Perseguições marcam hierarquias bolsonaristas nas estatais

Uma das empresas anunciadas para a privatização por Paulo Guedes, ainda em campanha com Bolsonaro para a presidência, foi o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO). A estatal tem sido fortemente especulada para a privatização com garantias aos investidores de que seriam mantidos os contratos para o processamento de dados pessoais de interesse do Governo Federal e de outros órgãos públicos.

Nessa esteira de privatizações alucinantes, quem mais sofre ataques dessas hierarquias empossadas por Jair Bolsonaro nas estatais são os trabalhadores. De forma surpreendente, uma denúncia anônima de um bolsonarista chegou à Ouvidoria do SERPRO e o analista de sistemas Fernando Sérgio Gomes, que dos 63 anos de vida está há quatro décadas no Serviço, foi punido por ter enviado aos colegas o seguinte e-mail:

“Pessoal, muitos aqui estão nos grupos de resistência contra as privatizações, o Serpro não está fora da lista, recentemente houve mudança no tempo do acontecer. O grupo RJ Conectado abraça vários colegas que entenderam que somente a resistência pode barrar as atitudes loucas deste desgoverno. 493 trabalhadores da Dataprev estavam prestes a ir para o olho da rua, mas vários grupos se organizaram, tanto WhatsApp como Telegram, e conseguimos suspender a tragédia. Portanto, entendam que nossa luta para manter o teletrabalho é apenas uma parte de um todo”.

Mesmo tendo feito o comentário na rede interna sem veiculação pública que possa ter prejudicado a imagem do SERPRO, Gomes foi punido com dez dias de suspensão e descontos salariais e para ele isso foi um aviso. “Sem nada desabonador (na folha), não fui nem advertido, fui direto para uma suspensão”, disse Gomes ao jornalista Rubens Valente, do portal UOL.

No teletrabalho desde 1986, pelo menos 300 funcionários do SERPRO sofreram com a divulgação da empresa de que a modalidade seria encerrada, ainda mais em plena pandemia. “Isso afeta realmente a cabeça e o sistema nervoso da pessoa. Quase todos ficaram revoltados”, afirmou o trabalhador.

Apesar de Gomes ter recorrido da punição, porque não cometeu injúria ou difamação, a Corregedoria rejeitou a defesa alegando que a mensagem não foi de “interesse funcional”. São, portanto, tempos de se ter cuidado redobrado com delatores e com gestões que perseguem trabalhadores.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 8 milhões de pessoas trabalhando em casa hoje no Brasil e o desafio atual é equilibrar o profissional, física e emocionalmente, com as questões que estamos enfrentando no país, principalmente com a rigidez de metas a serem cumpridas em tempos cada vez mais exíguos, numa das mais graves crises sanitárias da história recente.

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