Encontro da nova DTDI e os casos de assédio: um festival de despreparo

O último encontro da DTDI, nesta segunda, que inaugurou a comunicação da gestão do novo diretor para os petroleiros dessa área, foi um festival de despreparo. Diante de tema e aparição de casos tão sérios de assédio, esperava-se muito mais como resposta corporativa

 

Ainda que possivelmente redundante, dado o nível de publicidade que os fatos tomaram, vamos resgatar os acontecimentos recentes. Após longos meses de uma suposta apuração pela Petrobras sobre denúncias múltiplas e graves de violência e assédio sexual no CENPES, o Sindipetro-RJ é comunicado por petroleiros sobre o problema e solicita reunião e esclarecimentos, em setembro de 2022. Sem qualquer efeito prático, já em dezembro, lançamos matéria no boletim denunciando o caso e cobrando ações. Mais uma vez, sem o mínimo de respostas aceitáveis. Só bem recentemente, quando o caso chegou a órgãos de imprensa que publicaram matérias sobre o vergonhoso escândalo, a gestão se mexeu e desligou o acusado. Em ato contínuo, em clima de consternação e sororidade, o grupo de mulheres petroleiras com participação do sindicato decide coletar relatos de vivência de casos de assédio moral e sexual contra elas na companhia. O documento com dezenas de relatos revoltantes viralizou, gerando comoção e profundas reflexões, mais uma vez indo parar na imprensa.

Esse foi o contexto do encontro da DTDI, que aparentemente precisou readequar sua pauta de forma não planejada. Afinal, o que explicaria um evento com 5 homens e apenas 1 mulher para discorrer prioritariamente sobre tema tão sensível às petroleiras? E o que dizer da contradição da discussão ter sido conduzida de forma protagonista (pra não dizer quase monopolista) por um gerente bolsonarista enquanto falava em “humildade” e informava não ser especialista no tema, mas ainda assim fez uma fala ensinando para as mulheres ali presente o que é assédio? Tantas mulheres na diretoria, será que não tinha nem uma que pudesse falar nesse evento ao invés dele? O resultado foi uma sequência de falas equivocadas que mais atrapalham do que ajudam (como comparar o crime assédio com uma doença). Essa comparação, por sinal, é uma típica caracterização de quem não conhece sobre o tema e o simplifica. Um enquadramento raso e preguiçoso de quem não entende que as causas destes crimes têm a ver com impunidade, acobertamento e normalização oriundos da cultura machista impregnada em todos nós. É, portanto, obtuso atribuir a causa a “uma doença”, algo supostamente externo e quase fortuito.

Como de costume, o bolsonarista aproveitou para gastar minutos desse curto evento para se promover, tentando dar credibilidade as ações, exibindo fotografias de auditórios lotados… Imagine auditórios lotados de mulheres para assistir um bolsonarista as ensinarem o que é assédio!

Depois disso ele veio com pérolas como “agimos rápido no caso do CENPES”. Foi realmente rápido. Logo depois que saiu na Globo, o cara foi demitido.

Se pelo menos acertaram nas mensagens de “mulheres não se calem” e “homens não se omitam”, faltou simplesmente: “os que são parte do problema, se calem!”

 

Homens: se você não é parte da solução, você é parte do problema.

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