BGL-1: um ativo que precisa ser conhecido e mantido na Petrobrás

A Balsa Guindaste e de Lançamento 1 (BGL-1), construída na segunda metade dos anos 1970 e inaugurada em 1977, é uma embarcação da Petrobrás, com bandeira brasileira, utilizada pra atividades como o lançamento de dutos no mar e até em rios, o descomissionamento de plataformas e outras estruturas de produção marítimas, a instalação de jaquetas de plataformas  e a construção e a manutenção de módulos de plataformas, além do içamento de diversos materiais e do apoio logístico à operação, de modo mais amplo. É a maior balsa do gênero em atividade na América Latina. Ao longo dos seus 40 anos de serviço  já lançou mais de 1300 km de dutos e foi fundamental pra Petrobrás, inclusive em rio. Já atuou fora do país. Chegou até a instalar cabo ótico. Em 2007, a BGL-1 passou por uma modernização. O sistema de posicionamento dinâmico, desenvolvido desde o início dos anos 2000 e implantado nesse contexto, permitiu à BGL-1 chegar a um posicionamento mais preciso pra cada atividade e a ajustar mais facilmente seu posicionamento sempre que necessário. Os investimentos diretos chegaram a 100 milhões de reais. Em 2009, foi mais uma vez reformada e isso também possibilitou à balsa atuar em águas relativamente profundas. Em alguns momentos, foi utilizada para resolver problemas que balsas contratadas não conseguiam solucionar. Em 2015, por exemplo, tracionou a coluna do Rota 2, abandonado pela Locar. Rota 2 é o gasoduto submarino que liga os sistemas de produção da Bacia de Santos ao Terminal de Cabiúnas (Tecab), em Macaé, e tem capacidade pra escoar 13 milhões de metros cúbicos de gás por dia.

Mas a hierarquia da Petrobrás quer privatizar a BGL-1. Desde 2015, temos alertado os trabalhadores da balsa para essa situação, no contexto das eufemisticamente chamadas vendas de ativos. Antes mesmo da hierarquia da empresa mencionar a embarcação como mais um alvo do seu programa de privatização. Mais recentemente, no ano passado, já com a BGL-1 no rol dos ativos a serem privatizados, temos feito reuniões com a hierarquia específica à qual a balsa está vinculada atualmente, o setor de Serviços de Equipamentos Submarinos da área de Sistemas Submarinos (SUB/EQSB), incluindo a gerência de Serviços de Instalações Marítimas, o SIMA (SUB/EQSB/SIMA). Desde as primeiras reuniões, ficou nítido que a decisão pela venda da balsa estava nas mãos da alta hierarquia. O enquadramento dessas reuniões ficou para buscar a melhor situação possível pros trabalhadores, tanto em termos de condições de trabalho, especialmente em relação à saúde e à segurança na embarcação, quanto em termos de realocação do pessoal, caso o processo de alienação do equipamento fosse adiante, como tem ido. Mesmo assim, sempre abordamos criticamente a venda da balsa nessas reuniões. Lutamos contra a venda da BGL-1 e, ao mesmo tempo, nos esforçamos pra que, caso não consigamos evitar a sua venda, os empregados hoje lotados nela sejam aproveitados nas melhores condições possíveis em outros locais da empresa.

Em fevereiro deste ano, foi publicada uma matéria na revista Brasil Energia que apresentava a BGL-1 como uma balsa da Locar Pipe. Perguntamos à hierarquia específica relativa à BGL-1 e ela prontamente nos respondeu formalmente que a balsa continuava sendo da Petrobrás e que não tinha nada acertado com a Locar. Mesmo assim, muitos trabalhadores da balsa ficaram preocupados, em função do contexto.
A hierarquia específica do setor da BGL-1 nos apresentou um resumo de um grupo de trabalho (GT) sobre uma comparação da balsa com balsas privadas. Em síntese, o GT concluiu que, nessa comparação, a BGL-1 só é competitiva em algumas atividades e recomenda a alienação da balsa. Pedimos o documento da apresentação e o completo do GT, a fim de podermos analisar os pormenores, mas a hierarquia nos disse que não poderia nos passar, em função do nível de proteção das informações ali contidas. Criticamos o fato desses documentos não nos serem fornecidos. Sem podermos analisar detalhadamente as conclusões do GT e como se chegou a elas, como avaliar se estão corretas ou não e em que medida? E mesmo um outro estudo, sobre a possibilidade de utilizar a balsa como flotel, uma espécie de hotel flutuante pra trabalhadores que realizam manutenções em plataformas, cuja conclusão foi negativa, tampouco foi fornecido pela hierarquia. Os trabalhadores da BGL-1 questionam esse GT, a começar por não terem participado dele e porque discordam de alguns parâmetros pra calcular o custo da balsa e pelo que consideram falta de transparência em relação a outros parâmetros.

O GT ressalta a ociosidade da balsa nos últimos três anos (46% do tempo, segundo o GT), mas não leva em consideração que isso ocorreu num contexto em que a hierarquia da Petrobrás decidiu fazer desinvestimentos. E mais: houve obra pra qual a BGL-1 foi de antemão descartada porque a hierarquia decidiu que vai colocá-la em hibernação, com vistas a aliená-la. Foi assim com o Rota 3. No dia 26 de maio deste ano, a Petrobras publicou em sua intranet uma matéria intitulada Concluímos o lançamento de dois trechos do gasoduto submarino Rota 3. Essa obra vai ligar o Pólo Pré-sal na Bacia de Santos à Unidade de Tratamento de Gás (UTGA) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e ao Tecab. Vai aumentar o escoamento de gás em 21 milhões de metros cúbicos. Nos comentários na própria intranet, está informado que a parte submarina da obra foi feita pela transnacional holandesa Allseas e que a BGL-1 faria outra parte da obra, de 58 metros de lâmina d´água até a chegada de praia. Porém, como a licitação do trecho até a chegada da praia não teve vencedores devido aos elevados custos orçados pelas concorrentes, alega-se que a BGL-1 não atuará mais na obra, inclusive porque será hibernada. Sem a BGL-1, a Petrobrás fica sem um balizador de preços, de qualidade dos serviços e até mesmo, no médio prazo, representa uma perda de conhecimento da Petrobrás sobre a atividade de lançamento de dutos e afins. As principais concorrentes da BGL-1 são estrangeiras e isso significa menos brasileiros empregados e menos empregos no Brasil, de modo mais amplo. Especialmente em situações de necessidade de reparos emergenciais em plataformas, depender de balsas contratadas, principalmente estrangeiras, pode resultar em maiores danos ao meio-ambiente, em função da possível demora pra conseguir outras balsas.

Diferentemente de ativos como a Petrobrás Distribuidora (BR), a Liquigás, refinarias, usinas termelétricas, malhas de dutos e terminais da Transpetro e mesmo alguns campos de petróleo e gás, o processo de privatização da BGL-1 não está em manchetes na mídia e mesmo muitos trabalhadores petroleiros não sabem que está ocorrendo (muitos inclusive não conhecem a BGL-1). Por isso, existe um risco de que essa privatização passe despercebida ou quase, como no caso das sondas P-10, P-16, P-23 e P-III, cujo leilão foi realizado em maio deste ano.

Em última instância, se realmente a BGL-1 não servisse mais pra Petrobrás e se mais uma modernização não resolvesse a questão, a empresa deveria construir outra balsa, sob pena de ficar refém da sua ausência. E até mesmo construir outras balsas, capazes de minimizar a necessidade de contratar balsas externas, especialmente pra águas profundas e ultra-profundas.

 

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