Independência classista de verdade

Não há justificativa para esconder a cara de nossos inimigos

No Brasil, historicamente, e com frequência, a burguesia recorre à narrativa do pacto para evitar a luta de classes, promovendo a “domesticação” da classe trabalhadora. Acordos políticos sempre foram construídos dentro desta linha, desde a era Vargas até os governos petistas. A própria Constituição de 1988 é um grande exemplo disso, embora represente um ganho ante às condições anteriores.

O fato é que o discurso de conciliação é nada mais do que uma armadilha do capital para justificar a chamada “democracia burguesa”, que legitima os interesses dos grandes grupos econômicos, usando o sistema eleitoral e manipulando as políticas públicas do Estado a seu bel-prazer. O socorro dado aos bancos no valor de R$ 1,2 trilhão feito pelo governo de Jair Bolsonaro, diante da crise gerada pela pandemia da COVID-19, exemplifica bem a situação.

Hoje, o modelo neoliberal ciclicamente adotado pelos governos nos últimos 40 anos com mais ou menos força, minimiza o papel do Estado diante da população mas não diante dos interesses do grande capital privado. Esta contradição se estende até as representações políticas e sindicais, que em tese deveriam defender a classe trabalhadora. E podemos citar mais um exemplo disso quando se recorre à narrativa da empregabilidade para justificar a retirada de direitos trabalhistas consagrados há décadas no Brasil.

Não esqueçamos que essa também foi a justificativa para a realização da reforma da Previdência. Ou seja, abra mão de seus direitos para ter emprego, o que Bolsonaro e Paulo Guedes repetem sistematicamente para justificar seus ataques aos trabalhadores.

Ainda neste processo, as privatizações esvaziam e desmobilizam os trabalhadores diante dos apelos do movimento sindical. Tomamos como (mau) exemplo um dirigente sindical que tentou acalmar os trabalhadores de uma unidade da Petrobrás a ser vendida dizendo: “existe vida após a privatização”. A frase resumiu bem como o sistema, através do neoliberalismo, se impregnou no discurso de parte da representação sindical.

A verdade é que a tragédia da pandemia de alguma forma expõe as fissuras do sistema e dá condições de um reordenamento dos movimentos sociais e sindicais na construção de uma nova linha política para mobilizar a classe trabalhadora, mostrando como a desigualdade afeta a vida daqueles que são explorados. E como a política do Estado mínimo não oferece respostas diante da crise.

Por isso, a independência de classe deve ser uma referência, mesmo diante de uma conjuntura nefasta como a que vivemos com o governo de Bolsonaro. Se o objetivo é derrubá-lo, vamos lutar por isso, mas não barganharemos nossos direitos com uma burguesia que só quer defender seus privilégios às custas de nossas vidas.

Versão do impresso Boletim 211

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