Morte do operador Rodrigo Antônio completa sete anos

Sindipetro-RJ relembra acidente em caldeira que vitimou de forma fatal trabalhador próprio da Petrobrás na UTE-BLS/BF. Precarização, sucateamento e negligência da empresa com a segurança do trabalho foram os principais fatores no desfecho de uma triste história que está se repetindo dentro do sistema Petrobrás

11 de fevereiro de 2015: o operador Rodrigo Antônio de Oliveira saiu de casa pra trabalhar no turno da termelétrica Baixada Fluminense, uma das duas usinas da Usina Termelétrica Barbosa Lima Sobrinho/Baixada Fluminense (UTE-BLS/BF), em Seropédica. O experiente trabalhador, visto como simpático por todos os colegas que falam sobre ele, não voltou pro seu lar depois do turno.

Vítima de um “acidente” em que teve mais de 70% do corpo queimado pelo condensado (líquido formado quando o vapor passa do estado gasoso pro líquido) de uma caldeira, sofreu dentro da usina esperando uma ambulância chegar (o Sindicato defendia que tivesse o veículo disponível 24 horas no local) e, como não chegou, foi levado pro hospital, em Santa Cruz, com o corpo cozinhando. Num acidente grave, a demora pro socorro adequado é sempre um grande problema. Depois, devido à gravidade do seu caso, foi transferido pro Hospital da Aeronáutica, especializado em queimaduras, no Galeão.

Mesmo assim, pela gravidade das queimaduras, mesmo após lutar bravamente pela vida e, mesmo sofrendo muitíssimo, se manter sempre preocupado em acolher a família, o Rodrigo Antônio não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 22 de fevereiro. Essas duas datas, separadas por onze dias, são extremamente dolorosas pra sua família desde então.

A hierarquia não quis levar em consideração os alertas

E a dor é maior ainda porque se trata de uma morte que poderia ter sido evitada. A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) local havia alertado sobre entupimentos numa tubulação que chegava num tanque ligado à caldeira do “acidente”. A Skanska, transnacional sueca que construiu a usina Baixada Fluminense, buscando a famosa maximização do lucro acima da vida, utilizou um material mais barato, de qualidade inferior ao inicialmente previsto no projeto. Assim, a corrosão da tubulação aconteceu mais rapidamente e isso aumentou demais a pressão na caldeira.

A hierarquia da usina e da Petrobrás não deram atenção a esses problemas e aos relatos de trabalhadores. Além disso, embarcou numa lógica de produção de energia a toque de caixa, em busca de lucro rápido. Se os problemas estruturais e os desvios tivessem sido corrigidos, se os incidentes tivessem sido devidamente tratados, se os acidentes de pequeno e de médio porte tivessem sido levados realmente a sério, se os relatos dos trabalhadores em geral e por meio da CIPA tivessem sido valorizados, o “acidente” que resultou na morte do Rodrigo poderia ter sido evitado. Os estudos sobre segurança do trabalho evidenciam que, quando esses quesitos são deixados de lado, a probabilidade de se chegar a um acidente fatal é grande.

A redução do efetivo, com o aumento da carga de trabalho pra cada trabalhador, a pressão psicológica cada vez maior, seja pela quantidade de tarefas, com prazos exíguos, ainda mais sabendo que pode haver punição se errar um procedimento e resultar num acidente (e tem havido punição mesmo sem qualquer descumprimento de padrões da empresa), seja porque é fácil ver a demissão em massa no horizonte no contexto de aprofundamento aceleradíssimo da privatização, tem amplificado o risco de acidentes e de doenças relacionadas com o trabalho.

Muitas vezes, a pressão psicológica se torna uma violência psicológica mais estruturada, mais ampla e ainda mais recorrente, que adoece os trabalhadores e, ao perturbá-los psicologicamente em alto grau, é outro fator de risco de acidentes (que, se acontecerem, ainda vão acarretar, muitas vezes, em punições pros trabalhadores e quase nunca pra hierarquia). Não são poucas as vezes, inclusive, em que a hierarquia trata os padrões pra inglês ver na hora de exigir o trabalho rápido e de forma draconiana na hora de punir trabalhadores como forma até de se safar (joga a culpa no trabalhador, mesmo se for preciso distorcer as situações, pra esconder seus próprios erros).

O desânimo com o ambiente de trabalho, cada vez mais degradado na empresa, com o estímulo da hierarquia ao individualismo, a uma meritocracia obtusa subordinada à lógica liberal e até nisso falseada pra favorecer sobretudo, sempre, como numa roleta viciada, a alta hierarquia (e, em menor medida, a quem fizer tudo o que a hierarquia mandar), tem aumentado. O tema da crítica à redução do efetivo tem sido recorrente na CIPA local e é um dos principais itens da pauta sindical.

A perversa lógica da tecnocracia privatista

A privatização em curso do sistema Petrobrás tem significado, entre outros males, uma piora acentuada em termos de segurança, saúde e meio ambiente. Pra tecnocracia que comanda a empresa, a vida dos trabalhadores não passa de números na planilha. Se for mais barato pagar indenizações por morte (mesmo assim, geralmente após tentar judicialmente diminuir ao máximo o montante e até nem pagar) do que realmente investir em prevenção, a escolha vai ser por deixar morrer e for obrigada, pagar alguma indenização.

O Sindicato segue na luta pra que a vida esteja acima do lucro.

Apresentamos a seguir o depoimento do Alexandre Sebastião de Souza, o Tião, que trabalhou durante alguns anos na área de manutenção da UTE-BLS/BF, e uma mensagem da dona Deolinda, mãe do Rodrigo.

Eis o depoimento do Tião:

Rodrigo, desde o momento em que cheguei à usina, se mostrou uma pessoa séria e muito comprometida com o bom andamento das demandas. Nos recebeu com muito respeito e profissionalismo. Quando eu ia trabalhar à noite ou nos fins de semana em que era o turno dele, ele sempre “exigia” que eu tomasse um café ou jantasse com ele.
Com o tempo, se demonstrou um excelente colega de trabalho, sempre solícito e presto no ajudar. Muito experiente, o via como um facilitador e parceiro para a manutenção. No fatídico dia, da morte do Rodrigo, estávamos na usina, e recebemos a notícia do gerente da planta. Os serviços de manutenção acabaram sendo cancelados, pois não tínhamos mais condições de continuar. Pedir que Deus console a família, pois a saudade e a lembrança sempre ficam.

Eis a mensagem da dona Deolinda:

Hoje, 22 de fevereiro de 2022, completam-se 7 anos que perdemos Rodrigo. Para nós, familiares, todos os dias são 11 (dia do acidente) e 22 de fevereiro, pois a dor e a saudade são as mesmas.

E por esta dor, nós pedimos a Deus que abençoe todos os trabalhadores, para que nenhuma mãe, esposa, filhos, irmãs, passem por ela. Que todos ao final da jornada de mais um dia de trabalho, voltem para suas famílias em segurança.

Imagem cedida pela família

Agradecemos de coração a todos que ainda se lembram do Rodrigo com saudades e carinho. Ele merece essa lembrança. Um profissional digno, honesto, competente, que amava e respeitava seu trabalho, seus companheiros, pois mesmo estando de folga num dia de Natal (o último da sua vida),questionado o porquê teria que trabalhar, a sua resposta foi: “meus colegas precisam da minha ajuda, e além de tudo, é lá que eu ganho meu pão”.

Esse era o meu filho, Rodrigo Antônio de Oliveira.

Que Deus abençoe e conceda a todos os trabalhadores vida, saúde e paz.

Muito obrigada!

Deolinda, Mãe do Rodrigo.

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