Por Rosa Maria Corrêa
Em tempos de crise, fervem no fogão à lenha motivos para os trabalhadores irem à luta
Num cenário de aumento de miserabilidade, desemprego em massa, alimentos supercaros, botijão de gás a mais de R$ 100, litro de gasolina a mais de R$ 7, energia elétrica sobretaxada junto com tudo que é bandeira de luta dos movimentos sociais há décadas como Saúde e Educação públicas, de qualidade e gratuitas, a permanente luta dos trabalhadores por direitos, pela manutenção de conquistas e contra ações dos desgovernos se faz cada vez mais presente.
Empobrecimento, arrocho salarial e juros mais altos
Nesta sexta (22), a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) divulgou o boletim Salariômetro indicando que dois terços dos reajustes salariais negociados em acordos e em convenções coletivas ficaram abaixo da inflação de setembro. No setor de extração e refino de petróleo, o índice ficou negativo em 5,7%. A Fipe também divulga que essa renda média do trabalho no Brasil está diminuindo de forma acelerada, já é a menor desde 2017 e que o país registra recorde de 30 milhões de pessoas recebendo até um salário mínimo. Conheça o boletim: http://salariometro.fipe.org.br/sobre/boletim
No Sistema Petrobrás, a luta dos terceirizados tem sido para receber salários! Neste momento, duas greves de trabalhadores contratados pela Método estão pipocando: uma em Amazonas e outra em São Paulo.
Desde sábado (16), os terceirizados da Método na Província Petrolífera de Urucu estão em greve pelo pagamento dos salários atrasados há meses, quitação de rescisões, pagamento de férias, regularização do plano de saúde, pagamento dos encargos sociais, pagamento das cestas básicas reivindicando também nenhuma punição e pagamento dos dias parados. Assista trecho de ato postado pelo Sindipetro PA/AM/MA/AP: https://www.instagram.com/tv/CVQQo-cr7QQ/?utm_medium=copy_link
Em São Paulo, a greve está acontecendo na Refinaria Presidente Bernardes onde os terceirizados da Método não receberam seus pagamentos. Assista ao recado do Sindipetro-LP: https://www.youtube.com/watch?v=q3RKTcPECkY
No TABG, os terceirizados estão na luta junto com os trabalhadores próprios contra os gerentes autoritários que praticam assédio e punições frequentemente. Há ainda profunda precarização das condições de trabalho com a redução do efetivo. Os novos terceirizados ainda sofrem com corte em até 50% nos salários e a exclusão da família do plano de saúde. https://sindipetro.org.br/terceirizados-reducao-salarial-e-fim-plano-de-saude-para-dependentes/
Há ainda os desempregados que moram na Ilha do Governador e reivindicam empregos nos Terminais que se juntaram à luta. https://sindipetro.org.br/trancaconotabg1/
Na Refinaria de Duque de Caxias, durante os piores meses da pandemia em 2020 a Petrobrás expôs os terceirizados de forma desnecessária ao vírus. Depois, alegando corte de custos operacionais, atacou com demissões na renegociação de contratos. Neste mês, eles estão mobilizados em assembleias sobre as paradas de manutenção e novas contratações.
Contra a reforma administrativa
O relatório da CPI da Pandemia prova que está havendo inúmeras negociatas no desgoverno Bolsonaro, reforçando a luta dos servidores públicos federais contra a reforma administrativa (PEC 32) que vai abrir mais brechas para a passagem de ações corruptas ao se entregar serviços públicos para a iniciativa privada.
Em Brasília, os servidores acompanham de perto o processo da PEC no Congresso Nacional e a mobilização cresce a cada semana contra a movimentação de Arthur Lira com a compra de votos para aprovar a reforma.
Condições de trabalho
No Rio de Janeiro, os funcionários da Comlurb estão mobilizados por uma série de medidas como o retorno do maquinário de apoio ao trabalho e o cumprimento da distribuição de equipamentos de proteção individual (EPI). Nem mesmo a limpeza dos uniformes tem sido feita pela empresa, medida determinada desde 2015.
“Os trabalhadores têm adoecido por falta de maquinário e excesso de trabalho”, denunciou uma liderança durante transmissão ao vivo na internet. Houve passeata no Centro da cidade na quarta (20) e elas serão mantidas semanalmente.
Derrubar Projeto de Paes
No Rio de Janeiro, os servidores estão realizando greves pontuais, passeatas, atos e mobilizações na internet contra o Novo Regime Fiscal (PLC 4/2021) de Eduardo Paes. É um ataque aos salários, triênios, licenças, concursos públicos e progressões de carreira dos servidores; vai cortar os investimentos públicos, inviabilizando o funcionamento de escolas, hospitais e outros serviços essenciais. Da Educação, uma comissão em rodízio – formada por merendeiras, serventes, copeiras, agentes de portarias, secretários, professores e terceirizados – tem percorrido incansavelmente gabinetes de parlamentares na Câmara de Vereadores. https://www.seperj.org.br/votacao-do-plc-04-2021-sera-dia-5-10-neste-dia-a-rede-municipal-rj-esta-convocada-para-realizar-greve-de-24h-e-ato-as-13h-na-camara/
Salários abaixo do piso
Junto com toda a luta dos servidores públicos, os professores mantém erguida a bandeira de aumento salarial. Nos sites de empregos, a média salarial de um professor no Estado do Rio de Janeiro é de R$ 1.748,00. https://br.indeed.com/career/professor/salaries/Estado-do-Rio-de-Janeiro
Na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, estão mantidos salários abaixo do piso nacional estipulado pelo governo federal em 2020. Há mobilizações específicas dos educadores em creches e pré-escolas, porque apesar do piso de R$ 2.886,24, eles continuam a receber R$ 2.655,95. A Prefeitura alega restrições orçamentárias e o caso foi parar no Judiciário.
