Os 68 anos da Petrobrás em meio aos processos de desmonte e privatização e a luta da categoria petroleira

Diretor do Sindipetro-RJ participou da edição desta quinta-feira (07/10) do Programa Faixa Livre, em que explica como o Sindicato encaminha a mobilização dos petroleiros do Rio na defesa da Petrobrás, empregos e direitos

O aniversário da Petrobrás, que completou no último domingo (03/10) 68 anos, o seu papel na economia nacional, o fim do projeto TAMAR, o programa de subsídios do gás de cozinha, o programa de Solidariedade Petroleira (distribuição de gás subsidiado e cestas básicas) e a ação nacional do Dia do Gás a preço justo realizada pela FNP, a disputa contra o negacionismo da direção da Petrobrás com a defesa do teletrabalho na pandemia, e os militares no governo Bolsonaro e na Petrobrás, foram alguns dos temas abordados na edição da quinta-feira, dia 07/10, do programa de rádio “Faixa Livre” que vai ao ar na Rádio Bandeirantes do Rio de Janeiro – 860 AM.

O diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Vinícius Camargo, foi entrevistado nesta edição, e exaltou a importância da Petrobrás na semana de comemoração dos 68 anos de fundação da estatal. Camargo condenou a política de preços adotada pela direção da empresa e a tentativa do governo Bolsonaro de colocar a culpa da alta dos combustíveis na alíquota do ICMS, lamentou mais um leilão de blocos de petróleo e gás, ameaçando áreas de proteção ambiental em Fernando de Noronha, e comentou o fim da parceria de mais de 40 anos entre o projeto Tamar, que realiza trabalho de preservação de tartarugas marinhas, e a Petrobrás. Confira como foi o papo:

A importância da Petrobrás para o Brasil

Faixa Livre – Vinícius, em meio a tantas notícias ruins relacionadas ao nosso país nos últimos tempos, tanto desmonte promovido pelo governo Bolsonaro, temos uma importante data para o povo brasileiro, a soberania nacional, que são esses 68 anos da Petrobrás, que foram celebrados no último domingo, dia 3. São quase 7 décadas de um dos maiores patrimônios do nosso país, algo que vai além da empresa em si, representa a história de um Brasil forte, independente, soberano, mas que vem sendo atacado nos últimos anos por seguidas gestões que entregam a nossa estatal ao capital estrangeiro. O que representa a Petrobrás para uma nação que busca se colocar entre as maiores potências mundiais, autossuficiente na produção de energia? Qual é a importância da estatal para o nosso país?

VC – Independência energética e autossuficiência são condições para o desenvolvimento independente e soberano. Significa um maior potencial industrial, desenvolvimento tecnológico, maior potencial de emprego e renda para a população. Maior qualidade destes postos de trabalho.

Então temos de forma clara a importância da Petrobrás cumprindo esse papel no país, também pelo seu peso na economia nacional. Um exemplo disso é o Produto interno Bruto (PIB) do estado do Rio de Janeiro que é representado em 30% pela Petrobrás. No PIB nacional, esse dado já chegou a 13%. A cada real investido pela empresa temos adicionados mais R$ 3 à economia do Brasil. Daí a Petrobrás tem um papel fundamental na garantia de independência energética pela própria produção da empresa, bem como tudo que dela deriva.

Para termos a ideia de quão é importante e o peso que tem a Petrobrás, seus investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento, nos próprios negócios, são maiores que os investimentos feitos pelo CNPQ em todos os campos de pesquisa.

Esse é o papel que a Petrobrás cumpre de indutora do desenvolvimento nacional, e de base para que tenhamos, também, esse maior potencial industrial realizado. Sabemos que com maior disponibilidade de energia teremos uma maior vinculação aos índices de qualidade de vida da população, bem como a essa capacidade industrial. Até agora só tivemos governos de subserviência que nunca implementaram de fato uma política de desenvolvimento independente e soberana, afim de garantir à nossa população a apropriação das riquezas criadas a partir de investimentos públicos e dos centros de pesquisas públicos, sejam das estatais ou das universidades, que garantiram também, ao longo desses 68 anos da Petrobrás, o seu desenvolvimento, permitindo que ela alcançasse essa pujança atual , e por ela ser premiada internacionalmente por sua capacidade e competência técnica na exploração das águas profundas e ultra-profundas. Por tudo isso, o papel da Petrobrás é muito importante.

