As inverdades ditas pela direção da Petrobrás sobre os preços do gás de cozinha (GLP)

Mais uma vez, o Sindipetro-RJ desmonta os argumentos da direção de Castello Branco, que teima em fazer malabarismos estatísticos e marqueteiros para ludibriar a população brasileira sobre a realidade do preço do gás de cozinha no Brasil. De imediato respondemos ponto a ponto as justificativas da empresa publicadas, em 18 de janeiro de 2021, no blog Fatos e Dados. Leia com atenção e tire suas conclusões:

1 – O consumo de gás de cozinha diminuiu em 2020?
Não. A demanda por GLP, ao contrário dos demais derivados do petróleo, não se reduziu no mundo e no Brasil. De acordo com a ANP, as vendas do botijão de gás de 13 kg cresceram 5,3% em relação a 2019.

Sindipetro-RJ – O que a direcão da Petrobrás esquece de informar , ou omite de forma proposital, é que o aumento de consumo do gás de cozinha em 2020 se deu de forma determinante pela pandemia da COVID-19, que já grassou mais de 217 mil vidas e forçou as pessoas a ficar em casa por causa do isolamento social. A prova disso é que em abril de 2020, início da pandemia no Brasil , houve um pico de consumo botijões de gás com aumento de 23% em todo o país.

Mas segundo dados do Ministério de Minas e Energia, que tem divulgado relatórios semanais com o consumo de energia e de combustíveis desde o início da pandemia, o consumo do botijão de 13 kg caiu 20% na última semana de dezembro em relação ao mesmo período do ano anterior. A demanda pelo botijão de mais de 13 kg, usado por indústrias, academias, comércio e condomínios, caiu ainda mais: 32,5%.

2 – O gás de cozinha passou a pesar mais no bolso do trabalhador?
Não. Em 2007, o preço ao consumidor do botijão de 13 kg chegou a representar 8,7% do salário mínimo. Desde então, tem oscilado entre 6 e 8%. Em 2019, correspondeu a 6,9% do salário mínimo e, no ano passado, a 6,8%.

Sindipetro-RJ – A Petrobrás tenta fazer malabarismo com os números, mas a verdade é que em termos reais, de agosto de 2016 até janeiro deste ano, o preço do GLP subiu 21,3% – em termos nominais o aumento foi de 42,4%. O fato é comprovado pelo trabalho do economista do IBEPS, Eric Gil Dantas, que usou como base dados da ANP e do IBGE, como pode ser verificado no gráfico abaixo:

3 – A Petrobrás determina o preço do gás de cozinha?
Não. O GLP vendido para as distribuidoras nas refinarias da Petrobras representa menos da metade do preço do botijão de 13 kg cobrado do consumidor. No ano passado, foi, em média, 39%. O restante corresponde a impostos estaduais e federais, custos e remuneração de distribuidoras e revendedores.

Sindipetro-RJ – O GLP, assim como os combustíveis (gasolina e diesel), tem como base o Preço de Paridade Internacional (PPI), influenciado pelas flutuações das cotações internacionais. Apesar dos preços dos produtos do setor de petróleo e derivados serem livres desde 2002, o peso da Petrobrás, que possui 98% da capacidade de refino do país, acaba determinando o seu patamar, e por isto a política da Petrobrás é tão importante para a formação do preço da gasolina, do diesel e do botijão de gás. Esta política não leva em consideração nem os custos reais de produção, nem o mercado doméstico, e sim o que acontece nos mercados internacionais. Então, a Petrobrás pode sim determinar o preço do botijão de gás de cozinha.

4 – A Petrobrás não poderia baixar o preço do gás de cozinha?
Não. O GLP, assim como os outros combustíveis, é uma commodity, que tem seus preços determinados no mercado global pelos movimentos de oferta e demanda. O Brasil é importador de parcela importante do GLP aqui consumido. Se a Petrobras reduzir o preço abaixo das cotações internacionais, ficaria diante de duas opções: deixar o mercado desabastecido ou importar a preço mais alto e vender a preço mais baixo.

Sindipetro-RJ – O preço do produtor em si, no caso a Petrobrás, representa apenas metade da composição final do preço que pagamos. Segundo a ANP, o preço do botijão de gás é composto por 47% do preço da Petrobrás 18% por tributos (estaduais e federais) e 35% de valor pago aos distribuidores e revendedores. Como os distribuidores e revendedores mantêm a sua margem de revenda mais ou menos constante ao longo do tempo, o encarecimento do GLP é repassado integralmente para o bolso do consumidor (aumentando assim o lucro absoluto destas empresas). Então, a direção da Petrobrás poderia sim dentro de sua margem diminuir o seu preço. Mas pelo jeito não o faz para não desagradar seus acionistas especuladores, cujo porta-voz, a mídia neoliberal brasileira, iria manchetar que a empresa estaria interferindo no mercado.

