Redução de direitos e salários dos petroleiros, diante do aumento de “prêmios” à alta gerência

Num momento de negociação de ACT em que a empresa propõe reduzir salários, contraditoriamente, a direção aumenta seus próprios salários através da criação de atalhos para engordar os seus ganhos

Em resposta à Coluna Esplanada, assinada pelo jornalista Leandro Mazzini, sobre o informe publicado nesta quarta-feira (27), em veículos da mídia impressa e digital, entre eles o site o Dia: “A petroleira (Petrobrás) ganhou tanto dinheiro que acaba de pagar, em julho, numa tacada só, R$ 1 bilhão de prêmios para os servidores”, cabe um esclarecimento.

Nos últimos anos, a Petrobrás tem apresentado resultados que se confrontam nitidamente com o discurso de que estava quebrada. E ótimos resultados, especialmente ao seu acionista majoritário, entre impostos, contribuições, royalties e participações, a empresa, em 2013, início da decantada crise, pagou R$ 110 bi. Já em 2018 esse valor chegou a mais de R$ 182 bi, apesar dos acordos do tipo Class Action nos EUA, com o pagamento de indenizações vultosas, que culminaram com a criação do conhecido fundo da Lava Jato de R$ 2,5 bi; da antecipação do pagamento de dívidas ainda não vencidas; uso de metodologias de depreciação de seus balanços contábeis, como impairments.

Pelo visto, o prezado colunista desconhece a atual política de Remuneração Variável (PRVE/PPP) que a direção da empresa implementou sem consultar as representações sindicais, e em detrimento da PLR dos trabalhadores.

Neste modelo, em que muitos nada ganham, outros poucos recebem bônus gigantescos, concentrando a maioria das “premiações” nos cargos de alto escalão.  O atual presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, poderá vir, por exemplo, a receber um prêmio equivalente a mais de 1.000 vezes sobre o salário de um trabalhador iniciante na empresa!

Senão vejamos: enquanto um trabalhador ganha de “prêmio”, por exemplo, a partir do valor, aproximado, de R$1.500,00, a gerência e a direção, poderão ganhar 300 mil, 400 mil, UM MILHÃO e MEIO. Isto é, até mais de 1.000 vezes o que o trabalhador de menor remuneração receberia do PPP na empresa, a partir da aplicação do fator mínimo de 0,4 vezes. Um verdadeiro disparate de desigualdade!

Dinheiro das privatizações para premiar o alto escalão

Em abril último, o gerente executivo de gestão de pessoas da Petrobrás, Cláudio Costa, atrelou o aumento da remuneração dos funcionários da empresa à privatização. Segundo ele, “os funcionários e executivos só vão chegar ao topo da remuneração com o desinvestimento (apelido para privatização), porque as metas financeiras incluem a desalavancagem (redução do compromisso do caixa com o pagamento da dívida), que depende da venda de ativos” – confessou.

Pior, o foco neste tipo de incentivos de curto prazo (ICP), de fato, contribuem para a destruição da Petrobrás, também no curto prazo, especialmente, quando se trata do plano de remuneração da carreira gerencial e da alta direção que, propõe o modelo que lhes interessa e se “autopremiam” por maximizar os lucros no curto prazo, independentemente de destruírem valor a médio e longo prazos. Vide os planos vigentes de venda de ativos (Refinarias, Cessão Onerosa, Logística etc.) e de redução de efetivos, e até de investimentos ou as políticas de subsídios aos combustíveis e/ou de vinculação aos preços internacionais; etc.

Não foram “as práticas de mercado” que colocaram a Petrobrás como líder no país e uma das maiores empresas de energia do mundo. Pelo contrário, foi o desenvolvimento de suas próprias tecnologias, procedimentos e processos que a fez crescer, isso com o protagonismo da sua força de trabalho, não do alto escalão.

Por tudo isto, e pelo histórico de presidentes e diretorias diretamente envolvidas em corrupção contra a Petrobrás, ainda, por, no momento, o atual presidente nomeado ser, explicitamente, contra a empresa, tendo como sonho a sua privatização, é absolutamente temerário se instituir um plano de remuneração da direção e da alta gerência com qualquer incentivo de curto prazo.

Empregados da Petrobrás trabalham em regime de CLT

Outro ponto no qual indicamos uma incorreção é sobre a afirmativa em dizer que os trabalhadores do sistema Petrobrás são “servidores”, o que não corresponde à verdade. Os empregados da Petrobrás são selecionados por concurso público, mas seus contratos de trabalho estão submetidos à CLT, o que difere do servidor público que detém suas próprias garantias.

É importante dizer que estes empregados do alto escalão da empresa, que ocupam cargos de gerência executiva, entre outros, na hierarquia da companhia, são escolhas políticas determinadas pelo governo federal a partir de acordos político-partidários. Como exemplo disso, podemos citar o próprio presidente Roberto Castello Branco, escolhido e sabidamente apadrinhado politicamente pelo ministro da Economia Paulo Guedes; e de Cláudio Costa,  atual gerente executivo de GP (Gestão de Pessoas) da empresa, com uma indicação também política do atual governador de São Paulo, João Dória (PSDB).

Por fim, cabe dizer, que infelizmente o informe da Coluna Esplanada fortalece o senso comum de que o funcionário da Petrobrás ganha o que não fez ou faz por merecer, em um momento que a direção da Petrobrás propõe, na negociação de ACT, reduzir salários e direitos da maioria dos petroleiros, contraditoriamente, enquanto lucros e resultados são crescentes – apesar dessa atual direção e das anteriores – e enquanto dobra os ganhos dos acionistas e dá prêmios à alta gerência (múltiplas remunerações).

Tristemente, o gerente de RH de Dória e Bolsonaro trabalha para tirar direitos do bolso dos trabalhadores e aprofundar mais ainda a crise na economia do país, especialmente de todo o Estado do Rio de Janeiro.

No mais, nos colocamos para outros esclarecimentos necessários que ajudem a não estigmatizar ainda mais a imagem dos empregados da Petrobrás.

 

Sindipetro-RJ/FNP

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