O que faz o Sindipetro-RJ e a Campanha da Solidariedade

Faixa Livre – Justamente para comemorar o aniversário da Petrobras, vocês do Sindipetro realizaram atos na sexta-feira (01/10)em frente ao Centro Empresarial Senado Petrobrás, o EDISEN, e também no CENPES, com o objetivo de conscientizar a população e os próprios petroleiros sobre os malefícios da privatização da estatal, sobre o retorno ao trabalho presencial e também sobre esse aumento do preço do gás de cozinha e da gasolina, que impacta diretamente a população mais pobre. Como é que foram esses atos, eles atingiram os objetivos que vocês esperavam?

VC – Nós programamos esses atos para marcar uma posição, seja pelo aniversário da Petrobrás, que ocorreu no domingo (03/10), seja pelo retorno de parcela dos trabalhadores ao trabalho presencial, mesmo sem haver um motivo lógico e necessário para esse retorno porque as pessoas estão trabalhando em teletrabalho, cumprindo o que é considerado como “entregável”, sem necessidade de às expor ao transporte público e a toda possibilidade, potencial de contaminação, adoecimento e morte que existe na pandemia que estamos vivendo, mesmo com a melhora dos índices que temos neste momento, inclusive no Rio de Janeiro. Mas do ponto de vista dos trabalhadores, em sua grande maioria, estão rechaçando essa postura e a política negacionista da direção da Petrobrás. Então fizemos esses atos para marcar essa posição, em frente ao edifício Senado que é um prédio sem janelas, fechado, com ar-condicionado central, com grande potencial de contaminação a partir deste sistema de refrigeração do ambiente de trabalho.

Até essa luta, que temos feito em relação a garantia do teletrabalho em pandemia e a melhoria das condições para o trabalho presencial, como também do teletrabalho, já vem desde o início da pandemia. Nós (Sindipetro-RJ) conseguimos decisões liminares favoráveis, derrotando a Petrobrás nas suas políticas, bem como em relação a esse retorno que nós exigíamos uma negociação, e a Petrobrás não o fez. E por força de decisão judicial a direção da empresa teve que modificar o planejamento, e diante desta decisão ficou proibido o retorno de pessoas de grupo de risco, com deficiência, sem ciclo vacinal completo, independente de decisão gerencial. A partir desta mesma decisão judicial a Petrobrás ficou obrigada a implementar o modelo híbrido de até dois dias de trabalho presencial, sendo que a direção queria colocar mais, e teve que oferecer máscaras de proteção individual. Então muitas das coisas que estávamos em batalha com a gestão da Petrobrás, a decisão judicial honrou os trabalhadores, limitando assim os planos da direção da empresa que agora tem que assumir algumas responsabilidades neste momento pelo retorno.

Esperamos que não venha a assumir maiores responsabilidades, que não haja adoecimentos e mortes de companheiros por essa decisão política da direção da Petrobrás. Os atos que fizemos no EDISEN e no CENPES incluíram a campanha Solidariedade Petroleira, que o Sindipetro-RJ tem feito junto a comunidades carentes no Rio de Janeiro, tanto na questão da distribuição subsidiada de gás de cozinha, bem como de cestas básicas.

O Sindicato acredita que esta política é bastante vitoriosa do ponto de vista da aproximação do Sindipetro com as comunidades, e de que há possibilidade de derrotar a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) para que hajam preços justos dos combustíveis e no gás de cozinha. Então, acreditamos e já viemos combatendo as políticas do governo e denunciando essas políticas, tanto a partir do programa de Solidariedade Petroleira, quanto nas ações que temos feito no âmbito da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), nacionalmente, em que participamos do Dia Nacional do Gás com o mesmo tipo de campanha, subsidiando a distribuição de botijões de gás de cozinha, denunciando a PPI que é uma alavanca dos preços altos e da privatização da Petrobrás.

