Patrões com sangue nas mãos

A chacina cometida pela polícia nesta quarta 6 de maio na favela do Jacarezinho é parte de uma rotina macabra com a qual o povo pobre, principalmente preto, é massacrado

Como cantam os Racionais MCs, o ser humano é descartável no Brasil, se for do povão. O contraste da forma como a polícia atua nas periferias e nos bairros dos ricos é gritante. Nunca um caveirão invadiu um condomínio da classe média, muito menos uma festa regada a cocaína e toda sorte de drogas promovida entre empresários, banqueiros e herdeiros controladores da grande indústria, do agronegócio etc.

O discurso ensinado, introjetado e reproduzido pelo comando da polícia, que, ecoado pela mídia dominante, se enraíza muito profundamente no senso comum, é de que agem como agem nas favelas porque tem bandidos lá, fortemente armados. Mas, entre outros aspectos, chama demais a atenção pelo menos o seguinte:

a) num espaço rico ou mesmo no asfalto em geral, a polícia não agiria assim no mesmo cenário (bandidos fortemente armados);

b) o alto comando do tráfico não fica nas favelas, mas em áreas ricas, e nem por isso seus integrantes são caçados como são os de baixa patente nas favelas;

c) é muito comum a polícia matar pessoas do povo sem qualquer envolvimento com o tráfico, inclusive muitas crianças;

d) para que serve a chamada inteligência da polícia se, em vez de desmontar quadrilhas, inclusive para conseguir mais informações sobre o chamado crime organizado, costuma executar bandidos, em vez de prendê-los?;

e) que polícia é essa que realiza operações que colocam em risco territórios inteiros e adjacências (como os feridos no metrô na ação de ontem (06/05), sem nenhuma delimitação concreta que proteja as famílias?;

f) que lição uma polícia que está intimamente relacionada com o crime que diz combater tem a dar à população?;

g) não é curioso uma ação desse tipo num local que a milícia ainda não conseguiu dominar?; e

h) ainda que a desigualdade seja insuficiente para explicar que trabalhadores se dediquem a atividades ilegais arriscadas, é uma peça-chave nessa explicação.

A polícia sempre foi moldada e utilizada como uma ferramenta dos grandes patrões para que o povo nunca se atreva a levantar a cabeça.

O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro se solidariza com os moradores do Jacarezinho e com todos os setores populares que têm sofrido com a polícia. O Sindicato tem ajudado moradores do Jacarezinho no contexto da campanha de Solidariedade que vem mantendo praticamente desde o início da pandemia. Temos feito doações de máscaras, de cestas básicas e subsidiado a compra de botijões de gás de cozinha em diversas favelas e outras regiões periféricas.

Temos testemunhado como a pandemia tem sido aproveitada pelos patrões para explorar ainda mais os trabalhadores, com o aumento do desemprego e da fome. E a maioria das vítimas do coronavírus são da classe média pra baixo, sendo grande parte pretas. Ou seja, é a organização elitista, racista e capitalista (principalmente, na lógica ultra-liberal em termos econômicos) da sociedade que causa essa desigualdade de contaminados e mortos também pelo coronavírus.

Na semana passada, o ministro da economia, Paulo Guedes, disse que está errado as pessoas quererem viver até 100 anos porque isso atrapalha a economia. A expectativa de vida dos pobres no Brasil está muito abaixo disso, o que já faz da fala do ministro um deboche. De modo mais amplo, essa fala revela a crueldade dele e do sistema que ele representa. Uma política econômica que se incomoda com a longevidade das pessoas é uma política econômica incompetente e de morte.

Isso tudo nada mais é que a mesma política de morte do povo pobre seja por COVID-19, pela fome ou pela matança mesmo. Exigiremos justiça e apuração de todos os responsáveis por seus crimes contra o povo. Especialmente dos mandantes políticos-executivos, seja o Governador sejam os altos comandos das polícias.

Imagem Agência de Notícias das Favelas  – ANF

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