Como a crise afeta a Saúde Mental do trabalhador

Assédio moral aumenta com processos de desmonte e privatização, como na realidade atual da Petrobrás

Com a crise, a pressão por resultados traz consequências danosas à saúde do trabalhador. Situações que se tornam cada vez comuns são: a atribuição de erros ou equívocos ilusórios ao trabalhador, sobrecarga de atividades, exigência de trabalhos urgentes sem necessidade, ameaças, insultos, entre outros. Isso ocorre nas pequenas e grandes empresas, como, por exemplo, na Petrobrás em que funcionários veem no horizonte o fantasma do desemprego com a possível privatização da empresa.

“A Petrobrás é um estrato da sociedade que reflete o que vivemos de forma geral hoje no Brasil. Na empresa existem cinco grupos que podem ser considerados alvo de assédio permanente: os críticos, aqueles que questionam e problematizam ordens, e por vezes, possuindo militância sindical são considerados ‘pessoas problemas’ para empresa devido a sua capacidade de influenciar colegas de trabalho em equipes, dificultando o trabalho dos gestores, segundo uma fala recorrente da direção da Petrobrás; os considerados frágeis pela chefia, por algum tipo de diferença no padrão de produtividade, de comportamento, que não conta com a simpatia da equipe, que adoecem mais ou que têm um vinculo de trabalho mais precário, como os terceirizados; os grupos socialmente discriminados como negros, mulheres, LGBTs , estes dois últimos, sofrem ainda mais nas áreas operacionais; e por fim os muito qualificados que podem representar uma concorrência para o gestor” — enumera Moara Zanetti, dirigente do Sindipetro-RJ.

Demissões nas estatais: a fila do desemprego aumenta

“Em momentos de crise, como vivemos atualmente, o assédio fica acentuado. Seja porque o gestor tenha que mostrar maior produtividade, maior controle de sua equipe, e às vezes tem que eliminar partes desta mesma equipe. Nesta questão, os alvos são os funcionários mais idosos que não se encaixam, segundo essas chefias, no perfil de equipe. Em todos esses grupos que são alvo de assédio ocorrem situações de retirada de trabalho. Além disso, a direção da Petrobrás impõe um aumento de sanções disciplinares administrativas que vão compor o histórico funcional para justificar uma futura demissão. Nesta situação se encaixam no Programa de Demissão Voluntária (PDV), como os aposentáveis, e aqueles que apresentam problemas de saúde por conta de assédio são potenciais vitimas de sanções disciplinares” — explica Moara que é assistente social de formação, vítima de perseguição na empresa por exercer mandato sindical, sendo afastada do setor de RH, sob a alegação de conflitos de interesses. No ano de 2016 quase 12 mil empregados aderiram ao programa de demissão voluntária da Petrobrás. Hoje, a Companhia conta com aproximadamente 62 mil empregados.

Por conta deste assédio muitos funcionários do sistema Petrobrás têm apresentado quadro de depressão e angústia, o que acaba se refletindo em problemas de saúde graves que geram necessidade de licença médica e até afastamento definitivo através de aposentadoria por invalidez. Em junho último, o governo Bolsonaro anunciou mais um Plano de Demissão Voluntária (PDV), em sete empresas públicas. O governo espera a adesão de 21 mil funcionários e uma “economia” de R$ 2,3 bilhões. Na Infraero, o objetivo é desligar cerca de 600 funcionários; na Petrobrás, 4.300; nos Correios é de 7.300 empregados. Na Embrapa, a meta é o desligamento de 3.000. A medida como não poderia deixar de ser vai aumentar mais a fila de desempregados.

“Essa crise que estamos vivendo de natureza econômica gera obviamente o desemprego, perda do poder aquisitivo, o crescimento vertiginoso da fome, a insegurança quanto ao dia de amanhã, se estaremos ou não com o emprego. Mas também sofremos uma forte crise de natureza política, como também moral, existencial, uma crise em diversas dimensões. O que é esperado neste meio ambiente? É o aumento no número de pessoas sofrendo de tristeza, muitas vezes uma tristeza profunda, persistente, o que aumenta o número de pessoas sofrendo de ansiedade, insônia, havendo o aumento do consumo de álcool, tabaco e das drogas ilícitas. Além do aumento nos casos de suicídio, e assim por diante. Estamos falando do sofrimento psíquico e das suas diversas formas de manifestação. São abundantes as evidências científicas que mostram os impactos do nosso meio socioeconômico, político, cultural e ético na qualidade da nossa saúde mental” — finaliza, o professor Fernando Freitas que é também doutor em psicologia pela Université Catholique de Louvain (Bélgica) e um dos autores do livro “Medicalização em Psiquiatria”, escrito com Paulo Amarante, médico psiquiatra, doutor em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz.

 

Versão do impresso Boletim 182

 

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