Saída da Petrobrás dos fertilizantes afeta preços de alimentos

A saída da Petrobrás do segmento de fertilizantes, conforme seu plano de desinvestimentos, conjugada com o aumento dos preços internacionais de insumos como gás natural e potássio, está criando um ambiente de disparada de preços que acaba afetando o preço dos alimentos

O que causa estranheza, e que até contradiz o discurso neoliberal da competitividade e de consolidação de mercados, é que ao longo dos últimos anos os preços internacionais dos fertilizantes e de seus insumos apresentam um cenário de progressão, o que justificaria a continuidade da Petrobrás no setor, ainda mais com o fator do Brasil ser um grande produtor agrícola, afinal se existe demanda, existe mercado. Mas essa máxima não prevaleceu e a gestão da Petrobrás e o Governo Federal resolveram pular fora.

Entrega e hibernação de fábricas
A Petrobrás tinha duas fábricas de fertilizantes no Nordeste, localizadas na Bahia e em Sergipe – Fábrica de Fertilizante Nitrogenados (FAFEN-BA e FAFEN-SE), que foram arrendadas em 2020. Só essas duas fábricas respondiam por 20% da produção de uréia, um dos principais insumos que compõem a alimentação para gado.
Ainda em 2020, o governo Bolsonaro fechou a Araucária Nitrogenados (ANSA) que também produzia ARLA-32, obrigatório na frota diesel brasileira. Também foi criado um “elefante branco”, a UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados Três Lagoas), no Mato Grosso do Sul, que está com suas obras paralisadas desde de 2014, estando 80% pronta. Em 2017, a Petrobrás colocou a fábrica à venda, sob a alegação de não ter mais interesse nesse segmento. Até agora, nenhuma empresa manifestou interesse em comprar a UFN3.

Segundo um levantamento da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), os preços dos fertilizantes sofreram uma alta de mais de 100% no período de janeiro a setembro de 2021. Apesar da produção das fábricas de fertilizantes de Sergipe e Bahia terem sido retomadas nesse ano, após o arrendamento, o Brasil ainda importa quase 85% de fertilizantes nitrogenados.

Ainda no mesmo levantamento, no Brasil, os preços médios da tonelada da uréia acumularam altas de 28,14% em Mato Grosso e de 34,12% no Paraná entre janeiro e julho de 2021. Os valores médios do final do primeiro semestre de 2021 foram os maiores desde outubro de 2008 no Paraná e em Mato Grosso.

Preços de carne e soja sofrem reflexos
O fato é que todo esse ambiente cria uma situação de insegurança alimentar aos brasileiros dada a alta dos preços que geram reflexos no preço final dos alimentos, como podemos constatar diariamente nos supermercados com os preços da carne e do óleo de soja. No caso da carne, em junho, considerando o acumulado em 12 meses, o brasileiro pagava quase 40% mais (38,17%) pelo produto do que um ano antes, conforme reportagem da BBC Brasil, tendo como fonte Consultoria Agro – Itaú BBC. Já o óleo de soja, componente fundamental na cozinha dos brasileiros, está fechando o ano de 2021 mais caro. No mês de novembro, o produto teve aumento de 1,55% segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos últimos 12 meses, o setor de óleos e gorduras teve alta acumulada de 10,93% e os reflexos disso já são encontrados nas prateleiras dos supermercados.

Saída afeta vidas
Neste segmento específico, dos fertilizantes, é notório o quanto a saída da Petrobrás do setor causa prejuízos ao, tão protegido, agronegócio e, principalmente, à população brasileira que sente no bolso, no momento da compra de seu alimento no supermercado, o abandono de uma Petrobrás estratégica para os brasileiros, que atua na soberania alimentar, e voltada para um projeto nacional.

Além disso, não se pode esquecer dos trabalhadores da Petrobrás, terceirizados e próprios, que ao longo deste processo de saída do segmentos de fertilizantes foram desimplantados e demitidos. Ainda temos aqueles que continuaram atuando nas fábricas arrendadas que se viram obrigados a aceitar diminuição de salários e perda de direitos.

Últimas Notícias