BR Distribuidora, sem luta o futuro é sombrio

Com a recente privatização os trabalhadores da BR Distribuidora encaram neste momento um cenário real de perda de direitos e desemprego. As ações da empresa foram partilhadas entre bancos e concorrentes da própria BR e a direção coloca em prática uma política de terror, a toque de caixa, que impôs um programa de demissão voluntária com prazo determinado de 10 dias para adesão.  Mas por que a situação chegou a esse ponto? Os trabalhadores da empresa não tinham ideia do que iria acontecer? Houve falha do movimento sindical? Qual será o futuro da BR Distribuidora e de seus empregados?

Para responder a essas perguntas conversamos com a presidente do Sitramico-RJ, Ligia Deslandes .

Qual a sua visão de perspectiva de futuro para a BR?

A meu ver, a direção que está hoje no comando da BR Distribuidora visa acabar com a empresa. Primeiro porque querem demitir os trabalhadores concursados, segundo, porque a maioria das ações da BR foi comprada por banqueiros, também sendo divididas entre as suas maiores adversárias, como a Ipiranga e a Raízen. Há na gestão da empresa pessoas da Shell, da antiga Esso, Cosan e da própria Raízen. Para essas empresas é muito bom a BR Distribuidora acabar. Nesta situação precisamos saber o que vai acontecer com a Petrobrás, já que ela é detentora dos direitos da marca.

Segundo os novos donos, todas as questões serão resolvidas, tudo é muito simples. Na nossa avaliação nada é simples, pois milhares de pais e mães de família perderão seus empregos.

O que poderia ser feito para ter evitado essa situação?

Desde 2016 nós estamos fazendo várias coisas, como aquela greve de cinco dias contra a privatização que naquele momento foi um sucesso, como criamos outras estratégias ao longo desse período em que ocorreu uma primeiro IPO que não a privatizou totalmente como ocorreu agora. Entendemos que neste momento devemos investir na defesa dos trabalhadores de todas as formas, inclusive no ambiente jurídico. O Sitramico-RJ está fazendo isso, fizemos processos contra a privatização que ainda estão em andamento. Entramos com processo na Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), até junto com sindicatos de petroleiros.

Continuamos tentando via TST (Tribunal Superior do Trabalho) manter a data-base de setembro, que essa direção tenta mudar para janeiro, junto com as outras distribuidoras; iniciamos processos contra o plano de cargos que a empresa instituiu, também contra o PDO; denunciamos ao MPT (Ministério Público do Trabalho) o assédio moral e terrorismo psicológico cometido pela direção da BR. Enfim, são várias ações que o Sintramico-RJ fez para enfrentar a situação.

Além disso, nós temos um problema sério de unidade na categoria. Temos a Fetropol/SP (Federação dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo no Estado de São Paulo) que agrega nove sindicatos da região daquele estado; temos a Fetramico (Federação Nacional dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo) que tem vários sindicatos espalhados pelo Brasil, da qual não fazemos parte. Na realidade fazemos parte de um grupo que é a FNT (Frente Nacional dos Trabalhadores da BR). Estamos tentando desde 2015 unir esses sindicatos todos, não só nas lutas da BR, como em todas as lutas dos trabalhadores.  Isso estava sendo difícil, mas há cerca de três meses conseguimos construir uma unidade para que esses sindicatos pudessem estar juntos, inclusive nas questões jurídicas, que era uma coisa que queríamos fazer a muito tempo e só agora conseguimos realizar.

Então, quando conseguimos fazer essa unificação ficou mais fácil de debater os assuntos para escolher as melhores teses e quais as possibilidades de construção da luta jurídica.

Sobre a luta em si, temos conversado com os trabalhadores dialogando o tempo todo sobre a necessidade da luta que é importantíssima para nós, não basta somente realizar a luta no campo jurídico. Se não tivermos o respaldo da categoria para irmos à luta numa paralisação e uma greve não teremos condições de ir além do que já estamos fazendo. Isso tem sido colocado para a categoria de forma que possamos tentar construir, no momento certo, já que estamos com o dissídio coletivo em andamento no TST. Na verdade, a parte jurídica está sendo feita há muito tempo, mas infelizmente a BR, mesmo com nossa atuação jurídica, tem desrespeitado até mesmo o TST. Para a direção da empresa tudo tem que ser feito de forma rápida, não respeitando nada, por ser uma empresa privada. Inclusive saem da forma de tratamento das outras empresas, pois por incrível que pareça, a Ipiranga e a Raízem não agem desta forma como a nova BR está agindo.

Como defender esses trabalhadores?

A perspectiva do desemprego, por conta deste governo que aí está, tem sido um fator que complica muito a situação dos trabalhadores da BR. O medo tem sido a tônica mais que o desejo de lutar por seu emprego.

Todos nós, dos sindicatos petroleiros, deveríamos estar na luta desde o início deste processo em 2015, entabulado uma estratégia jurídica, com uma conscientização maior do trabalhador da BR Distribuidora e da Petrobrás, entre outras empresas do sistema. Deveríamos ter sido mais enfáticos ao conscientizar que a luta seria dura e que tudo isso que acontece hoje era uma realidade próxima. Agora estamos aprendendo a duras penas, os trabalhadores vão passar por situações terríveis, coisas que são novas para nós também, que nunca tínhamos passado antes e vamos ter que descobrir formas mais criativas para poder lutar contra isso aí. Porque agora estamos em um ambiente difícil, numa conjuntura bastante adversa, mas estamos na luta.

Destaques

Campanha de Solidariedade

Está aberta uma conta digital (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-a-heroina-que-estancou-sangue-de-vimitima-em-sequestro) para ajudar Patrícia Rodrigues, mãe de três filhos, que perdeu quase tudo em recente enchente no Rio de Janeiro.

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