Castello Branco foi demitido, e agora petroleiros?

Sindicatos e federações precisam continuar a lutar em favor da Petrobrás e da categoria, não se deixando levar pelo canto do escorpião de Bolsonaro

A saída de Roberto Castello Branco do comando da Petrobrás, na última sexta-feira (19/02), demitido sumariamente por Bolsonaro, para muitos analistas representa uma ruptura do governo com o modelo neoliberal. Para se ter uma ideia do que isso representa já na própria sexta as ações de mercado da Petrobrás, antes mesmo do anúncio da demissão, registravam uma queda de sete porcento. Nesta segunda-feira (22/02), a queda atingiu 20%.

Castello Branco era claramente um preposto do mercado financeiro com a missão de desmontar e privatizar em partes a maior empresa do Brasil, e Bolsonaro sentindo que a barra iria pesar para o seu lado, com quedas em sua popularidade e medo de um movimento grevista de caminhoneiros, resolve colocar o “dedo” na Petrobrás e desprezar a influência do mercado ao nomear o general Joaquim Silva e Luna.

A mídia liberal informa que Castello Branco foi demitido entre outros motivos por se recusar a pôr R$ 100 mi em patrocínios da Petrobrás nas redes de televisão Record e SBT, cujos donos são respectivamente Igreja Universal e o empresário Silvio Santos, notórios apoiadores do governo Bolsonaro.

Já Bolsonaro em fala a seus apoiadores nesta manhã de segunda, na saída do Palácio da Alvorada, disse que era um absurdo o ex-presidente da Petrobrás estar em teletrabalho há 11 meses: “O atual presidente da Petrobras está há 11 meses em casa sem trabalhar, trabalha de forma remota. Agora o chefe tem que estar na frente, assim como seus diretores. Isso para mim é inadmissível. Descobri isso há poucas semanas, imagina eu presidente em casa com medo da COVID-19, ficando aqui o tempo todo aqui no Alvorada? Não justifica isso aí”, condenou o presidente.

Castello diz que não larga o osso

Por sua vez, Castello Branco através de uma das porta-vozes do neoliberalismo, a jornalista Miriam Leitão, manda avisar que não “larga o osso”. Disse a colunista em seu blog no jornal O Globo: “O economista Roberto Castello Branco decidiu que não vai renunciar e ficará até o fim do mandato, dia 20 de março, no cargo. Nesta terça-feira (23/02) tem a reunião do Conselho de Administração (CA) da empresa. Resta saber quem manda…

Cenário de luta da categoria

Diante dos acontecimentos a categoria petroleira analisa com muita atenção essas mudanças e os rumos que a Petrobrás tomará nos próximos dias com essa guinada do governo Bolsonaro.

A nova gestão da empresa vai de fato abrir mão da famigerada política atrelada à PPI (Preços de Paridade de Importação), que fez disparar os preços dos combustíveis nas refinarias em 34%, desde 1º de janeiro deste ano, afetando os caminhoneiros e o conjunto da sociedade? O plano de desmonte e privatização da Petrobrás, que inclui a venda de oito refinarias, sendo que a RLAM está com seu processo de conclusão anunciado para um fundo de investimento dos Emirados Árabes, o Mubadala, será suspenso ou terá continuidade?

E a situação dos empregados da empresa que serão chefiados por um general ? Como será a relação da nova direção com os trabalhadores e os sindicatos da categoria ? Vai continuar o tratamento dado pela gestão neoliberal de impor acordos sem condições de negociação como aconteceu no último ACT? Haverá um endurecimento ainda maior com o general cortando ainda mais o já difícil diálogo?

E após essa fala de Bolsonaro, um negacionista da pandemia da COVID-19, sobre o teletrabalho de Castello Branco, como isso vai de fato afetar a atual situação dos demais empregados da empresa que atuam em homeoffice?

Quaisquer que sejam as respostas para essas perguntas, o certo é que o Sindipetro RJ tomará todas as medidas para assegurar que o teletrabalho permaneça enquanto durar a pandemia, seguiremos na luta para que todas as medidas sanitárias sejam cumpridas e para que a Petrobras ofereça uma política de preços que não prejudique o povo brasileiro beneficiando importadoras estrangeiras e pare o desmonte e a privatização. Neste momento de incertezas a luta da categoria deve seguir em frente e não arrefecer.

O Brasil não terá condições de avançar na garantia da soberania popular e da transição energética, enquanto a Petrobrás estiver sob o jugo do mercado e de um governo de extrema-direita, amplamente militarizado, que está aí só para destruir direitos dos trabalhadores.

Vamos sempre desconfiar de bravatas, arroubos e nomeações baseadas em patentes militares. A nossa luta segue e precisa se fortalecer com a união e a participação dos trabalhadores. Só a luta pode virar o jogo. Fora Bolsonaro e seus milicos de estimação e fora os neoliberais que só querem sugar a Petrobrás!

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