Aproveitando a deixa, eu coloco aqui também a necessidade de que a sociedade nos ajude a financiar essa campanha Solidariedade Petroleira para que façamos essa denúncia em relação a esses preços altos, e também para prover cestas básicas para as comunidades carentes neste momento de pandemia e de alto desemprego.

Estamos pagando pela variação do dólar e do petróleo internacional, adicionado das taxas e dos custos de importação, como se estas últimas houvessem, e simplesmente não existem. Mas é essa é a definição de preço que o governo federal de Bolsonaro e Temer colocaram anteriormente como definição e posição contra a Petrobrás e a população do país. Daí solicitamos doações para prover cestas básicas e ajuda às comunidades que precisam de apoio para comprar gás de cozinha mais barato.

Para fortalecer essa campanha petroleira de denúncia dessa política de paridade de importação que coloca um preço fake contra os brasileiros, considerando como se os nossos combustíveis fossem todos importados e não produzidos no Brasil, consumidos por brasileiros que ganham em real, e por boa parte da produção que tem custo em real, solicitamos doação financeira no PIX solidariedade@sindipetro.org.br

Militares e seus esquemas

Faixa Livre – Do ponto de vista dos interesses do país, esse ataque à Petrobras implementado pelo Governo Federal é algo absolutamente criminoso. Aliás, atualmente o presidente da estatal é um militar, o general Silva e Luna, e a turma das Forças Armadas vivia se dizendo nacionalista. Dá para entender por que essa mudança de rumo dos militares, anuindo a essa estratégia entreguista e, principalmente, os motivos pelos quais há essa privatização fracionada da nossa maior empresa? Nós já debatemos esse tema há tempos aqui no programa, mas parece que, a cada dia, fica mais difícil entender.

VC – O papel histórico dos militares, até mesmo dentro da Petrobrás, é de entreguismo e corrupção. O papel que eles cumpriram, por exemplo, quando da implantação dos polos petroquímicos de Camaçari, na Bahia, instituíram as parcerias públicas privadas (PPP), com capital nacional e internacional, e utilizando toda a competência técnica das nossas universidades e das nossas estatais. E entregando de fato boa parte do controle dos complexos petroquímicos do país na mão dos empreiteiros e dos grupos privados, como foi dito pelo Emílio Odebrecht em seus depoimentos para a Lava Jato e entrevistas. Então, eles instituíram boa parte dessas empreiteiras no rastro da ditadura militar, em que cresceram com muita corrupção. Depois vimos culminar a entrega do setor petroquímico a essas mesmas empresas que foram convidadas a participar dessas parcerias entre aspas , em que o Estado financiava tudo, correndo o risco, e depois do negócio estabelecido, no desenvolvimento dos governos Sarney e Collor, tomaram os negócios da própria Petrobrás, o controle dessas empresas.

O papel que os militares cumprem é esse: de destruição e entrega do patrimônio nacional. E agora observamos que mais de 6 mil militares ocupam cargos nos vários campos do governo, destruindo a Saúde, como aconteceu no caso do atraso e compra de vacinas para COVID-19, o que resultou em milhares de mortes. Se tivéssemos uma gestão no nível médio que houve em outros países, a informação é que teríamos menos 400 mil mortes. Então existe uma responsabilidade do governo e da gestão militar sobre o falecimento de pelo menos 400 mil pessoas na pandemia Não há limite para esse pessoal, e nem existe patriotismo da parte deles. Estão atrás do dinheiro, como podemos ver o general Luna e Silva, presidente da Petrobrás , ganhando R$ 260 mil. Anteriormente tinha o antecessor, Roberto Castello Branco, definindo essa política de premiação da própria alta gerência. Então esse é o governo da “boquinha” e se constata a partir do que ocorreu no Ministério da Saúde toda a corrupção que eles têm promovido. Nós esperamos que apareçam outras mais, já vimos essa vinculada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, com dinheiro em offshore e o presidente do Banco Central também com conta em paraíso fiscal, mostrando o claro conflito de interesse.

