Direção da Petrobrás não ajuda a quem sobreviveu ao incêndio da REDUC de 1972

Sobrevivente que era brigadista, após quase 50 anos da tragédia, encaminha carta para presidente da Petrobrás, Silva e Luna, pedindo inclusão no plano de saúde. Mas é ignorado enquanto empresa despeja dinheiro do lucro recorde para o mercado financeiro

Um trabalhador aposentado da Petroflex, Luis Sergio Lopes da Costa, de 72 anos, encaminhou uma carta à presidência da Petrobrás em que pede ajuda para sua inclusão e de seus colegas sobreviventes do incêndio da REDUC, de 1972, que deixou 42 mortos e 40 feridos, na AMS. O aposentado ainda pede apoio para outros quatro sobreviventes e uma pensionista, viúva de um sobrevivente que faleceu de COVID-19 em 2020.

 

Luis Sergio Lopes da Costa tinha apenas tinha apenas 22 anos quando aconteceu a tragédia do incêndio da REDUC.

Tragédia e promessa

O grupo trabalhava na antiga Fabor/Petroflex e formavam a equipe de 14 pessoas que faziam parte da brigada de incêndio, sendo que oito morreram na tragédia. Na ocasião, na madrugada do dia 30 de março de 1972, três tanques de GLP, devido a um vazamento de gás, explodiram.

“Ao chegarmos próximo da esfera, mal tivemos tempo de descer do caminhão, pois quando percebemos o que tinha ocorrido, vários de nossos companheiros já estavam mortos, e eu e mais alguns vivos, completamente nus e com os corpos em chamas. A dor foi tanta que desmaiei, acordando no hospital e pedindo para que me matassem, a dor era insuportável. Principalmente quando éramos obrigados a tomar banho e passar uma bucha sobre a nossa pele morta, para retirá-la, deixando-nos em carne viva” – relata Sergio sobre os momentos de terror que viveu na tragédia que descreveu na carta enviada a Silva e Luna.

O sobrevivente cobra o cumprimento da promessa do então presidente da Petrobrás, Ernesto Geisel, de amparo para assistência médica vitalícia conforme prometido em 1972, após o acidente.

“Durante o período que ficamos internados no hospital Santa Teresinha, na Tijuca, fomos visitados pelo presidente da Petrobrás, na época, o Ernesto Geisel, pelo menos uma seis vezes. Todas as vezes ele dizia que Petrobrás não abandonaria ninguém. Mas infelizmente, com o passar do tempo, e com a privatização da Petroflex fomos abandonados” – denuncia Luis Sergio, sobrevivente do incêndio da REDUC, e autor da carta encaminhada a Silva e Luna. Sergio entrou na então Fabor/Petroflex em 1970, através de concurso púbico, tendo se aposentado em 1992. Ele teve no acidente 60% do seu corpo queimado.

“Meu processo de recuperação durou quatro anos, tendo ficado afastado entre 1972 e 1976, só retornei por liberação do INSS, trabalhando na parte administrativa da unidade. Muitos de meus colegas desenvolveram traumas psicológicos e precisam de um suporte que a direção da Petrobrás se nega a dar” – conta.

Sobreviventes pedem inclusão na AMS

Todos os sobreviventes e pensionistas e afetados pela tragédia que eram lotados na Petrobrás seguem como beneficiários da AMS. Mas a privatização da Petroflex em 1992, durante o governo Fernando Collor, fez com que os ativos, aposentados e pensionistas da empresa privatizada perdessem o direito de uso da AMS. Sergio conta que até hoje arca com os custos de tratamentos para evitar o desenvolvimento de doenças como câncer de pele.

Partes do corpo de Sergio afetadas pelas queimaduras

“Meu provento de aposentado do INSS só serve para pagar meu plano de saúde. Arco com uma despesa mensal de quase R$ 2 mil, incluindo remédios. Com a complementação da Petros, que não é grande coisa, ajudo a minha família como posso. É revoltante ver o que acontece hoje na Petrobrás que apresenta o maior lucro de sua história, vendendo refinarias e todo seu patrimônio para encher os bolsos de pessoas que só querem sugar a empresa” – expressando revolta.

A Luta pelo reconhecimento

Sergio e os outros sobreviventes do incêndio reivindicam que sejam enquadrados como anistiados da Petrobrás, pois alegam isonomia, já que, por determinação do Governo Federal, durante a presidência de Itamar Franco, um grupo de demitidos da Petroflex foi considerado anistiado pela Comissão Especial Interministerial (CEI), sendo esse pessoal reconhecido como petroleiros, passando a ter direito de usufruir da AMS.

