A false flag na escolha do novo presidente da Petrobrás

Bolsonaro e Guedes pressionam para renúncia do demissionário José Mauro Ferreira Coelho, que não quer sair antes da Assembleia de Acionistas

Sem a renúncia, o governo precisa aguardar os trâmites normais para a votação do escolhido, Caio Paes de Andrade, o que pode se arrastar por até 60 dias. Se o atual presidente resolver sair antes, o processo pode ser antecipado. Isso também aconteceu quando o General Joaquim Silva e Luna foi demitido por Bolsonaro, que também resistiu até a realização da assembleia. O fato é que as trocas na presidência da Petrobrás têm se mostrado uma cortina de fumaça.

O comunicólogo Caio Paes de Andrade, novo postulante à presidência da Petrobrás, afilhado de Paulo Guedes, nunca em sua vida profissional atuou em qualquer empresa do setor energético, do ramo de petróleo. No dia 25/05, último, o Conselho de Administração da empresa (CA) não aprovou de imediato o nome de Paes de Andrade para o cargo. Caso seja confirmado pela Assembleia Geral da Petrobras, após ser submetido a um processo de governança interna, ele será o quarto presidente da empresa em três anos e cinco meses de governo.

As bandeiras falsas

Desde que assumiu o governo em janeiro de 2019, Bolsonaro tem primado sua gestão governamental por escolha de nomes sem pré-requisitos, desqualificados e polêmicos,  na esfera dos ministérios, estatais e autarquias. Vide o que já aconteceu neste período nas pastas da Educação, com gestões fundamentalistas de extrema-direita com os nomes de Ricardo Vélez, Abraham Weintraub, Milton Ribeiro e o atual Victor Godoy, um auditor federal de Finanças e Controle da Controladoria-Geral da União (CGU) que não deve sequer elaborar um projeto pedagógico.

Nas autarquias federais basta citar o nome do presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, para termos a noção de que o objetivo do projeto de Bolsonaro, e de seus neoliberais de plantão é desmoralizar e desmontar  o estado brasileiro. E na Petrobrás isso não poderia ser diferente, como pode ser constatado com o processo de desmonte e privatizações que ocorrem na empresa.

Em realidade, o governo Bolsonaro adota a metodologia da chamada “falsa flag” (bandeira falsa), uma tática militar incorporada por governos de extrema-direita e corporações, que imputa ao “inimigo” responsabilidades por ações que não ocorreram, para tirar proveito político de determinada situação. Desmoralizam a Petrobrás, criam a narrativa de que “a culpa é da Petrobrás”, pela alta de preços, para desgastar a cada dia a imagem da companhia junto aos brasileiros. Porém, a verdade é que o próprio governo é o principal responsável pelo que acontece na Petrobrás.

Bolsonaro e Guedes usam Petrobrás para tungar o Brasil

No fundo, o que Bolsonaro e Paulo Guedes querem é tirar o foco da realidade da Petrobrás para dar continuidade à engorda dos lucros de acionistas da companhia, que somente em 2021 tiveram transferidas para suas contas bancárias mais de R$ 101 bilhões em dividendos, o correspondente a 95% do lucro da empresa. Grana essa que é obtida com a aplicação de uma política de preços – Preço de Paridade de Importação (PPI), que dolariza os preços dos combustíveis no Brasil e também acaba por fazer a estatal perder mercado para concorrentes.

Um exemplo prático de quanto é nocivo a PPI para o Brasil é o que acontece com o querosene de aviação. O derivado teve anunciado na última quinta-feira (02/06), um reajuste de 11,4%. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), no acumulado do ano de 2022, o combustível de aviação teve uma alta de 64,3%. Ainda de acordo com a associação, o preço do querosene no Brasil chega a ser 40% superior em comparação com a média global, isso apesar da produção nacional do combustível representar 90% da demanda, sendo também o seu preço baseado em dólar.

Como explicar essa situação se o país em média, principalmente, através da Petrobrás, tem a capacidade de responder por grande parte, cerca de 80%, da produção nacional de derivados do petróleo?

Agora, Bolsonaro e Guedes anunciam com toda pompa, e apoio de prepostos do capital no legislativo, como o presidente da Câmara Arthur Lira, a privatização total da Petrobrás. E pelo jeito correm contra o tempo para acelerar a entrega total do maior patrimônio dos brasileiros na área de energia.

O metaverso real

Evidentemente que se o governo quisesse, e especificamente, se  Bolsonaro assim o quisesse, poderia trocar a política de preços, mas de fato há uma oposição a isso por parte de amplos setores liberais tecnocratas dentro da própria empresa. E não se pode reduzir isso somente a pessoas colocadas na empresa pelo governo.

O governo Bolsonaro serve a esses setores, mas também tem atritos com eles, porque eles não querem que um presidente (qualquer um) mande mais que eles. Nesse sentido, a empresa, sequestrada, hoje atua deliberadamente, como uma espécie de Estado dentro do Estado, um “metaverso real” a serviço desses setores e dos grandes capitalistas da lógica financeirizada que representam em detrimento do povo brasileiro e da própria Petrobrás.

Da parte dos petroleiros segue a luta contra a destruição da Petrobrás e do Brasil. Este governo entreguista a cada dia mostra sua real intenção de aplicar um programa de transferência de renda para os mais ricos, configurado pela PPI.

Bolsonaro e Guedes,  aguardem pois, um dia a casa cai e os petroleiros sabem muito bem o que vocês querem: destruir a Petrobrás e saquear o Brasil e os brasileiros!

 

Imagem Marcello Casal Jr – Agência Brasil

 

 

 

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