Ao contrário de permanecer como mais uma empresa que repete internamente os macabros índices da sociedade, é hora da maior empresa brasileira, estatal, transformar-se em exemplo para toda a sociedade
Na quarta (10), junto com outras entidades, o Sindipetro-RJ e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) participam, na sede da Petrobrás, Edifício SENADO, do Fórum de Combate à Violência Sexual, destacando questões sociais, a relação do medo e da invisibilidade, o racismo, o baixo efetivo, o clima de desemprego, a sobrecarga, etc.
Existem consequências do modo como o trabalho está organizado que geram um ambiente que permite o assédio num ciclo de violência que se perpetua levando a doenças e suicídios.
A realização do Fórum foi um dos compromissos assumidos durante as negociações do Acordo Coletivo de Trabalho 2023-2025.
Por um atendimento efetivado e ampliado
Apesar da empresa ter apresentado detalhadamente os mecanismos que utiliza para prevenção e combate à discriminação, ao assédio moral e às violações sexuais, mostrando os valores Petrobrás: cuidado com as pessoas, integridade, sustentabilidade, inovação e comprometimento com a Petrobrás e o país, as representações sindicais criticaram a falta de efetiva prática dessas ferramentas no dia a dia.
Os mecanismos consistem em um conjunto de ações que envolvem importantes pilares como prevenção, acolhimento e detecção, passando por prevenção. Tudo que deveria estar acompanhado sempre pela transparência. Mas, não é o que acontece, como relataram os sindicalistas, inclusive citando casos de conhecimento público que dentro da Petrobrás acabaram não sendo tratados de forma adequada.
Se uma das novidades, por exemplo, é um novo crachá com os contatos de acolhimento, as respostas às denúncias costumam demorar meses. Uma lentidão que ajuda a adoecer ainda mais as vítimas!
Investimentos urgentes
É necessário que a empresa invista na realização de concursos para a contração de mais profissionais, colocando em prática os mecanismos contra essas violências em todo o Sistema Petrobrás, além de aplicar sansões rigorosas aos que cometem e, também, aos que compactuam protegendo agressores dentro da empresa.
Não à impunidade!
Principalmente em ambientes hostis, o medo é o principal ingrediente que impede a denúncia. Foram citados casos, e não são poucos, de petroleiras que sofreram assédio sexual, não uma vez, mas várias, mesmo trocando de unidade.
E, muito pior, a maioria das vítimas permanece em silêncio, a maioria dos colegas finge que não vê e há ainda quem naturalize os fatos!
Gravemente, as respostas dos cargos de chefia a reclamações pontuais sobre essas violências ainda demonstram, em muitos casos, comportamento repressor. “Mesmo sabendo que a política mudou ainda temos gerências assediadoras”, disse a diretora da FNP, Michele Ribeiro. Não é mais possível que a Petrobrás mantenha esse tipo de chefia que erra de forma recorrente! Fora, todos eles!
Petrobrás pode fazer a diferença
Segundo o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2023 com dados de 2022, o Brasil registrou o maior número de estupros da história! Foram seis entre dez vítimas de até 13 anos, 88,7% mulheres num total de 74.930 casos e 205 registros do crime por dia, sendo que a maioria sequer é notificada.
Como uma empresa estatal, a Petrobrás – gigante, reconhecida como criadora de conhecimento através do Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação (CENPES), um dos maiores complexos de pesquisa do mundo, não pode permanecer como mais uma empresa que permite a repetição internamente de violências, colaborando para os macabros índices da sociedade.
Muito longe da equidade
Como parte da apresentação da FUP, o economista Cloviomar Cararine, técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apresentou dados importantes como um comparativo que elaborou sobre a presença feminina nas maiores petrolíferas do Planeta com informações dos relatórios anuais das empresa de 2022.
Cararine mostrou que a Petrobrás está em oitavo lugar com apenas 17% de mulheres no total da força de trabalho, longe da BP (39%), Total (36%), Exxon (34%), Shell (34%), Equinor (31), Chevron (30%) e ConocoPhillips (27%) – de qualquer forma todas muito distantes da equidade de gênero.
Marítimos abandonados
De acordo com informações apresentadas por Cecília Rodrigues, representando a CONTTIMAF, FNTTAA e Sindmar, “os casos de assédio e agressão são alarmantemente comuns no setor marítimo”. Há 30 anos a Petrobrás não tem mais marítimos próprios e aluga navios, sendo que os de bandeira estrangeira não cumprem regras mínimas e por isso não contratam mulheres.
O Sindmar denunciou que dentro dos navios afretados ocorrem vários tipos de assédio e quando um caso é divulgado e chega na Petrobrás, ela apenas atua, rapidamente, para que o navio saia das águas brasileiras. Um escândalo!
Fortalecer mobilização
A simples participação em pesquisas como, por exemplo, a que foi promovida pela empresa, em 2023, sobre assédio sexual e assédio moral no local de trabalho teve engajamento de apenas 44% de petroleiros (17 mil).
Sem dúvidas, é necessária uma campanha ampla e permanente de conscientização sobre o assunto envolvendo todos os petroleiros do Sistema. Os problemas enfrentados pelas petroleiras no cotidiano não devem mais ficar confinados em plataformas, por exemplo, onde há questões básicas relacionadas a banheiros e camarotes.
No Fórum, a diretora do Sindipetro-RJ e da FNP, Ana Paula Baião, destacou a segregação sofrida pelos terceirizados como um dos impedimentos para o combate da violência no trabalho dentro da Petrobrás e apresentou propostas:
– garantias aos denunciantes;
– condições iguais entre próprios e terceirizados;
– garantia de acolhimento;
– punição exemplar de assediadores; e
– participação concreta das CIPAs.
CAT, transparência e homens
As representações sindicais chamaram a atenção também para a necessidade de abertura da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) nos casos de assédio e a efetiva transparência da empresa com relação aos dados.
Por fim, ressaltou-se a necessária participação dos homens petroleiros em todos os processos de combate à violência sexual, porque eles também fazem parte das estatísticas e porque é somente na unidade, todos juntos, que será possível obter conquistas na luta.
Por fim, ressaltou-se a necessária participação dos homens petroleiros em todos os processos de combate à violência sexual, mudando sua relação com mulheres, se posicionando em defesa das mulheres quando presenciar casos de agressão física a uma mulher, assédio e outros tipos de violência. Pois será na unidade dos trabalhadores que que será possível obter conquistas na luta.