Existe o caso de pessoas que apesar de terem sido demitidas no processo de enxugamento dos quadros da Petroflex, antes da privatização, conseguiram pagar a contribuição deles e para a Petros, se mantendo na fundação como autopatrocinados. Essas pessoas conseguiram se aposentar , e obtiveram a anistia , pois estavam dentro do período do decreto presidencial de Itamar Franco. Desta forma alguns aposentados no plano Petroflex/Lanxess/ Arlanxeo possuem AMS e outros não. Quem não conseguiu regularizar a situação, como é o caso de Luis Sergio Lopes da Costa e de seus colegas sobreviventes e da pensionista, não receberam a cobertura do plano de saúde.

“Poderia até se alegar que por impedimentos legais não haveria possibilidades de estender a AMS aos mutilados do incêndio da REDUC, mas gostaria de lembrar que não se trata de amparo legal, mas de honrar a palavra dada pelo General Ernesto Geisel e da dívida moral da Petrobrás com aqueles que não vestiram a camisa da empresa, mas tatuaram no seu próprio corpo, de forma irreversível, o amor por essa empresa. Basta que o sr. autorize nossa inclusão no plano de saúde da Petrobrás. São apenas cinco sobreviventes e uma pensionista, a exemplo de que já ocorre com dezenas de anistiados que fazem parte do mesmo plano Petroflex/LanxessArlanxeo” – pede Sergio em trecho da carta ignorada até agora sem resposta da direção da Petrobrás.

Parte da carta enviada

Pedido na última gaveta

Oficialmente, a direção da Petrobrás não respondeu a carta de Luis Sergio, enviada em 21 de junho de 2021, mas um assessor da presidência entrou em contato telefônico com Edvaldo Alves da Silva, um aposentado da Petroflex que presta apoio a causa dos sobreviventes de 1972.

“Uma pessoa se dizendo assessora da Presidência da Petrobrás, disse que Silva e Luna ficou sensibilizado com a história e que aguardássemos pois fariam o possível para resolver o caso. Acontece que até a presente data só restou o silêncio. Parece ser mais fácil entregar refinarias aos estrangeiros do que resolver um problema humanitário de um pequeno grupo de brasileiros sobreviventes e heróis da explosão de 1972” – finaliza Edvaldo.

Luis Sergio até o presente momento aguarda um retorno definitivo, que até agora não aconteceu.

“O que recebi de prêmio por ajudar a zelar o patrimônio da Petrobrás foi a negação de pegar sol, ir à piscina e praia, coisas comuns que a maioria das pessoas fazem, fugindo dos raios solares para evitar ao máximo o perigo do câncer pele, pois várias partes do meu corpo possuem componentes de enxertos. O meu prêmio é estar vivo!” – conclui Sergio.

A realidade atual da REDUC

Da parte do Sindipetro-RJ, fica a solidariedade para a luta dos sobreviventes do acidente da REDUC. Não podemos deixar de falar sobre as melhores condições de trabalho no sistema Petrobrás em que trabalhadores próprios e terceirizados convivem com o risco dada a precarização das instalações e das condições de trabalho com a redução de efetivos de turno.

Na mesma REDUC, no sábado, dia 19/02, o caldeireiro José Arnaldo de Amorim, profissional da empresa C3, faleceu dentro da U-4500, vaso7, equipamento integrante da unidade de hidrodessulfurização de gasolina (HDS). Testemunhas relatam que um outro trabalhador, também da C3, tentou resgatar José Arnaldo, não obtendo sucesso e também ficou inconsciente por inalação de gás, estando neste momento internado em estado grave. Os trabalhadores atuavam na manutenção da U-4.500, por conta da parada de manutenção. José Arnaldo só foi resgatado após 40 minutos e, mesmo com as manobras para retornar o batimento cardíaco e a respiração, infelizmente, não resistiu à exposição.

Enquanto isso, a direção da Petrobrás, através de seu presidente, general Silva e Luna, apaniguado de Bolsonaro e militares, diz que a prioridade da empresa é garantir o pagamento de dividendos de seus acionistas, fazendo corpo mole para os heróis da empresa como Luis Sérgio, e negligenciando a vida de terceirizados.

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