Leilões, um jogo de cartas marcadas

Faixa Livre – Um desses ataques à Petrobras, e que agora preocupa até mesmo ambientalistas, fica caracterizado por esse leilão de exploração de petróleo (realizado em 07/10), em área próxima do arquipélago de Fernando de Noronha, uma zona de proteção ambiental importante para o Brasil. A Agência Nacional de Petróleo oferece ao mercado 92 áreas para exploração de petróleo e gás. Quatorze desses blocos estariam em uma região descrita pelos estudiosos como um oásis de vida no Oceano Atlântico. O que é que vocês do Sindipetro-RJ pensam a respeito de mais esse leilão de blocos de exploração de petróleo e gás no país, o que ele representa, ainda mais nessa região próxima a Fernando de Noronha?

VC – É bastante sintomático somente nove empresas se inscreverem nesse leilão, em que só poderiam dar lances para áreas em que já tivessem pago taxa de participação e feito um aporte da respectiva garantia. Concorrência nesse leilão… nem pensar. Ainda em relação a esses leilões temos dito que eles têm sido realizados, ao longo deste último período, por governos de corrupção. Não chancelamos nenhum resultado, todos esses últimos governos estão enrolados em propinas e vinculados a negócios internacionais nada republicanos. E assistimos cada vez mais se comprovar essas más relações, ao longo da história. É só procurar e ter uma investigação que se consegue um liame de causa e efeito dessa corrupção aprofundada, seja da continuidade dos leilões ou do aprofundamento dos mesmos, e ainda de leilões que de fato não concretizam qualquer concorrência. Daí, o nome leilão não cabe nem ao que está ocorrendo no Brasil, porque volta e meia só existe um lance para cada campo ofertado. E aí observamos que existe uma pré-coordenação entre as empresas ou uma estratégia definida entre elas de falar: “não vamos concorrer aqui, e vamos dar o preço mínimo para os negócios e os campos que estão sendo colocados à venda”.

Quanto à questão ambiental, nós temos que tomar bastante cuidado. Nós já vimos a Chevron, uma das inscritas nesta rodada, na Bacia de Campos, causar um dano ambiental gigantesco, com a agência reguladora (ANP) cobrando uma multa que não chega a R$ 1 bilhão, com um valor de somente R$ 50 milhões, montante considerado irrisório pelo tamanho do estrago causado ao meio ambiente. Ficou claro no episódio, a Chevron não se dedicou a seguir as normas de segurança ambientais, e, por exemplo, a Petrobrás, estatal, se obriga a fazer. Diante disso, existe um risco bastante importante a ser considerado neste sentido que nem a legislação brasileira está preparada para, havendo um acidente ambiental, definir uma multa correspondente ao dano que essa empresa cometeu. E se ainda, próxima a uma “peróla” como ao arquipélago de Fernando de Noronha, ou mesmo o parque das Baleias, e toda essa região, precisamos tomar mais cuidados. Se algum campo desses for vendido para alguma empresa privada sabemos o risco que está colocado também a essas áreas que sofrerão um grande impacto ambiental se houver um acidente de derramamento de óleo na região. Nós combatemos todo esse entreguismo, seja dos leilões, desde de sempre, seja das parcerias público privadas da ditadura militar, que culminou com a tomada do setor petroquímico por grupos privados e de corrupção, nas eras de Sarney e Collor, que engendraram o clientelismo com os usineiros; seja contra o marco da quebra do monopólio do petróleo e venda de ações da Petrobrás por FHC; seja o atual modelo competitivo de leilões do Pré-Sal de Lula, ou o próprio leilão do Campo de Libra, de Dilma, tendo um dos vencedores a Shell; sejam os muitos leilões do Pré-Sal de Temer; seja agora o aprofundamento e aceleração no desmantelamento da Petrobrás como empresa integrada de energia no governo Bolsonaro, bem como os leilões de petróleo que ele segue a fazer.

A luta da FNP contra desmonte e a privatização do sistema Petrobrás

Faixa Livre – E vocês da FNP entraram com algum tipo de ação na tentativa de interromper mais esse crime contra a nossa soberania e também contra o nosso meio ambiente que esse leilão representa?

