Caso a encomenda de construção de dois FPSO seja confirmada fora do Brasil, país deixará de gerar mais de 80 mil empregos
A Petrobrás anunciou no último dia 15/01 que receberá, no dia 1 de fevereiro, as propostas das empresas pré-qualificadas para a licitação da construção das plataformas P-78 e P-79 que vão operar no campo de Búzios. Segundo a empresa, o processo decisório de contratação de bens e serviços da Petrobrás considera três critérios: qualidade, competitividade e prazo de fornecimento.
“As atuais estratégias de contratação e construção têm por objetivo evitar atrasos nas entregas dos sistemas e acelerar o início do desenvolvimento das áreas de produção (…) Atrasos na implantação dos projetos resultam em perdas de bilhões de reais de arrecadação para os governos federal, estadual e municipal, além da redução do tempo de vida útil e produtiva dos campos do regime de partilha, que têm tempo limitado para produção. Na Petrobrás, por exemplo, houve atrasos de mais de três anos na entrega de dez plataformas contratadas em 2010, fazendo com que os governos federal, estadual e municipal deixassem de arrecadar R$ 33 bilhões. ”
Por sua vez, o Sinaval, Sindicato da Indústria Naval, que agrega diversos estaleiros, divulgou uma resposta em seu site em que desmente a justificativa da direção da Petrobrás.
“Na questão dos prazos de entrega, muitas plataformas foram entregues por estaleiros brasileiros dentro do prazo contratado e, em alguns casos, até mesmo com adiantamento em relação às datas contratuais, tendo alguns estaleiros até recebido da Petrobras prêmios de desempenho e cumprimento de prazos. Em alguns contratos, ocorreram atrasos, mas, em inúmeras oportunidades, esses atrasos foram devidos a modificações nos projetos por parte da própria Petrobrás. Ressaltamos que os estaleiros estrangeiros dificilmente aceitam o grau de alterações durante a execução das obras que a Petrobrás pratica nas contratações à Indústria Naval brasileira. Mesmo assim, há notícias de atrasos consideráveis nas entregas à Petrobrás de várias unidades encomendadas em estaleiros asiáticos” – rebatendo a direção da Petrobrás.
Sindipetro-RJ defende empregos no Brasil
Já o Sindipetro-RJ considera de suma importância uma política de conteúdo local que proteja os empregos no Brasil. A direção do Sindicato faz ponderações importantes sobre como é o processo de construção de plataformas no exterior, não muito diferente do que ocorre em estaleiros brasileiros.
Alguns estaleiros estrangeiros também fazem alterações, mas custa caro. No Japão, existe uma resiliência maior à mudança de projeto, mas em outros países os estaleiros são mais flexíveis quanto a essas mudanças. Na construção do casco, de fato, os estaleiros estrangeiros são mais rápidos porque essa atividade demanda grande capacidade de movimentação de carga e a maioria dos estaleiros brasileiros está em um patamar inferior. Para a construção de módulos, essa diferença existe, mas não é tão significativa, porque não depende tanto de capacidade de carga. O problema maior é organização do trabalho, problema que também ocorre em outros países em maior ou menor grau. Quanto à integração, não há muita diferença entre Brasil e exterior. Isso do ponto de vista de construtibilidade. Quanto a preço, há custos maiores e menores, mas no final das contas, acabam se equivalendo.
O tempo de transporte da plataforma por Dry Tow (quando a plataforma viaja em cima de outro navio), que foi o caso da P-67 e da P-70, leva em torno de 7 semanas. Mas no caso de plataformas como P-78 e P-79, que são maiores, não existe atualmente navio compatível para fazer o Dry Tow, o que obriga a fazer reboque convencional. Como essas plataformas têm casco retangular e não são projetadas para navegar, o tempo de transporte aumenta muito, pelo menos 13 semanas, considerando uma saída da China.
Além disso, para se fazer atividades de comissionamento durante a viagem, é necessário verificar se a vibração no casco devida ao transporte permite a execução de atividades a bordo, uma vez que a vibração excessiva pode levar a problemas de saúde dos trabalhadores, conforme disposto na NR-15, Anexo VIII.
Portanto, o atraso do transporte pode não justificar um possível ganho na velocidade de construção, nem no preço. O ideal, mesmo sob o ponto de vista ultraliberal vigente na empresa, seria construir o casco e os módulos fora e fazer a integração aqui no Brasil, mantendo de alguma forma parte dos empregos no Brasil.
Ainda assim, o Sindipetro-RJ defende uma política de incentivo à indústria naval no país com geração de empregos de qualidade para os brasileiros.