Mais um ativo da empresa, a preço de banana, é abocanhado por gente que não entende nada de petróleo
A Petrobrás informou, em 04/02, que concluiu o processo de venda da totalidade de sua participação em sete concessões do Polo Alagoas, ativos de Exploração e Produção (E&P), localizadas no estado de Alagoas, para a empresa Origem Energia. São seis campos terrestres e um em águas rasas.
A operação foi concluída com o pagamento de US$ 240 milhões para a Petrobrás. O valor recebido no fechamento se soma ao montante de US$ 60 milhões pagos à Petrobras na assinatura do contrato de venda, totalizando US$ 300 milhões, uma verdadeira pechincha com o patrimônio da empresa e do Brasil.
A Origem Energia é mais uma empresa controlada por um fundo de investimento, a gestora de fundos Prisma, que abocanha ativos da Petrobrás para extrair mais ganhos financeiros em detrimento da soberania energética do Brasil, o que se revela uma estratégia aplicada pelo governo de Bolsonaro e Paulo Guedes. Cabe lembrar que outro fundo de investimento, o Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes é o novo dono da antiga RLAM, na Bahia, agora rebatizada com o nome de Refinaria Mataripe.
O que ainda chama atenção neste caso é que, conforme informado no site do Fundo Prisma, a gestora informa gerir um patrimônio de R$ 1,34 bilhão, pertencente a 233 cotistas. Se formos converter o preço de venda do Polo Alagoas de US$ 300 milhões, com a cotação atual do dólar (R$ 5,20), teremos o valor aproximado de R$ 1,50 bilhão. Ou seja, a direção da Petrobrás vendeu um ativo com valor abaixo de mercado, e ainda fez o negócio com uma empresa que não tem garantia patrimonial que cubra o valor da compra.
A partir de 1940, quando ainda não existia a Petrobrás, e sim o Conselho Nacional de Petróleo, e com recursos públicos do povo brasileiro, foram iniciados no estado de Alagoas pesquisas geofísicas sobre a possível existência de reservas de petróleo e gás na região. Efetivamente esse processo já operado pela Petrobrás começou a ser realidade nos anos 1960, quando foi iniciada a produção no estado.
Entenda o valor da pechincha
“Esse valor de venda está muito abaixo do potencial de produção e geração de riqueza, de geração de emprego para o país, e principalmente, afetando o estado de Alagoas. Para termos ideia disso, de acordo com dados da ANP, temos que citar o Campo de Pilar, com uma estação de processamento de gás com capacidade de processar 2 milhões de m³ por dia, possuindo uma reserva total de 28 bilhões de m³. De 1982, quando entrou em operação, até 2015, o campo processou 9,6 bilhões de m³, mostrando assim o potencial existente. O preço do metro cúbico do gás no mercado internacional, hoje está na casa do US$ 0,15. Multiplique isso pelos bilhões de metros cúbicos de gás que poderão ser produzidos somente no campo de Pilar. Venderam as operações em Alagoas a preço de banana!” – denuncia Bruno Dantas, diretor do Sindipetro-RJ.
A direção da Petrobrás nos últimos anos vem sucateando a produção de Pilar. Em 2004, o campo processava 1,8 milhão m³ ao dia, e isso caiu em 2021 para 500 mil m³, isto é, a venda foi precedida por um desmonte que custou milhões de dólares mensais, resultado da queda da produção.
Ainda, no pacote de pechincha da Petrobrás, em Alagoas, estão incluídos outros seis campos de produção: Anambé, Arapaçu, Cidade de São Miguel dos Campos, Furado, Paru (águas rasas) e São Miguel dos Campos; a UPGN – Unidade de Processamento de Gás e o Sistema de escoamento com 156 km de gasodutos e 76 km de oleodutos.
A doação, assim como pode ser caracterizado esse negócio, em Alagoas, pelos privatistas que estão na Petrobrás, fica evidente quando verificamos qual o valor do preço do petróleo no mercado internacional, tendo já batido US$ 90. Tudo isso, deixa evidente a entrega de ativos estratégicos para uma necessária transição energética, além da perda dos empregos e do desenvolvimento regional daquele estado.
A luta e resistência dos trabalhadores
O que acontece hoje com a Petrobrás não ocorre sem a luta e resistência dos trabalhadores petroleiros. Em 2021, os trabalhadores da Petrobrás, em Alagoas, realizaram uma greve de 15 dias contra a venda dos sete campos, sendo que oficialmente a greve não foi suspensa pelos trabalhadores, pois a Justiça do Trabalho determinou que as unidades deveriam operar com um efetivo mínimo. Assim, os trabalhadores próprios voltaram ao trabalho, mas oficialmente a greve não foi suspensa. A direção da empresa chegou a obrigar os trabalhadores próprios da Petrobrás a realizarem a passagem de serviço para as empresas interessadas em adquirir esses campos, o que foi recusado.
Por uma Petrobrás 100% estatal
O Sindipetro-RJ tem denunciado o desmonte da Petrobrás a cada processo de desinvestimento que tem sido finalizado. Essa venda é mais um movimento do jogo de xadrez em que uma peça se moveu no jogo da privatização e do entreguismo do patrimônio brasileiro. Além do desinvestimento e privatizações, o governo de Bolsonaro e Paulo Guedes usa uma política de preços, a PPI – Preço de Paridade de Importação – que infla artificialmente os preços dos combustíveis no Brasil, com objetivos claros de beneficiar acionistas privados, que vivem do mercado financeiro, nacionais e estrangeiros, buscando uma maximização dos lucros e pagamentos de dividendos.
Esses ativos em mãos privadas também são usados para que essa exploração sobre os brasileiros aumente cada vez mais, como acontece neste momento com antiga RLAM, agora em mãos de um grupo internacional que está praticando preços de venda acima dos praticados pela Petrobrás, mostrando a grande mentira de que a privatização faria criar condições de redução nos preços dos combustíveis no país.
Pela soberania energética e política do Brasil, o Sindipetro-RJ se soma ao povo brasileiro e defende uma Petrobrás 100%, nas mãos dos trabalhadores, para evitar este tipo de situação em que a Petrobrás e o Brasil sofram nas mãos do cartel internacional do petróleo como está acontecendo agora neste momento.
Imagem Petrobrás