VC – As experiências anteriores se demonstraram infrutíferas no campo jurídico. É importante que também se faça essa disputa, mas também é importante que se avalie que as reiteradas decisões podem vir a consolidar contra o movimento em apoio aos saques dos leilões. A FNP tem ações contra o plano de privatização e desinvestimento da Petrobrás, conquistando liminares que fizeram atrasar o plano de privatização desde o governo Temer, e tem questões bastante simbólicas denunciadas nessas ações que achamos que darão frutos no futuro. Porque, por exemplo, a venda da NTS (empresa de gasodutos e oleodutos) é bastante escandalosa, do ponto de vista econômico-financeiro, em que a Petrobrás recebeu pela venda o que vai pagar de aluguel de quatro a seis anos. Então existem alguns negócios mais do que de “pai para Filho” que foram feitos dentro desse programa de privatizações e desinvestimentos. E a avaliação feita é que a venda de alguns negócios se dá a preço vil, em lesão ao patrimônio da Petrobrás, e isso está em debate e avaliação do judiciário, evoluindo nas várias instâncias para ser julgado. Temos esses embates, mas também avaliamos as batalhas que nós podemos consolidar e vencer, e aquelas que podem estar consolidando posições contrárias ao conjunto do movimento e aos interesses do povo brasileiro. E tomamos esses cuidados também na hora de fazer a batalha no campo jurídico.

A falsa bandeira do ICMS

Faixa Livre – Um dos temas mais em voga no país nesse momento é essa discussão em torno dos constantes aumentos de preço dos combustíveis provocada, obviamente, por essa política deletéria adotada pela direção da Petrobrás, de paridade de importação, em um país autossuficiente na produção dos insumos, enfim. O Jair Bolsonaro e sua turma insistem em colocar a culpa desses reajustes nos impostos estaduais, em especial no ICMS. O próprio presidente da Câmara Arthur Lira, bolsonarista de carteirinha, defendeu essa ideia absurda, tanto que ele propôs na última terça que o cálculo do tributo a partir de agora seja feito com base no valor dos últimos dois anos, o que, segundo o deputado, reduziria o ICMS em 8%. Como é que você observa essa proposta do Arthur Lira para tentar reduzir o preço dos combustíveis?

É preciso de fato esclarecer uma questão, a alíquota do ICMS ao longo desses últimos 10, 20 anos pouco variou. Nestes últimos cinco anos nada variou. Não é a alíquota do ICMS que explica a inflação dos preços dos combustíveis, são outras questões que explicam isso. Sabemos que é a política de preços de paridade de importação, definida ainda no governo Temer.

É importante também lembrar à população, de forma geral, que não existem impostos só depois das refinarias, na área de distribuição. Existem impostos anteriores na cadeia de produção, desde as plataformas , passando pelos terminais de distribuição, nos custos de navios, até as refinarias. Estes impostos o governo Bolsonaro tem escondido da população, porque ele fala que só os governadores cobram impostos e que teriam que diminuir o ICMS, mas o próprio governo Bolsonaro, só neste primeiro semestre de 2021 recebeu diretamente da Petrobrás R$ 37,6 bilhões em tributos. Foram R$ 14,3 bilhões em impostos federais e mais R$ 23,3 bilhões em participações especiais, diretamente transferidos aos bolsos da União, para gestão do Sr. Bolsonaro.

Enquanto para os 5.570 municípios e mais 27 estados foram transferidos neste período R$ 39 bilhões. Então, é importante que as pessoas entendam que estão promovendo uma briga entre eles (governo) para esconder as suas responsabilidades. E Bolsonaro tem duas: ele recebe impostos da própria Petrobrás, e ainda define uma política de paridade de importação, obrigando a Petrobrás a colocar preços como se os nossos combustíveis não fossem produzidos aqui no Brasil, mas importados, sofrendo as variações da precificação do petróleo internacional, bem como do câmbio, e ainda incidindo os custos contra os nossos combustíveis como se fossem importados. Custos de navios, taxas alfandegárias, taxas de internalização no Brasil, considerando os terminais nos nossos portos e para quais cidades eles bombeiam esse combustível para as refinarias por todo o país, colocando esses custos fictícios nos preços definidos contra a população. E eles fizeram isso a partir de legislação, criando uma lei para lesar a população e beneficiar os investidores da Petrobrás, em grande parte internacionais.

