Prisão de uma quadrilha que furtava combustíveis da Petrobrás é a ponta do iceberg que só cresce no desgoverno Bolsonaro

Chegam ao Sindicato denúncias sobre a crescente onda de furtos que atinge cada vez mais os oleodutos da Petrobrás

“BR Ratobras” é desmontada pelo MP

Na quarta (23/02), componentes de uma quadrilha que agia, pelo menos desde 2017, furtando petróleo cru e combustíveis de dutos operados pela Transpetro foram presos.

Agentes do Ministério Público (MP) e da Polícia Civil do Rio de Janeiro cumpriram mandados de prisão e busca e apreensão no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Pernambuco.

Geralmente, são aliciados por essas quadrilhas desempregados que possuem conhecimentos técnicos sobre os dutos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) projeta 14 milhões de pessoas sem emprego no País em 2022! Dos 15 acusados, apenas 8 foram encontrados e tiveram a prisão preventiva decretada. São proprietários de caminhões, motoristas, perfuradores de dutos e receptadores do combustível furtado.

Milícia, internet e ações noturnas

Imagem usada pela quadrilha no WhatsAPP: grupo planejava as ações pela internet

O problema de furto, causando vazamentos de combustíveis em dutos é crônico no Brasil. Essa quadrilha investigada pelo MP era ousada e muito organizada. Ela utilizava um grupo no WhatsApp, chamado de “BR Ratobras”, com a logo R.A.T.S. e imagem de ratos (um deles com um fuzil), para planejar os crimes que geralmente eram praticados em locais remotos e de noite. A relação de seus participantes com grupos de milicianos não está descartada.

No dia 14/02 passado, uma operação policial nas comunidades de Muzema, Tijuquinha e Rio das Pedras, reduto de milicianos no Rio de Janeiro, na zona Oeste, prendeu 24 pessoas acusadas de estarem envolvidas com inúmeros crimes incluindo o furto de combustíveis da Petrobrás.

A estrutura desmontada pelo Ministério Público, desta vez, revelou que dois empresários, que não foram encontrados na Operação de hoje, Magnojai Rizzari Recla e Robson Teixeira Alves Gusmão, chefiavam as ações, recebiam os combustíveis furtados no Espírito Santo em empresas nas quais eram sócios e financiavam as ações providenciando inclusive “batedores” à frente dos caminhões.

População é a mais afetada

O crime de furto de combustíveis é considerado de alta periculosidade social, porque causa prejuízos econômicos à Petrobrás, que já declarou ter perdas milionárias, atingindo indiretamente todos os brasileiros, além de provocar risco às pessoas e desastres ambientais de grandes proporções.

É fato que são os milicianos, comprovadamente apoiadores do governo Bolsonaro, que mantém depósitos clandestinos de gasolina e óleo diesel e costumam extorquir os pobres para obter lucros nas comunidades.

Após um dos episódios de furto na Baixada Fluminense em 2019, uma menina de 9 anos teve 80% do corpo queimado e não resistiu. Ela brincava quando caiu numa poça de gasolina e broncoaspirou o produto tendo sequelas internas e externas. Outras pessoas chegaram a ser internadas em hospitais por terem tido contato com outros vazamentos ocorridos por causa da ação de quadrilhas especializadas em furtar combustíveis.

Gestão do CNCL poderia melhorar as condições de monitoramento

Em setembro do ano passado, o Sindipetro-RJ criticou a postura da gestão no Centro Nacional de Controle Logístico (CNCL) de estar sempre jogando as culpas dos “erros operacionais” em cima dos trabalhadores sem nada oferecer para melhorar a conjuntura. Ao realizar um ciclo de reuniões com os trabalhadores do Operacional sobre os vazamentos provocados por furtos na malha de oleodutos, os gestores apontaram somente o fator humano, sem apresentar quaisquer iniciativas para resolver os problemas ou ponderar outros importantes fatores que envolvem essa discussão. https://sindipetro.org.br/cncl-a-culpa-e-da-gestao-ii/

Logo depois, em novembro de 2021, o Sindicato enviou ofício listando uma série de temas específicos sobre as atividades e a administração do CNCL que até o momento não foi respondido. (Carta n. 245 – Temas específicos do CNCL) Trata-se de uma hierarquia privatista que, na trilha de Paulo Guedes, só pensa em encher os bolsos dos investidores.

Por que a gerência do CNCL ainda não pensou, por exemplo, em utilizar um ou mais consoles exclusivamente para monitorar possíveis vazamentos por atividade criminosa? Ao invés disso, a Transpetro subutiliza o CSO (Console de Suporte Operacional) e a Coordenação de Turno. Ambos veem todos os sistemas de oleodutos nos seus respectivos monitores, porém só entram em ação após denúncia dos operadores dos consoles que já são sobrecarregados com diversas rotinas.

Tudo piorou ainda mais com o processo de “Otimização de Consoles” que foi realizado por volta de 2019 e uniu sistemas de oleodutos que eram monitorados por dois ou mais técnicos de operação, passando a ser monitorado por apenas um operador! Fato que segue o manual da privatização da empresa com o espalhamento da precarização, facilitando a venda de ativos a baixos custos para investidores do capital internacional.

Como não bastasse, a gestão do CNCL ainda incluiu na rotina procedimento “PE-5TP-00061-F Acompanhamento e Controle dos Sistemas de Oleodutos e Gasodutos” que possui, por exemplo, os itens 6.53 e 6.54 que falam de delegação desses sistemas durante saída esporádica (almoço, banheiro, etc.) a outro operador. Ou seja, tenta responsabilizar a operação pelo que era feito no passado por três ou mais sistemas distintos, tentando deixar o Cotur (Coordenador de Turno) e o responsável pelo CSO sem qualquer responsabilidade de eventos que podem causar desastre ambiental e afetar inclusive terceiros!!!

Portanto, é inaceitável a visão dessa gestão no CNCL! Há ainda de se notar que o aumento da criminalidade, do desemprego, de milicianos, de quadrilhas armadas com uso ousado de rato com fuzil em aplicativo é fruto de um empoderamento incentivado por um desgoverno que trabalha para o aprofundamento da desigualdade social. Fora, Bolsonaro!

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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