Anúncios de intenção de privatização da Petrobrás sempre favorecem especuladores

Por André Lobão

O valor das ações em bolsa variam ao sabor de cada fala de alguma autoridade econômica como Paulo Guedes e do presidente Bolsonaro. Quem está ganhando com isso?

Não é de hoje que o ministro da Economia anuncia sua intenção de privatizar a Petrobrás, seu coro agora é somado ao do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira e de Bolsonaro , que fizeram declarações nos últimos dias anunciando a intenção de entrega total da Petrobrás.

Um ponto que merece observação é que a cada anúncio de intenção de privatização total da Petrobrás, as ações da empresa apresentam altas, um movimento que beneficia claramente aos especuladores. Após a declaração de Bolsonaro nesta quarta-feira (14/10), o papel da Petrobrás (PETR4) teve , no fechamento , uma valorização de 0,17%, sendo cotada a R$ 29,68, o maior valor desde 2008, segundo informa o Google Finanças. Em 2021 as ações tiveram uma variação positiva de 14.68%. Essas ações são as que pagam dividendos, só neste ano esses acionistas já garantiram o montante de mais de R$ 31,6 bilhões.

Na terça-feira (13/10), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, disse que por conta da política de preços da Petrobrás, a empresa deveria ser privatizada. No fechamento do mercado, a ação fechou com uma alta de 1,6%, com o papel sendo vendido a R$29,63. No dia 11 de outubro, no pregão anterior, a ação apresentou no fechamento o valor de R$ 29,32.

No último dia 27 de setembro, o ministro da Economia Paulo Guedes declarou que em um prazo de 10 anos a Petobrás seria privatizada. Neste dia, o valor da ação PETR4 fechou com o valor de R$ 27,14, uma variação positiva de 0,89%, quando comparada com o pregão anterior de 24 de setembro.

Imaginem se, a cada declaração desses agentes públicos políticos, alguns poucos saibam, previamente, o conteúdo e o horário em que elas serão feitas à grande mídia? Qual o potencial de ganhos de seus fundos de investimentos? E fundos de campanha, caixa dois?

O caso Cláudio Costa – o uso de informações privilegiadas

Não custa lembrar que em 29 de março deste ano de 2021, o então gestor de RH, Cláudio Costa, atualmente investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foi demitido por negociar papéis da Petrobrás, a partir de informações privilegiadas sobre a demissão do então presidente Roberto Castello Branco.

Na época, a direção da Petrobrás divulgou a seguinte nota:

“Gerente Executivo de Recursos Humanos foi desligado da companhia na data de hoje (29/03), por ter atuado, em episódio pontual, em desacordo com o disposto na Política de Divulgação de Ato ou Fato Relevante e de Negociação de Valores Mobiliários, que veda a negociação de valores mobiliários de emissão da Petrobras por Pessoas Vinculadas nos 15 dias que antecedem a divulgação das demonstrações financeiras da companhia” – dessa forma lacônica, tirando o peso da gravidade de seu ato. Cláudio Costa, notório afilhado político do governador do estado de São Paulo, João Dória Jr., também perdeu o cargo de Conselho de Administração na Transpetro.

Mídia esconde offshore de Paulo Guedes

Enquanto isso, a grande mídia neoliberal, pelo jeito, empurrou para debaixo do tapete as denúncias feitas pela investigação da Pandora Papers sobre a existência de empresas offshores no exterior de Paulo Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

A cada dia fica evidente que as raposas neoliberais exacerbam na aplicação da política de Preço por Paridade de Importação (PPI), que dolariza os preços de combustíveis como gasolina, diesel e gás de cozinha, criando um ambiente propício para a privatização da Petrobrás. Bolsonaro, Guedes e Arthur Lira usam o argumento da alta dos preços para justificar a entrega da empresa. Canalhas, canalhas, canalhas…

Esquartejamento da Petrobrás

O fato é que já transcorre uma privatização fatiada do sistema Petrobrás desde o ano de 2015, ainda no governo Dilma. Temer aprofundou o processo e Bolsonaro abraçou essa política de Dilma/Temer e tem o levado às últimas consequências. Até julho de 2021, mais de R$ 231,5 bilhões em ativos da PETROBRÁS foram vendidos, segundo o Privatômetro do Observatório Social da Petrobrás (OSP).

Ainda , segundo o levantamento, neste ano de 2021, as principais negociações envolvem vendas da fatia da BR (R$ 11,36 bilhões); da Refinaria Landulpho Alves, a RLAM, adquirida pelo Mubadala Capital, fundo soberano dos Emirados Árabes, por R$ 9,33 bilhões; da Gaspetro, comprada por R$ 1,98 bilhão pela brasileira Compass (empresa da Cosan, uma associação com a Shell); dos 10% restantes da participação da companhia na NTS (R$ 1,883 bilhão) e do Polo de Alagoas (R$ 1,5 bilhão).

O momento é de um chamado à categoria petroleira para um enfrentamento a esse descalabro entreguista promovido pelo governo Bolsonaro , seu preposto neoliberal Paulo Guedes e seu braço direito no parlamento, Arthur Lira. Os especuladores só fazem ganhar mais dinheiro com privatizações e aumento de preços dos combustíveis. É hora de dar um basta na pilhagem contra a Petrobrás e o Brasil!

 

Imagem: Pablo Valadares/Agência Câmara

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