 

5 – Afinal, qual é a contribuição social da Petrobrás?
Gerar valor, investir e produzir mais petróleo, gás natural e combustíveis a custos baixos, e fornecer produtos essenciais, de alta qualidade e confiabilidade para nossos clientes.

No ano da pandemia, não ficamos parados. Alcançamos recordes históricos de produção de petróleo e gás natural, e de exportação de petróleo e óleo combustível, com a mais baixa taxa de acidentes na indústria mundial de petróleo. Isto significa mais investimentos, mais eficiência e inovações tecnológicas, mais empregos e maior arrecadação para os governos municipais, estaduais e federal. A Petrobrás é a maior contribuinte de impostos do Brasil.

Sindipetro-RJ – A Petrobrás é uma empresa que na sua criação, em 1953, priorizou o desenvolvimento nacional, a partir da produção, refino e distribuição de combustíveis para garantir a sustentabilidade energética do Brasil. Mas suas últimas direções, e a atual, seguem o receituário de desmonte, sucateamento e privatização. Hoje, as suas 13 refinarias não operam em sua capacidade plena, registrando até 25% de ociosidade. Estão à venda oito refinarias: REFAP (RS), RNEST (PE), REPAR (PR), RLAM (BA), LUBNOR (CE), REGAP (MG), REMAN (AM) e SIX (PR). Este processo já está na chamada fase vinculante, um estágio mais avançado do processo de venda de ativos. Destas, a Refinaria Landulpho Alves (RLAM) já está quase vendida ao fundo de investimentos Mubadala, dos Emirados Árabes.

A própria ANP já mostra preocupação com as refinarias da Petrobrás e como suas vendas irão afetar o abastecimento de gás de cozinha no Brasil. A Petrobrás responde por praticamente a totalidade da importação e produz 70% do consumo interno. Mas essa proporção deve mudar se a empresa concluir a venda das refinarias que fabricam 39% do GLP nacional, segundo cálculo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Além disso, repetimos mais uma vez: as direções da empresa, vorazmente, têm retirado direitos de seus trabalhadores, inclusive conquistas históricas; com demissões e transferências sumárias; punições a quem pensa diferente e por atuação sindical. Hoje, a Petrobrás é uma empresa colonizada que não tem compromisso com o povo brasileiro, mas com seus especuladores que esfregam as mãos quando a direção de Castello Branco anuncia algum teaser para vendas , PIDVs e desinvestimentos.

Isso na prática é a aplicação de uma política entreguista que desmonta a maior empresa do Brasil, vendendo campos de petróleo, pólos de refino, malhas de dutos, distribuição e outros ativos importantes. O foco somente na produção do Pré-Sal desestimula o desenvolvimento do país e em regiões importantes como o nordeste, por exemplo, que perdem suas operações e assim extinguem-se empregos.

Links de referência

O aumento do preço do gás de cozinha, a política de preços da Petrobrás e a privatização da Liquigás – https://sindipetro.org.br/o-aumento-do-preco-do-gas-de-cozinha-a-politica-de-precos-da-petrobras-e-a-privatizacao-da-liquigas/

Gás de cozinha sobe mais que o dobro da inflação em 2020 – https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-01/gas-de-cozinha-sobe-mais-que-o-dobro-da-inflacao-em-2020

Fundações de pesquisa científica denunciam desmonte na Petrobrás
https://sindipetro.org.br/fundacoes-de-pesquisa-cientifica-denunciam-desmonte-na-petrobras/

Feirão do desmonte: atacadão da ANP chega à Bacia de Campos
https://sindipetro.org.br/feirao-do-desmonte-atacadao-da-anp-chega-a-bacia-de-campos/

Vendas de ativos continuam na Petrobrás
https://sindipetro.org.br/vendas-de-ativos-continuam-na-petrobras/

Em audiência pública sobre privatização no STF, advogada da FNP desmascara a venda da NTS
https://sindipetro.org.br/em-audiencia-publica-sobre-privatizacao-no-stf-advogada-da-fnp-desmarcara-a-venda-da-nts/

Venda das refinarias: Bolsonaro aumenta preço dos combustíveis para privatizar a Petrobrás
https://sindipetro.org.br/venda-das-refinarias-bolsonaro-aumenta-preco-dos-combustiveis-para-privatizar-a-petrobras/

Na saideira do ano Petrobrás aumenta mais uma vez o preço do diesel e da gasolina
https://sindipetro.org.br/na-saideira-do-ano-petrobras-aumenta-mais-uma-vez-o-preco-do-diesel-e-da-gasolina/

O homem que não gosta da Petrobrás e o conto do vigário
https://sindipetro.org.br/o-homem-que-nao-gosta-da-petrobras-e-o-conto-do-vigario/

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