Luta por piso salarial
No setor da Saúde, a luta da Enfermagem é intensa. Com a pandemia, os profissionais foram expostos amplamente ao vírus sendo uma das mais importantes categorias na linha de frente de combate à COVID-19. Mas não são valorizados e até hoje não têm sequer um piso salarial definido. Neste momento, a categoria está mobilizada em defesa do Projeto de Lei do Piso que está no Senado para ser votado. Uma Frente Parlamentar pressiona o presidente da casa para que a votação do PL 2564, de autoria de Fabiano Contarato (Rede-ES), entre na pauta o mais rápido possível. O Senado abriu consulta pública sobre o PL que institui piso salarial de R$ 7.315,00 para enfermeiros, R$ 5.120,00 para técnicos, e de R$ 3.657,00 para auxiliares de Enfermagem. Sua participação é muito importante. Clique aqui https://bit.ly/2WCejQ2 e vote SIM!
Pressão nas gigantes que exploram
Numa onda que começou em São José dos Campos em setembro passado e até agora já passou por sete cidades, entre elas Paulínia (SP), Maceió (AL) e Niterói (RJ), entregadores de aplicativos têm feito greves por aumento da taxa mínima por coleta – que hoje é de R$ 5,31; o fim de duas ou mais entregas por corrida e o fim das suspensões de conta feitas sem justificativa. O alvo principal é a maior rede de todas – o iFood. “Querem nos vencer pelo cansaço, mas a gente vai conseguir, porque não vamos ceder até o iFood se manifestar!”, disse um ativista em Atibaia (SP).
Acordo preso no TST
Com parte da categoria recebendo salários em torno de R$ 1.900, aguardando o desfecho do acordo coletivo que deveria ter ocorrido em agosto passado, os trabalhadores da ECT estão com a campanha salarial travada no TST. “A empresa adotou como prática recorrente submeter as “negociações” para o Tribunal, imediatamente após as reuniões teatrais frustradas com sua comissão patronal, sabidamente sem nenhum poder para negociar uma cláusula sequer.” critica Heitor Fernandes, secretário do Rio de Janeiro da Federação Nacional dos Trabalhadores nos Correios e da CSP Conlutas. Sobre o reajuste, a hierarquia na ECT fez inicialmente a proposta de zero porcento e implantação do banco de horas. A categoria rejeitou fortemente a proposta.
Na semana passada, o ministro relator apresentou seu voto acolhendo parcialmente a reivindicação dos trabalhadores, para reconvenção de todo o ACT anteriormente conquistado nas lutas e apresentou correção do salário e de benefícios pelo índice inflacionário de apenas 9,75%. Mas, o ministro bolsonarista Ives Gandra alegou falta de tempo e, mais uma vez, pediu vistas retardando o resultado do julgamento por mais um mês, uma vez que audiências no TST são mensais.
Quanto ao projeto que visa a privatização dos Correios, houve apenas duas audiências no Senado. A primeira com a representação dos trabalhadores e a segunda com representantes de instituições governamentais. Agora aguarda-se a convocação de outras audiências públicas, porque está sendo questionada a constitucionalidade do projeto. “A categoria segue mobilizada. Estamos promovendo atos permanentes cruzados com as manifestações “Fora, Bolsonaro!” e junto com os servidores contra a PEC 32 em aeroportos na chegada dos parlamentares”, informa Heitor Fernandes.
Protestos para deter Dória
Em mobilizações exemplares, os metroviários de São Paulo estão agora na luta contra mais uma medida descabida do governo Dória que anunciou o fechamento de bilheterias no Metrô. A categoria rapidamente protestou contra a medida que vai causar a demissão de mais de 800 trabalhadores. Uma semana antes, os metroviários também se mobilizaram distribuindo cartas para a população sobre o assunto. Com as demissões, Dória diz que o governo vai economizar R$ 100 milhões por ano.
Segundo o Sindicato, que nesta sexta (22) vai fazer ação de distribuição de adesivos para a população contra a extinção das bilheterias, “os únicos beneficiados com essa iniciativa serão os donos da empresa que controlará o uso do QR Code que hoje já é um problema para os passageiros”. http://www.metroviarios.org.br/site/sindicato-realiza-ato-contra-o-fechamento-das-bilheterias/
Greve nas rodovias
Desde quinta (21), os transportadores rodoviários de combustíveis, chamados de “tanqueiros”, fizeram paralisações pontuais em seis estados contra o preço do diesel que disparou nos últimos meses com as frequentes altas determinadas pela política do PPI adotada pela hierarquia da Petrobrás e mantida por Bolsonaro.
Já passou da hora de todos os brasileiros engrossarem esse caldo!