A direção da Petrobrás anunciou que o restaurante Demi-Glace está instalado no 24º andar do EDISE desde 13 de janeiro. Além de anunciar, permitiu que o próprio restaurante colocasse um banner, no térreo do prédio, como divulgação. Pelo que vimos, a hierarquia fala em comodato em relação ao Demi-Glace.

De acordo com o Código Civil (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm), o comodato é um tipo de contrato de “empréstimo gratuito de coisas não fungíveis” (ou seja, de coisas que não acabam com o uso). É isso mesmo? A Petrobrás não está cobrando nada para o Demi-Glace utilizar esse espaço? Trata-se de um metro quadrado especialmente valorizado, com um público a princípio cativo, que, em parte, inclusive, já frequenta o restaurante nas redondezas. A direção da empresa realizou alguma pesquisa junto aos trabalhadores para garantir se queriam isso? Alguém da hierarquia do Sistema Petrobrás ou mesmo algum empregado da empresa está entre os donos do Demi-Glace ou tem algum grau de parentesco, de amizade ou de relação profissional com os donos ou prepostos dos donos desse restaurante? Quais foram os critérios utilizados pela direção da Petrobrás para escolher o Demi-Glace para utilizar esse espaço? Foi feita alguma reforma no 24º andar do EDISE para receber o Demi-Glace? Em caso afirmativo, quem pagou por ela, quem executou e quais critérios foram estabelecidos para escolher quem faria esse serviço? É importante que a empresa mostre o contrato que fez com o Demi-Glace.

A transparência nessa questão é indispensável. Ainda mais que, de alguns anos para cá, a hierarquia da empresa decidiu retirar pelo menos a maioria dos restaurantes dos seus prédios preponderantemente administrativos. Isso sem falar no fato de ter ignorado a reivindicação de que, nos restaurantes em que, via contratos com empresas terceirizadas (também já demandamos que fossem próprios), mantém em parte das áreas operacionais, pelo menos parte dos alimentos viesse da agricultura agroecológica cooperativada e/ou familiar.

O caso do Demi-Glace vem na esteira da hierarquia da empresa ter, pelo que soubemos, doado para o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope) e/ou para a Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Core), os equipamentos do Centro de Promoção da Saúde (CPS), que ficava no EDISE e que foi encerrado e desmontado pela cúpula da empresa. Por que doar os equipamentos, ainda mais para batalhões, que devem ter orçamento para aquisição desse tipo de material, até porque exercícios físicos fazem parte da sua rotina de treinamento?

Para uma hierarquia que fala tanto e de forma tão chantagista em austeridade, utilizando esse discurso para facilitar a privatização ainda mais completa do Sistema Petrobrás, parece se tratar de uma hipocrisia gritante.

 

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