrais do debate, a necessidade de se construir uma grande unidade da classe trabalhadora em defesa da Petrobras estatal e pelo Fora Bolsonaro/Mourão.
A Live teve, como convidados, Camila Lisboa e Altino Prazeres, coordenadores do Sindicato dos Metroviários de São Paulo; e Raquel Sousa, advogada do Sindipetro-SJC e da FNP. A mediação ficou a cargo de Luciano Alves, do Sindipetro AL/SE e da FNP, que logo na abertura criticou duramente a política do governo Bolsonaro para a Petrobras. “O atual governo está destruindo o patrimônio público brasileiro, em meio a uma pandemia que já causou mais de 95 mil mortes. Basta de perdas de direitos e de mortes pela pandemia. Lutamos pela prorrogação do ACT porque não há a menor condição de negociar um novo acordo neste momento. Mesmo assim, a Petrobras quer se aproveitar da pandemia para retirar direitos dos trabalhadores”, disse.
Em sua fala, Camila Lisboa apresentou um resumo da recente greve dos metroviários de São Paulo, que forçou o governo Dória a recuar na tentativa de retirar direitos, sendo exemplo de mobilização e resistência para outras categorias. “Nosso desafio de enfrentar o governo de São Paulo e evitar a perda de direitos — disse ela — começou logo com a chegada da pandemia. Como os transportes públicos são meios de grande propagação da covid, apresentamos um plano de emergência em defesa da vida, propondo quarentena para os serviços não-essenciais e muita proteção também à saúde dos trabalhadores lotados nos serviços essenciais. O crescimento da pandemia foi produto da irresponsabilidade de governos como os de Bolsonaro e Dória. Em São Paulo, infelizmente a quarentena não foi efetivada porque 74% das empresas continuaram funcionando e expondo a saúde dos trabalhadores, além de sobrecarregar os serviços públicos de saúde. Pressionamos para que não houvesse campanha salarial neste momento. Na Petrobrás, é absurdo que direção da empresa insista em discutir o ACT de vocês. Em São Paulo a nossa categoria resistiu a isto porque dialogou com a população e contou com uma grande unidade. A mesma unidade que vamos reproduzir nesta sexta-feira [7/8], durante o dia nacional de luta”, frisou.
Também coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino Prazeres citou dados da ONG OXFAM que apontam aumento da concentração de renda e riqueza no Brasil, durante a pandemia do novo coronavírus. “Segundo esses números, os 42 bilionários mais ricos do país cresceram suas fortunas ainda mais durante a pandemia, algo em torno de 171 bilhões de reais, valor mais que duas vezes superior ao que foi gasto pelo governo federal no pagamento do auxílio emergencial de 600. Então, há uma necessidade de discutirmos a riqueza dos outros e a desgraça dos trabalhadores. O Estado diz não ter recursos para investir no metrô, mas o metrô produz economia para o estado, na medida em que reduz os índices de acidentes e mortes e também os gastos com manutenção de rodovias. Na Petrobras é o mesmo. A empresa representa uma riqueza imensa para o país. Possui tecnologia, descobriu o pré-sal, mas os governantes querem entregar o patrimônio do povo brasileiro. Tudo para aumentar nossa desgraça e enriquecer ainda mais esses bilionários. Por isso a campanha em defesa da Petrobras tem que ser de toda a sociedade. Construir essa unidade é uma coisa importantíssima. É obrigação de todos nós”, completou.
Qualificando o chamado ‘plano de desinvestimento da Petrobras’ de plano de destruição da empresa, a advogada Raquel Sousa fez um breve histórico da luta contra o desmonte e a venda de ativos desde 2016. “Por meio de ações jurídicas, conseguimos impedir a destruição acelerada da Petrobras nos ritmos pretendidos pelos governos. É preciso lembrar que a ideia do Pedro Parente [ex-presidente da Petrobras] era ter liquidado tudo até 2017. Importante lembrar também que todas as vendas de ativos promovidas até o momento foram realizadas sem licitação e a preço vil. Houve os casos da TAG e da Nova Transportadora do Sudeste, que controlavam toda a malha de dutos de gás do país. As duas subsidiárias foram vendidas a duas empresas privadas. Depois a Petrobras passou a pagar aluguel para utilizar os dutos que antes pertenciam a ela. O pior é que só utiliza 25% desses dutos. Em menos de dois anos de aluguel, a Petrobras já terá devolvido às empresas privadas todo o valor que estas “pagaram” pelos dutos. O nome disto é roubo. São muitos os crimes de lesa-pátria cometidos pela direção da Petrobras. Para acabar com isto, é preciso uma Petrobras 100% estatal e que não tenha como único objetivo pagar bônus aos seus dirigentes. É preciso barrar as vendas de ativos e recuperar tudo o que nos foi retirado”, disse.
Sobre a insistência da Petrobras em ‘negociar o ACT’, Raquel também reafirmou a reivindicação da FNP e sindicatos filiados. “A gestão da Petrobras tem que ter responsabilidade e respeito pela força de trabalho. Tem que prorrogar o ACT enquanto perdurar a situação de calamidade pública”, ressaltou. Citando julgamento da greve de 2018 que acontecerá no Tribunal Superior do Trabalho (TST) no próximo dia 18/8, a advogada defendeu ainda que a atual lei de greve seja declarada ‘inconstitucional’ porque, segundo ela, atenta contra o direito de organização previsto na Constituição de 1988.
Em uma das falas finais, e após ressaltar a necessidade de os trabalhadores derrotarem as políticas de Bolsonaro/Mourão, Camila Lisboa (metroviários de SP) criticou o discurso de ‘estado mínimo’ tão propagado pelo governo e a mídia burguesa. “A chegada da pandemia do coronavírus fez cair por terra esse discurso de estado mínimo porque, na hora em que necessitam ser atendidas, as pessoas só podem recorrer ao SUS. Também é falso o dilema de que, para ter emprego, o trabalhador tem que ter menos direitos. Afinal, a reforma trabalhista foi aprovada e nem por isso aumentou o número de empregos. É uma falácia”, concluiu.
Assista à íntegra da Live promovida pela FNP