O coronavírus e os parasitas no descompasso governamental

Por precaução, a direção do Sindipetro-RJ resolveu não realizar a Assembleia programada para a segunda (16) que iria tratar do balanço da campanha e definição sobre fundo de greve

Como outras tantas entidades, o Sindipetro-RJ não pode ser irresponsável nessa hora de prevenção da saúde de todos contra o COVID-19, por isso a direção está avaliando a manutenção e o cancelamento de atividades agendadas. Mas, é de se repudiar um governo que vai a público, como fez na quinta (12) o presidente Bolsonaro em rede nacional, para um pronunciamento que pede para o povo rever a ida às manifestações, mas não suspende o trabalho dos congressistas e mantém o trâmite de medidas e reformas que irão afetar a população. Um pronunciamento que não anunciou ações concretas de combate à doença. Bolsonaro limitou-se a comentar que é momento de “união, serenidade e bom senso” e que “o povo está atento e exige de nós respeito à Constituição e zelo pelo dinheiro público”. Sabedores que somos da situação de desmonte que o Sistema Único de Saúde enfrenta por décadas, apesar de ser um modelo de excelência reconhecido e copiado por outros países, é de se avaliar a atuação deste governo como despreparado para a pandemia. De acordo com estudo da Comissão de Orçamento e Financiamento (Cofin) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), o prejuízo em relação ao SUS já chega a R$ 20 bilhões. Ao longo de duas décadas, os danos são estimados em R$ 400 bilhões a menos para os cofres públicos. Ainda na quinta (12), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) divulgou nota reivindicando a revogação imediata da Emenda Constitucional (EC) 95/2016, conhecida por Teto dos Gastos, que congelou por 20 anos investimentos públicos nas áreas sociais. O objetivo é obter mais recursos para enfrentar o avanço do COVID-19. “Senadores e deputados não podem permitir mais essa afronta à Constituição de 1988 e ao povo brasileiro, que vem sendo penalizado injustamente diante de tais medidas”, advertiram os membros do CNS, que representam todos os setores da sociedade brasileira. O Conselho classificou como “de extrema irresponsabilidade” a aprovação do Plano Mais Brasil, que retira ainda mais investimentos das políticas sociais.

Na sexta (13) ainda houve outro pronunciamento oficial, desta vez, através do porta-voz, Otávio Rêgo Barros, para apenas dizer que o presidente fez o teste e que o resultado foi negativo. E o povo? Será que os postos de saúde, as UPAs e os hospitais que já rejeitam pacientes em estado de emergência por não terem condições de prestar atendimento mínimo, estão preparados para o atendimento de um contingente de pessoas que pode vir a adoecer devido ao COVID-19?? Sabemos que não. O que Bolsonaro quis dizer com “ zelo pelo dinheiro”, parece não refletir a realidade do governo que ele tem comandado. Em 2019, por exemplo, dos R$ 9,07 milhões gastos nos cartões de pagamento do Planalto e da Presidência da República, 81,8% foram sigilosos ou não especificados. Na verdade, o Brasil não está preparado para uma epidemia, principalmente depois do total contingenciamento de verbas para a Saúde, Ciência e Pesquisa. As mortes por dengue, por exemplo, aumentaram cinco vezes em 2019, comparando-se com 2018, chegando a registrar o segundo maior número de mortes pela doença desde 1998, ano de início da série histórica.

As medidas adotadas de cancelamento de atividades em geral são providência importante, mas por outro lado ninguém fala sobre os trabalhadores. É preciso avaliar que os trabalhadores não podem continuar se deslocando devido ao serviço, enfrentando ônibus e trens lotados. E, se escolas e creches vão fechar as portas, com quem os pais vão deixar seus filhos? Pois, sem orientação, os trabalhadores não vão arriscar o emprego num país de 12 milhões de desempregados. O ponto de quem tiver que ficar com os filhos vai ser abonado ou haverá creches nos locais de trabalho? E o que farão os autônomos e subempregados que o governo canalhamente chama de “empreendedores”?

No Rio de Janeiro, tanto Crivella quanto Witzel mantêm seu comportamento inerte e políticas ineficazes. Um anunciou restrições à entrada e saída da cidade, enquanto o outro suspendeu as aulas nas escolas. Os governantes já deveriam, de forma preventiva, ter se organizado para este momento social, atuando à frente com iniciativas contundentes e de resultados para enfrentar o surto.

O Sindipetro-RJ vai seguir atento, na cobrança de medidas que atendam à classe trabalhadora.

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