VIX: sofrimento no trabalho

O Psiquiatra e Psicanalista Professor Christophe Dejours, em seu livro A Banalização da Injustiça Social, afirma: “Marcar as distâncias em relação às vítimas do sistema é um bom meio de negar o nosso medo e livrar a nossa consciência da responsabilidade para com os outros”.

Motoristas que prestam serviços no Cenpes através do contrato da Petrobrás com a empresa Vix enfrentam uma série de situações irregulares no exercício de suas funções. Os trabalhadores afirmam que o sindicato da categoria (Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Nova Iguaçu) e a fiscalização do contrato de transporte são omissos, favorecendo a exposição dos mesmos a riscos para a sua saúde e a acidentes, risco que se estende a todos os usuários dos transportes.

A categoria teve reajuste salarial no dia 2 de julho, com o salário base passando de R$ 1.267,76 para R$ 1.293,12, abaixo do piso de R$ 1.481,29 estabelecido no Acordo Coletivo de Trabalho firmado em julho de 2017, com vigência de 1º de maio 2017 (data-base da categoria) a 30 de abril de 2018. A Vix também adota salários diferenciados para motoristas de veículos leves e para motoristas de vans, apesar de todos dirigirem ambos os tipos de veículos, quando assim determinado.

Além de irregularidades em relação ao ACT, o Sindipetro-RJ, em apoio aos trabalhadores, questiona a postura da fiscalização do contrato da Petrobrás, ao manter vínculo trabalhista com uma empresa como a Vix, notória pela exploração dos motoristas, os quais muitas vezes desconhecem os termos do documento que assinam e, por pressão e necessidade de emprego, acabam aceitando as cláusulas propostas pela contratada, com aval do sindicato inoperante que deveria representar os interesses da categoria.

A situação é ainda pior com a reforma trabalhista, onde vale o acordado sobre o legislado, favorecendo o estabelecimento de uma relação que beira à escravidão: Motoristas de turno não recebem o pagamento dos dias trabalhados nos domingos e feriados; quem trabalha em regime de turno cumpre uma tabela de 4 dias de 12 horas trabalhados por dois de folga (os trabalhadores efetivos da Petrobrás com 4 dias trabalhados folgam 6); a jornada mensal para cálculo de hora extra é acima de 220 horas trabalhadas; os adicionais de trabalho de turno não são pagos integralmente, o tempo de espera (aguardando carga ou descarga, fiscalização de mercadoria em barreiras fiscais ou alfandegárias) não é computado como jornada de trabalho ou hora extraordinária. As horas extras, adicional noturno e respectivos reflexos, quando registradas, são pagas no mês subsequente sem qualquer tipo de compensação.

Além disso, a crueldade da empresa é tamanha que motoristas que sofrem algum acidente com o veículo durante a jornada de trabalho são obrigados a pagar pelo prejuízo, com desconto automático no salário, e ainda recebem advertência, sendo que com três advertências o trabalhador é demitido.

Baixos salários e alta rotatividade

Segundo os trabalhadores, a prática da Vix prejudica a própria contratada, já que os baixos salários e as péssimas condições de trabalho acabam dificultando a contratação de pessoal capacitado para exercer a profissão, resultando em alta rotatividade de motoristas e muitos pedidos de transferência de local de trabalho.

Denúncia na CIPA e comissão local de SMS

O Sindicato já denunciou à Cipa e à comissão local de SMS as péssimas condições de trabalho. Entre elas os riscos à saúde, devido à prática dos veículos serem abastecidos no galpão (garagem) diretamente dos caminhões de gasolina e diesel, no mesmo local destinado a estadia dos motoristas. A falta de renovação da frota também preocupa. Problemas de manutenção e alta quilometragem dos veículos são constantemente narrados, situação que coloca em risco não só os motoristas, mas todos os usuários dos transportes no Cenpes.

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