Para um observador mais atento, o CENPES hoje estaria mais para uma agência de fomento dotada de laboratórios prestadores de serviços, assistência técnica para os órgãos operacionais e alguma assistência técnica para o portfólio do que propriamente um Centro de Pesquisas. Este desmonte, entretanto, é uma realidade fácil de esconder. Poucas pessoas entendem de desenvolvimento de tecnologia própria, existe uma grande diferença entre Saber e Fazer e quem não sabe tampouco consegue planejar. Frequentemente nas conversas de corredor, a visibilidade desta crítica sofre ante o poder de coerção corporativo.
O fato é que a gestão não aceita desalinhados no seu “núcleo central”. Corrompe o sentido original dos Consultores e da carreira “Y”, tentando subjugar todos como seus “cargos de confiança”! Só aceita críticas que não ultrapassem o “cercadinho” do pensamento dominante. Não era assim no passado. O CENPES sempre foi questionador, e com isto os Consultores podiam efetivamente expressar seu conhecimento nas tomadas de decisão. A nossa valorosa amiga e antiga integrante deste Sindipetro, Carla Marinho, perdeu a consultoria por ter um pensamento independente e desalinhado da gestão.
A uma técnica de laboratório que ousou criticar o modelo, o gerente de cima do palco responde que é preciso “desapegar” desse passado “ineficiente”, que a culpa é de quem não consegue se adaptar à modernização do modelo. Acontece que existe o moderno certo e o moderno errado! A atitude deste gerente foi uma atitude muito comum atualmente no CENPES: o assédio intelectual contra a técnica questionadora. Justamente quem não está disposto a ouvir, de verdade, críticas sobre o cerne do problema, é que propagandeia a nova época do diálogo, que não pode servir de desculpa para distensionar o ambiente. Tanto é assim que a principal conclusão da “escuta ativa” foi melhorar a integração entre portfólio e os laboratórios. Ou seja, o modelo de gestão permanece inalterado e errado, e o desmonte do CENPES continua.
Sarau de poesias, corrida entre laboratórios e portfólios, integração dos filhos e outras atividades, se são importantes e bem-vindas, por um lado, não tornam o CENPES o melhor local de trabalho nem a Disneylândia do Pesquisador e, por outro, não desenvolve seu sentido de existir. Afinal, quem é a figura do pesquisador atualmente no CENPES, além dos burocratas que “brotam”? Está na hora de começarmos a reconhecer que o CENPES está repleto de burocratas, que muito da pesquisa é feita por um contratado externo ou um terceirizado.
O fato é que, quem precisa tomar a iniciativa de desapegar de seus cargos, por não entender o que seja um Centro de Pesquisas, são os gerentes anti-ciência ao melhor estilo bolsonarista! “Não quero que você gaste seu tempo no laboratório, abra uma iniciativa de competitividade no SIGITEC; use uma das alternativas da “Conexão para Inovação” – para alguns gerentes de PDI, este é o mantra da modernidade.
Outra questão tem um cunho mais social, mas que possui relevância para nossa vida no CENPES
Como a atual gestão reflete sobre a influência da desnacionalização das pesquisas, realizadas preferencialmente com empresas forâneas, ou instituições de pesquisa não sediadas no país, tem sobre a pobreza que cerca o CENPES, e que nos obriga a viver cada vez mais dentro de uma gaiola fortificada, com medo de ter numerário nos caixas dos bancos, com medo de ser raptado na entrada do estacionamento do CENPES, com receio de tiroteios nos acessos, e outros tantos eventos conhecidos e recentes?
Bonsucesso já foi um bairro que sediava várias pequenas empresas, dentre elas empresas que trabalhavam para o CENPES. Passados 50 anos de CENPES, era de se esperar que o entorno da ilha do Fundão, da FIOCRUZ até o Galeão, tivesse se tornado um enclave de empresas de alta tecnologia de capital nacional, e não um enclave de pobreza e medo. E diga-se de passagem, sem repetir o erro da UFRJ, que criou um polo de tecnologia baseado em empresas forâneas, que por não terem raízes no país, logo fogem quando das oscilações negativas da economia, excetuando-se a FMC, que permanece por motivos que extrapolam esta análise.
Operação, Manutenção, Infraestrutura, Oficinas
Não adianta o “cliente” CENPES ficar justificando que já identificaram os problemas de manutenção dos equipamentos, desde os condicionadores de ar, até a Ressonância Nuclear Magnética ou a Microscopia Eletrônica de Varredura, mas que isso é com um provedor externo, seja empresas terceirizadas, seja o próprio Compartilhado. E tampouco o problema é só uma questão de ser bem ou mal atendido. Esta desvinculação dos serviços, operação, manutenção, oficinas, infraestrutura etc da gestão direta do CENPES é outra vertente do desmonte! Ajuda a afastar gestores e trabalhadores dos frutos do seu trabalho. Defendemos que o CENPES inove com o que já foi no passado com o SOP, por exemplo, que desenvolva um projeto piloto com uma gerência própria de coisas que hoje estão “verticalizadas”, como é o caso do Compartilhado.
Imagem Reunião dos dirigentes sindicais do CENPES