A Petrobrás e o jogo de cena da responsabilidade social

O “sedutor” capitalismo usa os meios de comunicação para falsear uma imagem perante a opinião pública de “bonzinho” e de que é comprometido com a bandeira da responsabilidade social. Dentro do JN foi criado um quadro chamado “Solidariedade S/A” em que reportagens institucionais, mais conhecidas no meio jornalístico como “jabá”, tentam mostrar o que as grandes empresas têm feito para mitigar os efeitos desta crise junto à população.

Na edição desta terça-feira (12), a bola da vez foi a Petrobrás que teve apresentadas suas ações como a doação três milhões de litros de combustível para ambulâncias e veículos que transportam equipes médicas e equipamentos de hospitais de campanha em todo o Brasil. Além dos combustíveis, a reportagem informa que a empresa doou 600 mil kits de testes, máscaras, material de higiene e segurança, num total de R$ 30 milhões.

Já na área tecnológica, a Petrobrás criou uma estrutura científica, que em conjunto com a Coppe-UFRJ está desenvolvendo ventiladores pulmonares mecânicos mais baratos e mais simples de montar. E ainda que a Petrobrás também cedeu o uso de dois supercomputadores para a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que realiza uma pesquisa sobre medicamentos e vacinas para combater a pandemia.

No Brasil, foi desenvolvida uma parceria com o Hospital das Clínicas da USP, a Petrobrás está apoiando o desenvolvimento de uma plataforma digital que interpreta imagens de raios X, o que pode ajudar no diagnóstico da COVID-19. “É hora de exercer a cidadania corporativa. Todos nós temos que nos unir, a Petrobrás, empresas privadas, para mitigar o impacto dessa crise sobre o nosso país”, afirmou Roberto Castello Branco, presidente da Petrobrás. É obvio que são medidas louváveis da companhia, mas sabemos que ela pode fazer muito mais dada a sua magnitude.

Porém, o que se cobra é que a direção tenha esse mesmo comportamento para com seus funcionários que sofrem com sua negligência e demora em tomar medidas adequadas nas suas áreas de produção e refino para proteger os trabalhadores.

Em realidade, Castello Branco, que participa da reportagem com uma fala, tenta usar os meios de comunicação para fazer uma promoção pessoal e do modelo de sua gestão neoliberal que a Globo faz questão de enaltecer em sua programação, desde programas matinais, novelas e telejornais que exaltam o empreendedorismo, para justificar o desemprego e a política econômica com o claro intuito de minimizar os efeitos danosos para o país.

Com a crise da pandemia da COVID-19, a burguesia brasileira deixa a mostra suas contradições. Um exemplo disso se dá na grande mídia em veículos como as Organizações Globo que dentro da sua principal atração jornalística o Jornal Nacional, ao mesmo tempo em que detona o governo Bolsonaro e abraça sistematicamente sua política econômica orientada pelo ministro Paulo Guedes, sob os pilares do que há de mais radical no liberalismo como o desmonte do estado, entrega de recursos estratégicos e a privatização.

A hipocrisia emerge a partir das medidas de afrouxamento do isolamento social, propostas criminosamente por Bolsonaro, apoiadas de forma não mais camuflada pelo empresariado brasileiro, como pode ser visto na marcha dos representantes do capitalismo no dia 07 de maio rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF), para exigir medidas contra o isolamento social em vigor nos estados. Cabe lembrar que nesta mesma caminhada estava presente Paulo Guedes, o mesmo que indicou Castello Branco para a presidência da Petrobrás, e sabemos que o presidente da empresa e Guedes comungam do mesmo ideário. Ou seja, o presidente da Petrobrás, por princípio, é contra as medidas de isolamento social, e é preciso que a categoria petroleira esteja atenta para isso.

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