E no sindicato, como fica a questão da Saúde Mental?

O sindicato possui internamente empregados, os sindicatários, trabalhadores contratados (terceirizados) e, eventualmente, trabalhadores temporários, mantendo com estes uma relação empregatícia e, assim, adota medidas próprias do empregador, como a negociação de acordo coletivo de trabalho, entabulada pela direção do sindicato e seus empregados. E nesta relação empregatícia, como os sindicatos também são organizações, pode ocorrer violência contra o trabalhador, com consequente prejuízo à sua saúde mental.

Podem ocorrer e ocorreram inclusive nesta gestão, sendo essencial tratarmos do tema, não apenas para conscientizar a todos, diretores e trabalhadores, de que este mal também nos ronda, como também para evitar que tais práticas voltem a ocorrer, pois se a mesma já é inadmissível no âmbito da empresa, mas ainda no âmbito de um sindicato de trabalhadores.

Concretamente, nesta gestão, foi necessário realizar um processo delicado de demissão para equilibrar as contas do sindicato, na qual os diretores que participaram efetivamente do processo se viram em uma difícil e contraditória situação, porém, buscaram efetivar tais demissões com pleno respeito aos trabalhadores. De conjunto, avaliamos ter encaminhado este processo de forma adequada, bem como relativamente a um quadro de vários passivos trabalhistas, com o qual nos deparamos em nossa posse, os quais foram ou estão sendo regularizados.

No entanto, existe uma relação de trabalho e subordinação entre os diretores do Sindicato e seus trabalhadores, que ao longo da gestão sofreram outros tensionamentos típicos dessa relação, mas também extrapolações. Assim, no âmbito dessa gestão, para tratar de denúncia feita por diretores, buscamos estabelecer uma comissão de ética para avaliar as questões, apurar os fatos e encaminhar a partir da diretoria medidas saneadoras. No entanto, de fato, as medidas mais efetivas se deram a partir de reuniões colegiadas, a exemplo da que recebeu o relatório da assessoria jurídica explicitando a complexidade do trabalho executado e se contrapondo à denúncia de aparelhamento, o que foi imediatamente acatado pela Diretoria Colegiada.

Estes já foram fatos diferenciadores dessa gestão, pois se acolheram denúncias que foram encaminhadas à apuração e daí tomaram-se medidas para cessar o assédio sobre os trabalhadores. O que não vimos ocorrer em gestões anteriores. Porém, reconhecemos, apesar disso, o caráter tardio da aplicação de parte das medidas.

A partir daí, os diretores envolvidos nas práticas assediadoras empreenderam uma escalada de abusos e falsas acusações, inicialmente buscando atingir um diretor e a assessoria jurídica da entidade e, num segundo momento, desacatando as decisões da diretoria colegiada, as quais buscavam assegurar o ambiente para o bom trabalho administrativo no sindicato. Várias acusações e insinuações foram espalhadas nos whatsapps da categoria, atingindo indivíduos, grupos políticos que compõem a diretoria ou a direção como um todo (https://sindipetro.org.br/fake-news/  e https://sindipetro.org.br/contas-aprovadas/)  . Paralelamente, dentro do Sindicato mais uma vez foi cometido violência no trabalho, justamente por quem espalhava as “denúncias” e insinuações contra a direção. Ao longo da campanha de ACT_2019/20, chegaram a fazer coro com a diretoria da Petrobrás contra o Sindicato.

Diante de tudo isto, e perante o enorme quadro de ataques que os petroleiros estiveram e estão submetidos, de privatização e demissão em massa, constatamos que: – alguns diretores priorizaram a disputa burocrática interna, sem quaisquer freios morais, negligenciando a defesa da categoria e da Petrobrás, de fato atacando internamente a organização dos trabalhadores;

-nossas dificuldades para enfrentar administrativamente esse tipo de processo interno, preservando as pessoas de maneira eficiente, deixou danos e marcas que persistirão em membros da direção e nos trabalhadores da assessoria jurídica. Até mesmo por estas avaliações, e pela duração das práticas assediadoras, temos uma consequente reação dos agredidos que buscaram sua defesa, inclusive, na esfera jurídica.

Estamos certos de que há um longo caminho a percorrer para aprimorar nossas respostas para esta questão do assédio tanto interna quanto externamente, mas estamos nos esforçando. Ainda, como diretores sindicais, ambiente de ampla disputa política e pressão direta patronal, convivemos com argumentos nada leais contra o conjunto dos trabalhadores e especialmente em relação ao estereótipo impingido contra os “sindicalistas”. Assim, é nosso ofício enfrentar tanto os discursos quanto às práticas desabonadoras e/ou persecutórias.

Também, por isso, auxiliaremos nossos colegas no Sistema Petrobrás, bem como os sindicatários, próprios e terceirizados, na reparação de danos à sua saúde mental decorrentes de práticas abusivas. Também encorajaremos outros trabalhadores que sofram violência psicológica no trabalho, a percorrer todos os caminhos possíveis de responsabilização de seus algozes, incluindo o Judiciário.

A falta de solidariedade, o medo, o corporativismo e, em última instância, o capital – causadores de acomodações psicológicas das justificativas para a omissão – limitam a posição de quem poderia partir para o enfrentamento, fazendo com que passivamente vejamos pessoas morrendo por dentro, solitariamente. Na prática das empresas, profissionais como médicos, assistentes sociais, enfermeiros, advogados e psicólogos são usados para delimitar o papel da farsa e da omissão corporativa quando os trabalhadores levam denúncias, especialmente relativas a assédio individual ou quando já constatam sua institucionalidade.

Por tudo isto é preciso se rebelar, é preciso se indignar e buscar apoio para si e para os outros, pois, do contrário, independente de em qual discurso possa o trabalhador se refugiar, terá perdido para o medo ou atuado contra o conjunto da categoria por covardia e agindo, inclusive, contra aqueles que ama, pois permitirá existir um ambiente negativo. Ninguém está imune ao medo, mas é necessário superá-lo. Diante de agressões indignem-se, busquem apoio, rebelem-se! Ajudemos quem precisa de ajuda, ajudemos a ajudar.

 

Versão do impresso do Boletim 182

 

Destaques

Campanha de Solidariedade

Está aberta uma conta digital (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-a-heroina-que-estancou-sangue-de-vimitima-em-sequestro) para ajudar Patrícia Rodrigues, mãe de três filhos, que perdeu quase tudo em recente enchente no Rio de Janeiro.

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