Renúncia do atual presidente pode lhe valer um bom prêmio por ter ajudado a desmontar a Petrobrás
Consumado o afastamento de Caio Paes de Andrade da Presidência da Petrobrás e do Conselho de Administração, cargo que ocupou por pouco mais de seis meses, em 2022, sendo o último presidente da companhia, dos quatro indicados no mandato de Bolsonaro, o que fica desta curta passagem é legado de ter acelerado, no apagar das luzes do antigo governo, o processo de desmonte e privatização da empresa, o que turbinou ainda mais os polpudos bônus pagos a partir da lógica do PPP – Programa de Prêmio Por Performance, apelida pelos petroleiros de “Propina Por Privatizações”.
Com a saída do atual presidente, o CA já se prepara para que Jean Paul Prates, o escolhido de Lula, assuma o comando da Petrobrás.
“Barão” interino
A Petrobrás nomeou João Henrique Rittershaussen, 58 anos, como presidente interino da companhia. Ele foi indicado para o cargo depois da aprovação do fim do mandato de Caio Mário Paes de Andrade pelo CA nesta quarta-feira (04/01).
Rittershaussen atua na Petrobras há 35 anos, ocupando diversas funções gerenciais, atuando como Gerente Executivo, ocupando a Gerência Executiva de Sistemas de Superfície e em de novembro de 2018 tornou-se Gerente Executivo de Sistemas de Superfície, Refino, Gás e Energia, área que responde pela construção dos novos ativos da companhia nas áreas de E&P e RGN.
Alguns informes sobre o presidente interino é de que ele pretende acabar totalmente com o regime de trabalho híbrido, ainda em curso em algumas unidades da Petrobrás no Rio de Janeiro, voltando ao trabalho presencial de cinco dias por semana. Além disso é considerado um “perna”, sujeito metido e marrento. Não é à toa que tem pinta de “barão”.
Pegadinha do malandro
E dentro deste contexto, Paes de Andrade solicitou sua renúncia ao Conselho de Administração (CA) da Petrobrás, mas se o CA entender que o caso de Caio seja de interrupção de contrato, o mesmo, nesta última configuração terá direito a embolsar um bônus milionário referente aos lucros de 2022.
Aprovado pelo Conselho de Administração, Caio Paes de Andrade, “amigão” do então ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiu a gestão sob protestos dos petroleiros por possíveis conflitos de interesses e por falta de conhecimento no segmento de petróleo e gás.
Bocada nova
Em setembro, último, Caio Paes de Andrade informou em nota, que havia sido diagnosticado com câncer e que tinha iniciado o tratamento contra a doença. Mas em sua renúncia não foi esclarecido se essa teria sido a justificativa para a sua saída da companhia. Apesar de doente, ele vai compor a equipe do próximo governador eleito do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assumindo a Secretaria de Gestão e Governo Digital.
A visão do Sindipetro-RJ
A aplicação do modelo neoliberal e a financeirização têm tem feito da Petrobrás uma verdadeira “vaca leiteira” para os oportunistas de plantão. E Caio Paes de Andrade é mais um que passou pela companhia e sugou o que podia.
Em julho de 2022, o Sindipetro-RJ entrou com ação popular (nº 5004539-77.2022.4.02.5102) contra a nomeação do comunicólogo Caio Mário Paes de Andrade, indicado por Bolsonaro, na presidência da Petrobrás, porque ele não cumpre os requisitos legais, não tem experiência exigida no setor e é sócio da ex-esposa que faz transações milionárias em empresa que opera a plataforma Progredir da Petrobrás.
Os fatos foram apurados a partir de denúncia recebida pelo Sindipetro-RJ. Paes de Andrade separou-se, em 2020, da estadunidense Margot Greenman, que fundou a Captalys Companhia de Crédito em 2016. No mesmo ano do divórcio, pela Captalys, Margot comprou 90% das ações da iDtrust que através da operadora Finanfor gerencia a plataforma Progredir, programa da Petrobrás de empréstimos a empresas fornecedoras junto a bancos parceiros. Além disso, Paes de Andrade ainda é sócio de Margot na empresa BR Ventures Participações Ltda. https://sindipetro.org.br/paes-andrade-na-berlinda/
Mesmo assim, passando por cima da legislação vigente, jogando no lixo as tão aclamadas normas de governança, o CA – formado em maioria por indicados por Bolsonaro – validou, no dia 27/06, o nome de Paes de Andrade para a presidência da estatal.
Neste momento de mudança, com a posse do novo governo, que nomeará a nova direção da Petrobrás, é preciso que seja realizada uma verdadeira devassa na Petrobrás para que possamos saber de que forma foram conduzidos os processos de desmonte e privatização dos ativos da empresa. Além disso, é preciso cobrar da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o resultado das investigações sobre os casos envolvendo manipulações de títulos na Petrobrás no mercado financeiro por uso de informações privilegiadas.
Até hoje não se sabe o desfecho da investigação aberta contra o ex-chefão do RH, Claudio Costa, que foi demitido por “Insider Trading”; de Roberto Castello Branco que vendeu a preço de banana campos maduros, que geridos pela empresa em que trabalha, a 3R Petroleum, jorram petróleo como se fossem cachoeiras de óleo.
Agora resta saber se Jean Paul Prates, indicado por Lula, vai abrir a “caixa de pandora”, ou aplicar a velha máxima da política brasileira de acomodar as coisas e deixar tudo como está. Só o tempo dirá.