Preço dos combustíveis: desmentindo a falácia da direção da Petrobrás

O medo de uma nova greve dos caminhoneiros, programada para 1º de fevereiro próximo, fez com que a direção da Petrobrás publicasse em seu blog Fatos e Dados, em 14 de janeiro, uma “justificativa” para sua prejudicial política de preços de combustíveis. São seis pontos que rebatemos, um a um. Confira.

1 – O preço do diesel no Brasil é um dos mais caros do mundo?
Não. No início de janeiro, o preço do diesel na bomba era 27,4% inferior à média mundial. Entre 165 países, 121 tinham preço nos postos mais alto do que no Brasil.

Sindipetro-RJ – O preço do diesel pode não ser o mais caro do mundo, mais o real é uma das moedas que mais apresentou desvalorização em 2020, com 28% de queda. É o pior desempenho entre as 30 moedas mais negociadas do mundo, conforme levantamento feito pelos professores da Fundação Getulio Vargas (FGV), Henrique Castro e Claudia Yoshinaga, a pedido da BBC News Brasil. Com a moeda fraca, obviamente que perdemos o poder de compra e sentimos o peso de preços de produtos atrelados ao mercado internacional, como tem sido o caso dos combustíveis desde a implementação, por parte da hierarquia da Petrobras, da política de precificação por paridade de importação (PPI – Preço de Paridade de Importação), em 2016.

2 – O diesel só aumenta de preço?
Não. O preço dos combustíveis pode subir ou descer em função do mercado, são commodities globais. Em 2020, diminuímos o preço do diesel nas refinarias em 14%.
Preço médio do litro de diesel nas refinarias no ano passado:
• 1º de janeiro – R$ 2,33
• 31 de dezembro – R$ 2,02

Sindipetro-RJ – A pandemia fez com que os preços internacionais do petróleo tivessem uma variação negativa em 2020. Estes preços são baseados principalmente no princípio de oferta e demanda, além de fatores atrelados à geopolítica internacional. É por isso que, com a paralisação econômica global causada pela pandemia, não há demanda e os preços caem. As empresas encomendam menos petróleo, as companhias aéreas deixam suas frotas em terra, os consumidores ficam em casa e dirigem menos seus automóveis; daí a variação negativa de 14% informada pela Petrobrás. Mas a realidade é bem diferente para, quem, por exemplo, opera com fretes dirigindo caminhão. Para se ter uma ideia, segundo a Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB), o gasto com combustível de um caminhoneiro autônomo varia de 50% a 60%, valor que vai ser deduzido no frete cobrado por viagem. A PPI, que absurdamente contabiliza todos os custos relativos à importação do combustível, também não permite a percepção de redução de preços do combustível em si, além de todos os impostos aplicados e das margens de lucro das distribuidoras. Adicionalmente, sem a BR Distribuidora como estatal, o controle dos preços torna-se impossível.

 

3 – É a Petrobrás que determina o preço do diesel nos postos?
Não. Nem todo mundo sabe, mas o preço do diesel vendido nas refinarias representa menos da metade (em média, 45%) do preço cobrado nas bombas. O restante corresponde a impostos estaduais e federais, custos adicionais com biodiesel e margem da distribuição e dos postos de combustíveis.

Sindipetro-RJ – A direção usa de um argumento falacioso de culpar os impostos e tributação para justificar o preço dos combustíveis. Além de ter responsabilidade por aplicar a PPI, a direção da empresa vem aplicando um processo de sucateamento de suas 13 refinarias, que têm operado com grande ociosidade ( 28% no 1T2018) , sendo que oito dessas mesmas refinarias estão em processo de venda. Com refinarias ociosas e uma política de preços favorável à importação, o mercado brasileiro acaba atendido pelas empresas estrangeiras e importadores. Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), em dezembro, as importações responderam por 13,7% da demanda por gasolina e 22,9% da demanda por diesel no Brasil.

 

4 – Por que o preço do diesel no Brasil precisa seguir a cotação internacional se o país é um grande produtor de petróleo?
É verdade que o país é um grande produtor de petróleo e gás natural. Mas o Brasil também é importador de diesel e outros combustíveis, em razão de limitações operacionais das refinarias e também da dinâmica do mercado, que leva muitas empresas a trazerem produtos do exterior. Estas importações representam uma competição importante no mercado brasileiro de combustíveis e ajudam a regular o preço oferecido aos consumidores.

O comportamento do preço do diesel não é diferente de outras commodities negociadas no mundo. Quando o preço da carne ou da soja sobe no exterior, pagamos mais por estes itens no supermercado, mesmo que sejam produzidos aqui. É a lógica de um mercado mundial integrado.

Por isto, se o preço do diesel no Brasil ficar abaixo do mercado internacional, nenhuma empresa vai querer importar. A Petrobrás tem duas opções neste cenário: não importar e deixar o mercado desabastecido; ou importar e vender com prejuízo, comprometendo a capacidade da Petrobras de investir e gerar riqueza para o País.

