31 de março: dia da infâmia e da vergonha

Além das mais de 312 mil mortes que Jair Bolsonaro carrega neste momento por ter ajudado a disseminar o coronavírus entre os brasileiros, ele quer comemorar as pelo menos 434 mortes e desaparecimentos políticos entre 1964 e 1988 que ocorreram durante a ditadura militar

 

Por quatro votos a um, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) aprovou recurso da Advocacia-Geral da União que defende o direito do governo Bolsonaro de realizar festividades em alusão ao golpe civil-militar de 31 de março de 1964.

Para refletirmos sobre o que representou os 21 anos de ditadura no Brasil é importante que conheçamos os bastidores e porões dessa história. A partir da produção do caos, venderam a ordem através do terrorismo de Estado com ocultação de cadáveres, estupros, assassinatos, censura e muita corrupção.

Trabalhadores na Cidade

No período anterior ao golpe, a classe operária realizava lutas extremamente importantes e assim arrancava conquistas sociais. Não por acaso, o primeiro alvo dos militares depois do golpe foi a classe operária. Isso era uma exigência dos empresários que patrocinaram o golpe, junto com a embaixada dos Estados Unidos. A ditadura liquidou conquistas históricas da categoria, prendeu e torturou lideranças dos sindicatos.

Consenso?

O golpe não foi um consenso entre os militares. Houve resistência sim. Mas as Forças Armadas logo aprisionaram soldados e suboficiais. Muitos deles foram torturados, conforme mostra levantamento da Comissão da Verdade que aponta tortura ou expulsão de 6.591 homens das Forças Armadas.

No Campo

No campo, houve massacre brutal com a morte de 8.350 indígenas e 1.196 trabalhadores rurais, conforme constam na descoberta do Relatório Figueiredo e no relatório final da Comissão Camponesa da Verdade em 2014.

Barbárie

Os generais sabiam de todo esse extermínio. Um memorando da CIA (serviço de inteligência dos EUA), que fala sobre a “decisão do presidente brasileiro, Ernesto Geisel, de continuar com as execuções sumárias de subversivos perigosos sob certas condições” é prova disso. A barbárie da ditadura é exposta com toda sua crueldade neste memorando pela CIA, que foi aliada dos militares brasileiros.

Contrabando

Entre os vários episódios que envolveram o governo militar, estão os de contrabando dentro do Batalhão da Polícia do Exército no Rio de Janeiro em 1970. O capitão Ailton Guimarães Jorge, que recebeu Medalha do Pacificador por combater a guerrilha, foi um dos integrantes da quadrilha que comercializava ilegalmente caixas de uísques, perfumes, roupas de luxo, inclusive roubando a carga de outros contrabandistas. Presos pelo SNI, foram inocentados por terem sido torturados. O capitão chegou a ser, depois que deixou o Exército, presidente da Liga das Escolas de Samba, patrono da Vila Isabel e liderança do jogo do bicho no RJ.

Marajás

As mordomias do regime foram denunciadas em 1976 em reportagens do jornalista Ricardo Kotscho. Ministros e servidores dispunham de regalias como piscina térmica, 28 empregados, casas de veraneio com empregados, US$ 27 mil para comprarem mobílias, cabos e sargentos prestavam serviços domésticos, compra de alimentos em quantidades desmedidas como 6.800 pãezinhos num mesmo dia.

Corrupção

A ditadura militar enriqueceu empreiteiras, desviando verbas na construção da Ponte Rio-Niterói e da rodovia Transamazônica. Em processo no Cade, foi apurado que houve formação de cartel de multinacionais no Brasil e pagamento de subornos. Em 1976, a General Electric no Brasil admitiu que pagou comissão a alguns funcionários para vender locomotivas à Rede Ferroviária do Brasil. Em 1969, uma Junta Militar aprovou um decreto-lei que destinava fundos especiais para a compra de 180 locomotivas da GE. Vale citarmos também os escândalos da Agropecuária Capemi, empresa dirigida por militares, que desviou pelo menos US$ 10 milhões para beneficiar agentes do SNI em 1980.

Quem poderia, numa democracia, querer festejar uma ditadura de assassinos torturadores corruptos?

Para o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, “o dia 31 de março sempre será, na história deste país, o dia da infâmia e da vergonha. A democracia não aceita que o ocupante do lugar da Presidência atente tão abertamente contra ela, saudando aqueles que a destruíram”.

O assunto chegou ao TRF-5 em 2020 depois que a deputada federal Natália Bonavides pediu que fosse retirada uma nota do site do Ministério da Defesa que defendia o regime militar (1964-1985). Bonavides declarou nas redes sociais que a decisão do Tribunal é “Inaceitável. Mais do que nunca é hora de defender a vida, não de comemorar mortes!”.

Indicação de 18 filmes disponíveis no YouTube sobre a ditadura: http://sindipetro.org.br/dicas-de-filmes-sobre-a-ditadura-militar/

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