Na sexta (19), foi divulgada pesquisa feita pela Datafolha onde 50% dos eleitores entrevistados veem a possibilidade de haver uma nova ditadura no Brasil. Desses, 31% avaliam que há muita chance de uma nova ditadura no país e 19% acham que há um pouco de chance. Apenas 8% não opinaram neste levantamento, feito nos dias 17 e 18 de outubro com 9.137 entrevistas presenciais com eleitores em 341 municípios de todas as regiões do País.

Mulheres Unidas contra o fascismo

No sábado (20), foram registradas manifestações contra o fascismo, pela democracia e pela vida das mulheres em pelo menos 29 cidades brasileiras e também no exterior. No Rio de Janeiro, 30 mil pessoas, segundo a organização do evento, participaram da passeata que, após concentração na Cinelândia, seguiu rumo aos Arcos da Lapa. Suprapartidária e convocada pelas Mulheres através das redes sociais, a manifestação fez homenagem especial ao mestre Moa, assassinado no dia da votação do primeiro turno em 04 de outubro. Destacaram-se placas com retratos de vítimas da ditadura, como o jornalista Vladimir Herzog.

Em 25 de outubro de 1975, durante a Ditadura, Vladimir Herzog era diretor de Jornalismo na TV Cultura e foi prestar depoimento no DOI/Codi, mas morreu sob interrogatório com tortura: o assassinato foi mascarado pelos militares como suicídio por enforcamento

 

Contra a violência de Estado

Não é à toa que o Brasil passou por uma “abertura” política gradual e “segura”. A história da sociedade brasileira pré-1964 registra grandes mobilizações de trabalhadores, como por exemplo o “grevão” dos 700 mil em São Paulo que reuniu inúmeras categorias e conseguiu aumento salarial de 80%. Ao buscarem aproximação, operários e camponeses poderiam alcançar importantes conquistas e tornaram-se uma ameça. Entre 1964 e 1985, o Brasil foi tomado pelo regime ditatorial imposto por um grupo de empresários e militares. Líderes do governo deposto e de todas as organizações que exigiam as reformas de base, como a reforma agrária, foram presos ou exilados. As garantias constitucionais foram suspensas. O período foi marcado por corrupção. Não por acaso, a Odebrecht tornou-se uma gigante naquela época. Sem liberdade de imprensa para denunciar os saques aos cofres públicos, os militares Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo comandaram a festa do superfaturamento, comprovada entre poucos documentos que vieram a público. A inflação beirou os 250% (IGP) no ano em que Figueiredo deixou a presidência. Houve perseguições, prisões com tortura e centenas de assassinatos. Somente em 1989, houve eleição direta para presidente, mas os crimes cometidos pelos agentes da ditadura mantiveram-se impunes.

Para analistas do legado da Ditadura no Brasil, o comportamento do eleitor exige profundas reflexões. Segundo o Grupo Tortura Nunca Mais-RJ¹, por exemplo, que há 33 anos luta de forma suprapartidária e denuncia a continuidade de violências contra os setores mais oprimidos e explorados no Brasil, é urgente agir contra a violência de Estado. “(…) temos alertado para a escalada fascista em nossa sociedade, que nunca deixou de ser racista, machista, classista, LGBTfóbica… E é um erro considerar que essas violências não vão aumentar exponencialmente com a vitória eleitoral do fascismo. (…) Temos certeza que os problemas de hoje têm ligação direta com o(s) passado(s) não contados, especialmente, não tendo sido feita a ABERTURA DOS ARQUIVOS DA DITADURA (…)”, afirma o Grupo, em Manifesto lançado sobre o processo eleitoral 2018.

1. O GTNM-RJ é um movimento criado por pessoas que foram presas, torturadas, exiladas, que tiveram suas identidades arrancadas pela ditadura empresarial-militar, ou que viram essas atrocidades acontecerem com seus amigos e familiares.

Destaques