Ainda, o governo Bolsonaro é proprietário de 1/3 das ações da Petrobrás, possuindo as ações majoritárias de controle, mas quando você vê o total das ações, ele ainda recebe diretamente da Petrobrás em lucros e dividendos, a partir desse 1/3 de ações. Aí ele esconde esses impostos que recebe na cadeia produtiva, anterior da refinaria, desde as plataformas e campos em terra, escondendo também os lucros por ser acionista majoritário, e promove um falso debate com os governadores de que o responsável é o ICMS, enquanto ele, governo Bolsonaro, pela política de paridade de importação, que permanece porque ele quer, obriga a Petrobrás a aumentar os preços da refinaria que é o preço base que incide ICMS, PIS, COFINS, e os demais impostos.

Nós estamos vendo essa mentirada do governo Bolsonaro, e uma omissão por parte dos governadores. Porque de fato também os governadores, com essa política, começaram a ganhar mais impostos incidentes sobre os combustíveis. E também, as empresas do setor, que foram privatizadas, e as outras que eram concorrentes da Petrobrás, têm aumentado os seus lucros, pois não diminuíram o padrão e a margem de resultados que tinham anteriormente. Elas embarcam na onda da PPI , que se definem preços a partir da refinaria, ganhando com os múltiplos a partir disso, e quem perde são os consumidores e o povo brasileiro de forma geral com essa política que é um ataque à economia popular. Sendo isso, mais um benefício para os investidores internacionais da Petrobrás.

Houve uma evolução dessa politica (PPI) dentro da Petrobrás contra o povo brasileiro. No Plano de Negócios de 2013/2017, ainda no governo Dilma, sob a gestão de Graça Foster, se definiu a política de paridade internacional de preços. E se comemorou o reajuste de preços de diesel e gasolina rumo a essa paridade internacional, vinculação com o mercado externo, à variação dos preços do petróleo na bolsa de valores do exterior. Depois, no governo Temer, surgiu a política de paridade de importação, definindo isso que é uma lesão brutal às possibilidades da Petrobrás poder concorrer no mercado nacional, a partir da sua competência.

A Petrobrás, ao longo do último período, em muito reduziu os custos de produção do Pré-Sal. Ao invés da população brasileira estar se beneficiando dessa redução de custos bastante significativa, quem ganha são os acionistas internacionais e os governos que estão manipulando esses orçamentos que saíram da Petrobrás, todo esse dinheiro que tem saído dos cofres da empresa para pagamentos de impostos, seja quando vai diretamente para o Bolsonaro, seja a grana que sai para os governadores e municípios. Nessa briga entre Bolsonaro, governadores e as empresas do setor, nós temos que estar contra a política de paridade de importação que sangra a população, sendo uma alavanca para a privatização. Porque garante um privilégio ao investidor internacional, garantindo rentabilidade em moeda forte, dólar e euro, e ainda vinculada a essa variação internacional, se comprar um ativo da Petrobrás. Isso quer dizer que a população brasileira financia o lucro e o risco destes investidores que são bilionários internacionais e das grandes empresas que estão vindo tomar os negócios da Petrobrás que estão sendo privatizados ao longo destes últimos anos.

“É necessário derrotar essa política imposta pelo governo Bolsonaro”

Faixa Livre – É possível reduzir com responsabilidade o preço dos combustíveis sem mexer nessa política adotada pela Petrobrás?

VC – Não, é necessário derrotar essa política imposta pelo governo Bolsonaro, tanto para redução do preço dos combustíveis, quanto para cessar e reverter a privatização que tem criado monopólios e oligopólios privados, que acabam por operar como cartéis contra a população. Isso já é o que estamos vendo no mercado de gás de cozinha que só quatro empresas concentram 92% do mercado, e desde a privatização da Liquigás só temos visto subir o preço do botijão. Ainda na questão da distribuição, a privatização da BR Distribuidora, agora chamada de Vibra Energia, e desde de sua venda os preços dos combustíveis só cresceram. Ninguém viu aumentar qualquer concorrência e a redução do preço que foi prometida pelo Paulo Guedes.

