Direção da Petrobrás restabelece procedimento de testagem (com espera do resultado)anti COVID-19 do CENPES após ser questionada pelos trabalhadores

Erro da empresa permitiu que operador com IgM e IgG positivos trabalhasse durante uma manhã

A direção da Petrobrás resolveu mudar o processo de testagem no CENPES, que estava sendo feita na entrada dos trabalhadores para durante o expediente, aumentando os riscos de contaminação por COVID-19. Na quarta (27), um operador entrou no Complexo CENPES/CIPD, tomou café com os colegas, percorreu sua área de trabalho e, depois de algumas horas, foi testado positivo no IgM e no IgG. Na quinta (28), o Sindipetro-RJ participou de reunião extraordinária da CIPA convocada pelos trabalhadores em caráter de urgência. Na segunda (01), os testes voltaram a ser feitos na entrada.

Gestão enfia os pés pelas mãos

Segundo relatos de petroleiros, a testagem no CENPES começou a ser feita no dia 20 de maio antes da entrada no trabalho, às 6h30. Assim que os trabalhadores passavam na catraca, após preenchimento do formulário de acesso e verificação de temperatura, se dirigiram para a sala VIP (próxima à catraca) para realizarem os testes rápidos, IgM e IgG. Depois dos dois testes, os trabalhadores só se dirigiam para suas respectivas áreas após a liberação da responsável pela Saúde, que estava na coordenação dos testes, os quais transcorriam em ambiente preparado, sala arejada e fila organizada respeitando o distanciamento. A realização dos testes neste esquema não causou impacto quanto à continuidade operacional.

Até agora, a empresa não alegou razões para ter feito a alteração do processo de testagem no CENPES e nega que a mudança tenha sido motivada pela geração de horas extras. Aliás, a quantidade de PTs emitidas por um contingente reduzido também tem sido questionada pelos trabalhadores.

Na reunião com a CIPA, o Sindicato:

▪️ divergiu do que foi apresentado sobre a Nota Técnica 28, segundo a qual a posição da empresa é considerar um indivíduo com IgM e IgG reagentes como não transmissor, sem necessidade de afastamento (ainda que no caso em tela o trabalhador tenha sido, corretamente afastado);

▪️ solicitou o envio das notas técnicas mencionadas em reunião;

▪️ exigiu a testagem e espera do resultado na entrada (HEs ou produtividade não justificam mudanças neste procedimento);

▪️ solicitou a testagem de todos os contactantes no caso em questão (não tivemos resposta sobre isso na reunião);

▪️ exigiu a higienização das áreas afetadas pelo caso em questão (não tivemos resposta na reunião);

O diretor do Sindipetro-RJ, Eduardo Henrique, que acompanha as reuniões com o RH e a Estrutura Organizacional de Resposta e faz parte do grupo que tem tentado reunir informações e elaborar iniciativas políticas e jurídicas sobre a pandemia na companhia, apresentou na reunião dados recentes e alarmantes.

Na reunião, os cipistas do CENPES foram informados de fatos importantes que contradizem as notícias da direção da Petrobrás de que, por exemplo, está tudo “tranquilo e satisfatório” no COMPERJ, “garantindo a produção” de uma obra postergável com a aglomeração de 4.000 operários e que contabilizou mortes por COVID-19 entre seus trabalhadores.

Importante também contextualizar qualquer unidade no quadro nacional da companhia, onde centenas já foram contaminados e a EOR insiste em esconder dados, distorcer a contabilidade e desrespeitar decisão judicial, tudo para não transparecer os números reais de contaminações e óbitos por unidade, para que possamos melhor nos proteger.

“Não podemos confiar em uma explicação – baseada em uma tese que não é consenso entre os especialistas, sobre uma doença a qual não temos conhecimento acumulado – de que a situação está tranquila porque uma pessoa assintomática com IgM e IgG positivos não é mais transmissora.”, afirmou Eduardo Henrique.

Na reunião da CIPA, tanto a médica do trabalho do Sindipetro-RJ quanto seus dirigentes questionaram o estabelecido na NT-28 apresentada pela equipe de Saúde do CENPES, que permitiria o expediente normal de quem tem resultado positivo de testagem, embora esta mesma equipe tenha dispensado o trabalhador pelo IgM positivo.

Por outro lado, o Sindicato reconheceu como positiva a orientação local de afastar o trabalhador neste caso e defendeu que este seja o novo indicativo para toda a empresa. E, avalia que para ser consequente com a avaliação que prevaleceu, de um possível risco, a empresa deveria tomar medidas adicionais de testagem dos contactantes e higienização do ambiente além da rotineira.

Mudanças no meio da jornada podem afetar a segurança

Para evitar novas ocorrências, o Sindicato reforça que os testes sejam feitos sempre na entrada, apesar dos argumentos de que os mesmos não serviriam como barreira ou triagem, mas para levantar um perfil da força de trabalho, que fica sabendo o resultado logo de início. Segundo observações de alguns operadores, por exemplo, inclusive do diretor do Sindipetro-RJ, Dener Fabrício, “a continuidade operacional e observância às normas de segurança podem ser afetadas, caso seja reportado um resultado positivo no meio de uma jornada em uma gerência operando em contingente mínimo”.

Recentemente, o Sindipetro-RJ registrou notícias de pelo menos três casos (TABG, P-77 e CENPES) que envolveram diferentes situações com procedimentos e tipo de teste – mas que tiveram em comum a não espera de resultado – e por consequência, potenciais transmissores cumpriram por algum tempo suas atividades entre os demais. Um deles foi contaminado, possivelmente, por um colega do Terminal que veio a óbito. O outro trabalhador foi embarcado sem esperar o resultado do RT-PCR que viria a confirmar a contaminação.

“Se os testes não afastam totalmente a possibilidade de uma pessoa contaminada passar pela entrada, a aplicação dos mesmos diminui este risco. Então, por que não fazê-los da forma correta para ajudar a prevenir a contaminação no ambiente de trabalho, na medida que estejam disponíveis?”, enfatizou o diretor do Sindipetro-RJ, Tiago Amaro, que também participa da parceria do Sindicato com a FIOCRUZ para tratar inclusive questões sobre o coronavírus.

Dener ainda lembrou que o Sindicato faz questão de assinalar que não é possível permitir a prática comum de tentar jogar a culpa no trabalhador ou hierarquizar o combate à pandemia pelo comportamento individual. “Isto não quer dizer que não reforcemos a necessidade de todos utilizarmos os equipamentos de segurança e seguirmos rigidamente os procedimentos recomendados, afirmou.

Compromisso com a Vida

O Sindipetro-RJ valoriza muito o esforço daqueles(as) profissionais da Saúde que se desdobram para enfrentar esta crise, no limite da técnica e dos recursos disponíveis, submetidos a determinações superiores.

Infelizmente, não se pode dizer o mesmo sobre os principais gestores da companhia – neste momento, especialmente as “lideranças” da EOR e do RH – seja por elaborarem, seja por reproduzirem sem questionar a política em voga, que será responsável por ampliar o número de adoecimentos e mortes.

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