Estatais e suas direções militarizadas

Militares que hoje formam a principal base de apoio do combalido governo Bolsonaro jogam a malfadada meritocracia neoliberal no lixo, enchem seus bolsos enquanto promovem o saque com as privatizações

Levantamento feito pelo jornal Metrópolis mostra que militares no Brasil já comandam 16 empresas estatais, das 46 existentes. Isso de fato comprova como o governo Bolsonaro se pendura nos braços militares para garantir seu projeto de governabilidade, fazendo jus ao lema do exército brasileiro que adota o “braço forte, mão amiga”. As empresas estatais no Brasil em 2020 movimentaram um orçamento que ultrapassou os R$ 120 bilhões.

A engorda de altos salários com prêmios pela entrega de estatais

A questão que precisa ser colocada em debate, além desta militarização excessiva, é que esses militares ocupam cargos chaves nestas empresas em pleno processo de desestatização, que dilapida o patrimônio do Brasil e entrega recursos que, em tese, seriam estratégicos como o setor elétrico, pesquisa nuclear, hidrocarbonetos, saúde, logística, infraestrutura aeroportuária, entre outros. Uma contradição já que os próprios militares consideravam toda essa estrutura inegociável em tempos passados. É importante lembrar que a maioria destas estatais em processo de desmonte e privatização, como, por exemplo, a Petrobrás, adotam a bonificação de seus gestores a cada ativo privatizado, através do Programa de Prêmio e Performance (PPP), também apelidado como “Programa de Propina por Privatização”, o que faz engordar os seus próprios salários. Isso certamente justifica o interesse e a ocupação dessas empresas pelo pessoal da caserna, conforme pode ser visto na tabela abaixo de salários.

Reprodução Metrópoles

 

E por falar em Petrobrás, com a gestão do general Joaquim Silva e Luna, a empresa segue o mesmo roteiro de outras estatais como o Correios (coronel Floriano Peixoto Vieira Neto), Ceagesp (coronel PM Ricardo de Mello Araújo), Finep (general Waldemar Barroso, Infraero (tenente-brigadeiro Hélio de Barros Júnior ) e Itaipu ( general João Francisco Ferreira, que substituiu Silva e Luna). O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o contra-almirante Antônio Barra Torres.

Na Petrobrás, o “Clube da Peteca” volta com pompa como na ditadura

Aliás, Luna não desembarcou sozinho na Petrobrás. Junto veio a turma que atuou com ele em Itaipu, como o atual chefe de Gabinete da Presidência da Petrobrás (GAPRE), o general Jorge Ricardo Áureo Ferreira, tendo este sido assessor especial de Silva e Luna na Itaipu Binacional, o coronel Ricardo Pereira Bezerra, que também foi assessor do general Luna em Itaipu e o capitão Arceli Pedrozo de Oliveira, também assessor especial também em Itaipu.

Somados aos amigos de Luna, o GAPRE conta ainda com os serviços do “Major Cloroquina”, Angelo Denicoli, defensor do uso da cloroquina, que ocupava até junho último, um cargo executivo no Ministério da Saúde, nomeado pelo então ministro general Eduardo Pazuello, e com um outro militar que é amigo de Bolsonaro, o capitão reformado da Marinha, Carlos Victor Guerra Nagem, este o único concursado na empresa onde atua há mais de 13 anos. O “Capitão Victor” chegou a ser indicado, em 2019, para ocupar a Gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa, mas teve o nome rejeitado pelo Conselho de Administração, tendo como prêmio de consolação um cargo como assessor no GAPRE, ainda na gestão de Roberto Castello Branco.

Com isso, o GAPRE que apresenta 35 funcionários lotados, na gestão do General Silva e Luna possui um total até o momento identificado de cinco militares lotados sob suas ordens. Alguns sem que se saiba o que fazem na empresa, pois não possuem função especifica detalhada no sistema.

Ao falar em militares na Petrobrás, não há como não relembrar o período da ditadura (1964/1985). Desde 1988, no governo Sarney, não havia um militar no comando da companhia — o último foi o coronel Ozires Silva, que tempos depois se abrigou na Embraer.

Em 1973, com a crise do petróleo, a empresa passou por uma reorganização a partir de 1973, que se consolidou no governo de Ernesto Geisel. A estrutura só deixou de existir nas mãos dos militares durante o governo FHC, a partir de 1994.

Segundo um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), o número de militares ativos e na reserva que ocupam cargos no governo chega atualmente a 6.157. Em 2016 esse número chegava a 2.957. Ou seja, ocorreu um acréscimo de mais de 100% no governo Bolsonaro,quando comparado os dois períodos.

Confira a tabela abaixo fornecida nos foi encaminhada pelo TCU

 

“La dolce vita” do general Luna em Itaipu

Quando foi presidente na Itaipu Binacional, entre os anos de 2019 e 2020, nomeado pelo então recém-empossado Jair Bolsonaro, o general Joaquim Silva e Luna e assessores que hoje com ele ocupam cargos em seu gabinete na presidência da Petrobrás receberam indenizações a título de direitos retirados dos trabalhadores, sob alegação de retirada de “expectativa de futuro” quando ocupavam cargos de forma passageira, sem perspectiva de carreira na empresa. Luna no total recebeu algo em torno de R$ 370 mil, por apenas dois anos a frente de Itaipu.

No ano de 2019, a Itaipu conforme acordo coletivo celebrado com seus empregados se comprometeu a pagar uma indenização por redução de direitos como auxílio-funeral e reajuste automático do vale-alimentação, não incorporável ao salário, correspondente a 2,8 salários. O acordo também restringiu acesso ao seguro de vida para trabalhadores que vinham a se aposentar por invalidez. Neste primeiro ano, os militares que hoje acompanham Luna na Petrobrás embolsaram em média R$150 mil. Só o general Silva e Luna , segundo uma publicação da Folha de São Paulo, de 12 de janeiro de 2020, recebeu a bagatela de R$ 221,2 mil, sendo que o general tinham um salário de R$ 79 mil, ainda segundo a mesma matéria da Folha.

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