Subsídios para preços do gás de cozinha

Faixa Livre – A Petrobrás anunciou também que vai destinar R$ 300 milhões para subsidiar o preço do gás de cozinha por 15 meses para uma parcela da população do nosso país, que em muitas cidades já paga mais de R$ 100 por um botijão, muita gente voltou a cozinhar a lenha por não conseguir pagar esse valor, já houve até um caso de uma mulher que morreu queimada após utilizar álcool para cozinhar, uma tragédia absurda. Vocês do Sindipetro consideram esse subsídio que a estatal estuda oferecer como a solução para o aumento exorbitante do gás de cozinha?

VC – Primeiro nós “comemoramos” que a diretoria, que a direção militar da Petrobrás, reconheceu que “mete a faca” no peito da população, e toma recursos alimentares dos mais pobres, quando anuncia este programa de subsídios. Segundo, esse programa, considerando os números da Petrobrás, que apresentou um lucro de R$ 40 milhões no primeiro semestre de 2021, e no mesmo período com R$ 72 bilhões em impostos entregues aos governos (federal, estaduais e municípios), dobrando esses números para um ano, são R$ 222 bilhões de resultados à acionistas e governos. E agora eles querem oferecer R$ 300 milhões , a parte dos consumidores, e somente parte dos consumidores, daqueles que estão tirando o dinheiro do de comer da condição alimentar dessas pessoas. Isso é um projeto “para inglês ver” para fazer propaganda, dizendo que está subsidiando o gás de cozinha para parte da população, mas que não resolve o problema que criaram com a PPI de conjunto contra a economia brasileira e toda a carestia que está colocada.

Faixa Livre – Agora em meados de setembro, nós tomamos conhecimento de uma notícia preocupante. O projeto Tamar, que há décadas realiza um trabalho exemplar na preservação das tartarugas marinhas, reconhecido mundialmente, rompeu essa parceria de mais de 40 anos com a Petrobrás.O fato surpreendeu muita gente, especialmente nesse momento de desmonte implementado pelo governo Bolsonaro. O Sindipetro-RJ sabe os motivos pelos quais essa longa e vitoriosa parceria entre a Petrobrás e o Projeto Tamar foi encerrada?

VC – Ainda não, ao que parece, a gestão militar exigiu algo que o projeto Tamar preferiu abrir mão dos recursos da Petrobrás e tocar o projeto a partir de recursos próprios, com arrecadação e parcerias com outras instituições. Só falta a Shell e a Ipiranga , ou a Vibra Energia, assumirem esse emblemático patrocínio no lugar da Petrobrás. Como os negócios da Petrobrás já estão “bem” investidos, já tem uma marca bastante forte como o Tamar, agora fica fácil se vincular a ela. É o mesmo esquema da privatização, é muito fácil, depois de implementados os grandes negócios da Petrobrás, vir comprar esses negócios para só tocar , sem fazer qualquer tipo de investimento novo na economia brasileira. As questões de patrocínio, sejam culturais, sociais e esportivas que a Petrobrás financiava foram todas jogadas por terra no governo Bolsonaro, e a gente sabe o quanto foram importantes os investimentos da Petrobrás em qualquer área para o bem do Brasil.

 

Links da Entrevista🎙️

📻
http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/petrobras-tem-papel-de-induzir-o-crescimento-nacional-diz-camargo/

🔊
https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-07-10-2021_3-vinicius?utm_source=clipboard&utm_campaign=wtshare&utm_medium=widget&utm_content=https%253A%252F%252Fsoundcloud.com%252Fprogramafaixalivre%252Ffl-07-10-2021_3-vinicius

🎥
https://youtu.be/pNSjqgp0DuQ&t=45m34s

Destaques

Campanha de Solidariedade

Está aberta uma conta digital (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-a-heroina-que-estancou-sangue-de-vimitima-em-sequestro) para ajudar Patrícia Rodrigues, mãe de três filhos, que perdeu quase tudo em recente enchente no Rio de Janeiro.

Saiba Mais »