Fertilizantes: Brasil é o 4º consumidor mundial

Mesmo assim Petrobrás repassa setor ao mercado  e derivados serão ainda mais caros

Continuando o plano de desmonte, a Petrobras ini­ciou a saída do setor de fertilizantes em 11/09, com o processo de venda de 100% da Araucária Nitro­genados S.A. (Ansa), que opera em Araucária (PR), e da Unidade de Fertilizantes-III (UFN-III), cuja planta se loca­liza em Três Lagoas (MS).

A Araucária Nitrogenados entrou em operação em 1982, passando a integrar o portfólio em junho de 2013. Sua capacidade de produção diária é de 1975 toneladas de ureia, 1303 toneladas de amônia, além de 450 m3/dia do Agente Re­dutor Líquido Automotivo (ARLA32), segundo informações da Companhia. A fábrica é vizinha da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), que lhe fornece matéria-prima, e sua aquisição estava alinhada ao PNG 2013-2017, objetivando “complementar nossos demais ativos de fertilizantes, possi­bilitando maior proximidade com os mercados de São Paulo e Paraná, maior disponibilidade de armazenamento e modais de transporte e otimização do mix de produção de cada fábrica para atender aos perfis de seus mercados adjacentes”.

Projetada para utilizar cerca de 2,2 milhões m³/dia de gás natural como matéria prima, a UFN-III terá capacidade diária para produzir 2200 t de amônia, 3600 t ureia e 290 t de CO2.

A escolha do local foi consistente, estando próximo do gás, da água e do mercado consumidor. As obras da UFN-III tive­ram início em setembro de 2011 e foram interrompidas em dezembro de 2014, com 80,95% de avanço físico concluído e um investimento de R$ 3,5 bilhões. A Petrobrás rescindiu o contrato com o consórcio formado pelas empresas Sinopec e Galvão Engenharia, por se recusar a pagar os aditivos de­mandados pela EPCista. A obra passou a ser fiscalizada tam­bém pelo TCU, que identificou irregularidades em pagamen­tos de bens e serviços sem garantias à Petrobrás. A Operação Lava Jato também trouxe à tona o esquema de propinas que superfaturou o valor do empreendimento e desde então te­mos equipamentos hibernando em condições questionáveis e um ativo repetidas vezes depreciado nos testes de impair­ment, criando prejuízos artificiais para a Companhia.

Por que sair do setor de fertilizantes?

A demanda do mercado brasileiro de fertilizantes é cres­cente e bem maior que a produção nacional. O país tem re­levo mundial como importador não só pelo volume consu­mido, mas também por sua demanda sazonal, concentrada principalmente no segundo semestre (os outros principais países compradores concentram suas compras no primeiro semestre). O Brasil possui cerca de 329 milhões de hectares de terras agriculturáveis, e é hoje um importante produtor e exportador mundial de produtos agrícolas e o segundo maior produtor de soja em grãos. Somos o 4º consumidor mundial de fertilizantes, absorvendo 5,9% da demanda global, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da Índia e da China.

A importante participação dos fertilizantes como insumo para a produção agrícola e o deslocamento dessa produção para novas fronteiras tornam essa indústria muito atrativa. Os fertilizantes nitrogenados são fundamentais para dar suporte à expansão da cana-de-açúcar, principal cultura para a produção do etanol. A construção de novas unidades para produção desses fertilizantes é urgente, caso contrário, a dependência de produtos importados será cada vez maior.

Em relação à importância dos produtos comercializados pelas FAFENs, a produção de fertilizantes nitrogenados se insere na cadeia de valor do gás natural, sendo uma alterna­tiva economicamente atrativa para sua monetização.

O ARLA 32 é um produto químico que atua na redução do óxido de nitrogênio (NOx) da emissão veicular, assumindo caráter cada vez mais estratégico, já que por determinação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), toda a fro­ta nacional movida a diesel deve adotá-lo como aditivo. Com isso, estima-se que em pouco tempo o Brasil será um dos três maiores mercados de ARLA no mundo. A Petrobrás Distri­buidora comercializa o produto com a marca Flua Petrobras.

Plano estratégico, mas para quem?

O problema da área de fertilizantes da Petrobrás é uma questão de estratégia interna. O custo do gás natural (ma­téria prima) é um gargalo para as FAFENs, além da com­petição questão de estratégia interna. O custo do gás natural (ma­téria prima) é um gargalo para as FAFENs, além da com­petição desigual de seus produtos com os fertilizantes importados, os quais são isentos de impostos. Temos um portifólio de produtos que atendem tanto ao agronegócio como também a vários outros segmentos industriais. Segue que deveríamos analisar o mercado e as oportunidades para aproveitar os períodos em que a demanda por fertilizantes diminui, vendendo produtos para outros setores. O ARLA 32, por exemplo, será demandando cada vez mais.

O Sindipetro-RJ não tem a pretensão de apresentar solu­ções para todos os problemas, porém é nítido que a direção da Petrobrás poderia trabalhar para reduzir o custo de aqui­sição do gás, bem como atuar junto ao governo para a cria­ção de linhas de financiamento para a aquisição do produto nacional nos mesmos padrões de prazo e juros concedidos internacionalmente. A empresa conta com um corpo téc­nico capacitado o suficiente para oferecer alternativas mais interessantes que a venda dos ativos. Porém, a estratégia se­guida vem de fora; não há interesse em “salvar” a Petrobrás, senão de seu próprio sucesso.

Mais informações disponíveis em http://www.aepet.org. br/noticias/pagina/14184/Grupo-Reage-CENPES-publica­-documento-sobre-a-importncia-das-fbricas-de-fertilizan­tes-para-a-Petrobrs

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