Sindipetro-RJ – Mais uma falácia que revela outra contradição. Ora, dizer que o Brasil precisa importar combustíveis por limitação operacional reafirma o quanto está errada a política atual da empresa de desmontar seu parque de refino, com a venda da maior parte de sua refinarias. A política de preços da Petrobrás (PPI), desde 2016, é de paridade em relação aos preços dos combustíveis importados, considerando todos os custos envolvidos no processo de importação (frete, internação, variação cambial, etc). A prática de preços mais altos que os custos de importação tem viabilizado a lucratividade da cadeia de importação e a competitividade dos combustíveis importados, em especial dos Estados Unidos. Segundo a ANP, de janeiro a julho de 2019, 82% do diesel importado pelo Brasil foi produzido nos Estados Unidos. Da gasolina 71% e do etanol – que ocupa o mercado da gasolina -, 94%. E a quem interessa a PPI da Petrobrás?

 

5 – A Petrobrás poderia baixar o preço nas refinarias?
Se reduzíssemos o preço do diesel nas refinarias independentemente das cotações internacionais, estaríamos repetindo erros do passado, que geraram a maior dívida entre empresas no mundo e quase quebraram a Petrobrás.

Sindipetro-RJ – Quando a Petrobrás foi criada em 1953, após a campanha “O Petróleo é Nosso!”, tinha como finalidade garantir a autossuficiência energética do Brasil, o que ocorreu ao longo dos seus mais de 60 anos de existência. Hoje com suas gestões neoliberais se volta para garantir ganhos dos especuladores do mercado financeiro. Com isso, esquece do seu papel estratégico como indutora do desenvolvimento do Brasil. Deixa de refinar, deixa de construir mais refinarias e deixa de construir aqui navios plataformas, gerando empregos no exterior.
O Sindipetro-RJ e a AEPET já demonstraram sistematicamente que a PPI trás muito mais prejuizos à Petrobrás e à população que qualquer política de preços anterior. Também já foi demonstrado que a Petrobrás nunca estive falida ou perto disso; é a venda de ativos que reduz os lucros e a longevidade da companhia.

 

6 – Então, qual a contribuição da Petrobrás?
Nossa contribuição é gerar valor, investindo para produzir mais petróleo, gás natural e combustíveis a custos baixos, sem desviar do foco em segurança e meio ambiente.

Em 2020, atingimos recordes históricos de produção de petróleo e gás natural e de exportações de petróleo e de óleo combustível.
Resultados como estes significam mais empregos e maiores receitas para os governos municipais, estaduais e federal. A Petrobrás é a maior contribuinte de impostos no Brasil.
Queremos que você conheça a verdade sobre o preço do diesel. Porque, com a verdade, você e a Petrobrás serão mais fortes. E uma Petrobrás mais forte é melhor para o Brasil.

Sindipetro-RJ – Mais uma inverdade. O que se observa na prática é a aplicação de uma política entreguista que desmonta a maior empresa do Brasil, vendendo campos de petróleo, pólos de refino, malhas de dutos, distribuição e outros ativos importantes. O foco somente na produção do Pré-Sal desestimula o desenvolvimento do país e em regiões importantes como o nordeste, por exemplo, que perdem suas operações e assim extinguem-se empregos. Além disso, as direções da empresa, vorazmente, têm atacado o direito de seus trabalhadores com a retirada de conquistas históricas; com demissões e transferências sumárias; punições a quem pensa diferente e por atuação sindical. Hoje, a Petrobrás é uma empresa colonizada que não tem compromisso com o povo brasileiro, mas com seus especuladores que esfregam as mãos quando a direção de Castello Branco anuncia algum teaser para vendas , PIDVs e desinvestimentos.

 

Links de referência:

Fundações de pesquisa científica denunciam desmonte na Petrobrás

https://sindipetro.org.br/fundacoes-de-pesquisa-cientifica-denunciam-desmonte-na-petrobras/

Feirão do desmonte: atacadão da ANP chega à Bacia de Campos

https://sindipetro.org.br/feirao-do-desmonte-atacadao-da-anp-chega-a-bacia-de-campos/

Vendas de ativos continuam na Petrobrás

https://sindipetro.org.br/vendas-de-ativos-continuam-na-petrobras/

Em audiência pública sobre privatização no STF, advogada da FNP desmascara a venda da NTS

https://sindipetro.org.br/em-audiencia-publica-sobre-privatizacao-no-stf-advogada-da-fnp-desmarcara-a-venda-da-nts/

Venda das refinarias: Bolsonaro aumenta preço dos combustíveis para privatizar a Petrobrás

https://sindipetro.org.br/venda-das-refinarias-bolsonaro-aumenta-preco-dos-combustiveis-para-privatizar-a-petrobras/

Na saideira do ano Petrobrás aumenta mais uma vez o preço do diesel e da gasolina

https://sindipetro.org.br/na-saideira-do-ano-petrobras-aumenta-mais-uma-vez-o-preco-do-diesel-e-da-gasolina/

O homem que não gosta da Petrobrás e o conto do vigário

https://sindipetro.org.br/o-homem-que-nao-gosta-da-petrobras-e-o-conto-do-vigario/

Destaques