Debate analisou a luta dos trabalhadores no Chile

“O que acontece no Chile hoje se dá no âmbito do ascenso dos movimentos de massa em outros países da América Latina, mas no Chile é diferente porque ali se iniciou uma revolução, com as massas, jovens e mulheres nas ruas tomando o destino em suas próprias mãos. Essas massas podem ainda não saber muito bem o que querem, mas já sabem o que não querem”. Primeira a falar no debate ‘Chile – Uma Rebelião em Curso’, promovido pelo Sindipetro-RJ na última terça (17/12), a representante da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), Alicia Sagra, também denunciou a capitulação da maioria dos partidos reformistas da esquerda chilena à proposta de Sebastián Piñera, de realizar uma constituinte burguesa e controlada pela institucionalidade. “Não pode haver constituinte soberana se Piñera, seus ministros e o atual congresso não saírem”, completou.

Além de Alicia, falaram Rejane Hoeveler (historiadora do grupo ‘Resistência’, do PSOL); Luiz Rodolfo Viveiros de Castro (Gaiola), que viveu no Chile durante o governo Allende e algum tempo após o golpe de 1973; e Hiran Roedel (historiador e membro da direção do PCB).

Desafio aos toques de recolher

Rejane contou sua recente experiência no Chile, por meio do painel ‘Outubro Chileno 2019’, no qual relatou o que classifica de ‘novas formas’ de organização popular, como os conversatórios e os cabildos, além de novos grupos de mulheres, entre outros. “Há uma crise dos partidos da esquerda no Chile e será um suicídio se a Frente Ampla votar a favor das leis de Piñera. Entre as massas, porém, existe a consciência de que a vida é difícil porque o sistema é muito injusto e desigual, pois no Chile quase tudo é privado e muito caro”, explicou, após fazer um paralelo entre a brutal repressão da era Pinochet e a atual. “A desobediência civil no Chile é de massa e desafiou até mesmo os toques de recolher”, frisou.

Massas e estudantes radicalizados

 Em sua fala, Luiz Rodolfo contestou a legitimidade de Piñera, eleito com cerca de 20% dos votos, tirando os 62% de abstenção, nulos e brancos da última eleição chilena. “Isto mostra — disse ele — que a democracia representativa é uma falácia e já morreu no mundo inteiro. No Chile temos as massas nas ruas, com os estudantes radicalizados, as discussões políticas nas poblaciones [favelas], os Mapuches, ao sul, e os Ayamaras, ao norte, configurando uma situação pré-revolucionária diferente de Bolívia e Equador. Já no Brasil falta subversão e trabalho de base. E sobra trabalho eleitoral, preocupação com eleições”, afirmou, para concluir: “a clivagem a ser feita é entre aqueles que são anticapitalistas e aqueles que querem ser gerentes dos interesses do capital, como são os partidos da concertação”.

 Luta anticapitalista

Hiran Roedel centrou sua análise na caracterização das mobilizações chilenas não como um processo revolucionário. “Pedir Fora Piñera não é ser revolucionário. Podemos estar diante de uma rebeldia e de uma luta contra a política neoliberal, mas não necessariamente uma luta anticapitalista. O maior perigo é que no Chile haja uma constituinte que não rompa com a lógica do capital. Os partidos de esquerda estão liderando as manifestações? Em que rumo? Não podemos cometer velhos erros. Por isso não podemos desconsiderar a luta de classes e temos que ver que, para haver revolução, é necessário combinar as condições objetivas com as condições subjetivas”, destacou.

Ao longo do debate, foi denunciado o caráter brutal da repressão movida pelo governo Piñera contra as manifestações, levando a 20 mil prisões políticas, 25 mortos, torturas, estupros e ferimentos graves em centenas de militantes.

Assista ao debate e veja as polêmicas em relação a: correlação de forças; onda conservadora; crise de representatividade e socialismo no link abaixo:

http://bit.ly/DEBATEChile

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