CENPES: uma unidade gerida sob a orientação do caos

No Centro de Pesquisas da Petrobrás há uma pressão intensa por parte dos gestores para que os operadores liberem os serviços, visto que estes impactam diretamente nos índices da gerência

No CENPES, está sendo aplicada uma metodologia que o Sindicato discorda frontalmente. A programação dos serviços é feita com “antecedência”, ou seja, na semana anterior, e essa programação deve ser respeitada, muitas vezes ignorando fatores como número de operadores, prioridade dos serviços, número de PTs (Permissões de Trabalho) por operador, entre outros. Existem PTs que são preenchidas de véspera (com a desculpa que é para agilizar) sem estarem no clima do objeto a ser examinado e no local e nas condições em que haverá a atividade trabalhada, sendo liberadas no mesmo dia. Há informações de que existem poucos petroleiros aptos a fazer tais processos.

Alguns operadores se sentem intimidados e acabam fazendo o serviço de forma insegura. É cada vez mais comum ver PTs sem descrição do serviço ou TAG (identidade) do equipamento.Muitas vezes um único operador precisa emitir 10 PTs, o que é extremamente difícil de ser feito, respeitando as regras de SMS.

O fato é que todas as PTs precisam passar por algumas etapas na elaboração, e posteriormente, na liberação. Algumas regras básicas são visitar o local para avaliar os riscos e a necessidade de aplicação de LIBRA na elaboração, além de ir ao local na hora da emissão para verificar se todas as recomendações estão atendidas, se há riscos nós entornos, se os EPIs e ferramentas dos executantes estão de acordo com o serviço, se estão em bom estado, etc.

Tudo isso leva tempo, então quando a supervisão diz para um operador que ele precisa emitir 10 PTs, acaba por limitar o tempo que esse mesmo operador vai gastar realizando essas verificações. Isso pode prejudicar na avaliação crítica do serviço e colocar os executantes em risco.

Até porque esse operador tem outras atividades além da liberação de serviços, que são as rotinas operacionais, e de cumprir suas necessidade fisiológicas como se alimentar ( almoçar e jantar) , ir ao banheiro e beber água, entre outras coisas.

Um resumo de como funciona o processo

1 – no final da semana, ocorre a elaboração do calendário de manutenções da semana seguinte;

2 – todo o dia, no horário de 19×7, os operadores precisam consultar está programação, conferir cada serviço descrito, avaliar os riscos, verificar no local, elaborar LIBRA, aplicar LIBRA e elaborar as PTs pro dia seguinte. Isso tudo fora as rotinas de cada área operacional; e

3 – no horário de 7×19, os operadores pegam as PTs elaboradas no dia anterior, conferem, vão ao local junto do executante, conforme as condições do local, do equipamento, dos EPIs, das ferramentas, chama o SMS se necessário (em alguns serviços é necessário), e em alguns casos acompanham parte do serviço. Fora as rotinas operacionais.

As terceirizações se acentuam no rastro das boiadas

Como já sabemos, ”as boiadas estão passando” em várias áreas e frentes de atividade da sociedade. Em situação de teletrabalho, aquela supervisão que se dava de forma natural pela convivência ou pela simples passagem (dos trabalhadores próprios) pelos locais, não vem ocorrendo e é uma enorme perda de qualidade e segurança. O pior é que isso passa a ser uma espiral negativa por conta da grande rotatividade das terceirizadas.

Em realidade as terceirizações em empresas foram e continuam sendo poderosa ferramenta para retirar protagonismo do trabalhador próprio, colaborando em muito para o apequenamento da massa crítica e capacidade de administrar o cotidiano, bem como tocar e resolver os problemas. A fuga de experiências e conhecimento gerados por quem realmente faz, seguido do desperdício da não utilização de modo pleno das famosas “Lições Aprendidas” nos mostra a crescente timidez e falta de confiança de nossos quadros em enfrentar as situações presentes em nossa atividade.

Por conta da alta rotatividade das empresas terceirizadas e até quartelizadas (empresas ou profissionais contratados pela terceirizada que ganhou o contrato), cada novo trabalhador ou trabalhadora que entra na empresa encontra um ambiente gradativamente ”mais pobre” em termos técnicos, de eficácia e, por conseguinte de segurança. Por exemplo, quando ocorre algum sinistro (acidente ou incidente) fica difícil entender melhor o que ocorreu, já que, tal quadro compromete bastante a rastreabilidade. Tal situação é ainda agravada em casos onde trabalhadores envolvidos em eventos de acidentes são demitidos logo em seguida aos mesmos. É muito preocupante essa situação!

Com raríssimas, e honrosas, exceções, percebe-se que as empresas terceirizadas não treinam seus empregados com os mesmos cuidados e aprofundamento que um trabalhador do quadro efetivo da empresa, um petroleiro primeirizado. Usam a atividade para tal, e, assim, contratam pessoas com pouca experiência, o que significa baixos salários e mais lucros!

Alteração do layout de trabalho

Já faz mais de um ano que a gerência mudou o layout do trabalho. Antes havia divisões em áreas, então cada um operava uma área específica. Hoje há a divisão entre área x painel. Em diversos grupos existem trabalhadores que não são treinados em determinadas áreas sendo obrigados a operá-las simplesmente por ser “operador de área”. Por exemplo: quem opera somente no ETRA (Estação de Tratamento de Reuso de Água), recebe uma ordem do supervisor local que determina que este trabalhador deve operar o prédio 11, não tendo este empregado qualquer treinamento mínimo, sob alegação de que não existe mais a posição “operador da ETRA”, entendendo que este mesmo trabalhador deve operar em qualquer lugar da unidade.

A realidade é que isso acontece em quase todos os grupos. Mesmo quando há algum tipo de instrução, é muito pouco, insuficiente para operar uma planta industrial com segurança.

Problemas de iluminação, mostram o sucateamento

A situação na unidade é tão caótica que a iluminação está muito deficiente na maioria das áreas industriais que apresentam muita escuridão à noite, sendo necessário invariavelmente o uso de lanterna para acessar instalações.

Efetivos reduzidos

Outra preocupação é que o SMS do CENPES excluiu os números mínimos que existiam no Plano de Resposta à Emergência. Ou seja, na prática não existe mais um número mínimo, de forma que a gerência se utiliza disso para trabalhar com poucos operadores. Já foi cobrado que esses números fossem recolocados em documento oficial, mas até hoje não houve resposta. Com frequência trabalham com apenas 10 operadores, sendo dois supervisores. O que mostra o alto grau de precarização aplicado aos trabalhadores.

Portanto, diante deste relato, o Sindipetro-RJ cobra providências do Compartilhado e da hierarquia da Petrobrás para os fatos aqui narrados que foram obtidos a partir de informes dados por trabalhadores da unidade, que há tempos convivem com a política de desmonte imposta na Petrobrás, que reverbera no Centro de Pesquisas da empresa. Não é possível que esta política de sucateamento, abandono e assédio continue.

É preciso também reforçar a importância da atuação da CIPA local na defesa de um ambiente de trabalho que cumpra as determinações de ambiência condizentes com as normas de SMS e cumprimento das NRs (Normas Regulamentadoras).

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