Lucro dos tolos: uso político do balanço da Petrobrás

Sob todos os holofotes e ao som dos tambores do mercado, a Petrobrás divulgou orgulhosamente que o 1º trimestre de 2018 apresentou um lucro líquido de R$ 6,961 bilhões; alta de 56% frente ao mesmo período do ano passado (R$ 4,45 bilhões). A imprensa garantiu que se tratava “do melhor resultado nominal desde o 1º trimestre de 2013, quando a companhia registrou lucro líquido de R$ 7,69 bilhões”. Ficou no ar aquela imagem de que Pedro Parente estava certo o tempo inteiro e de que suas políticas de privatizações e saques à companhia têm trazido a Petrobras de volta ao caminho certo. Apresentando uma outra visão, Sandra Annenberg, do jornal O Globo, chegou a atribuir este resultado estrondoso principalmente ao aumento do preço do barril. Realmente, é impressionante o modo como os fatos podem ser distorcidos…

A principal causa do lucro no período foi devido a fatores não operacionais: ganhos com a venda das reservas de Lapa e Iara, para a Total (a preço vil), e Carcará, para a Statoil (nos mesmos moldes), o que trouxe um incremento de R$ 3,2 bilhões. Subtraído deste valor, o lucro cai para R$ 3,7 bilhões; 16% inferior ao registrado no 1º trimestre de 2017. Na realidade, o que o balanço deixa claro é que houve redução na produção (venda de ativos) e na venda de combustíveis (política de preços). Por outro lado, baixas contábeis (impairments), despesas com planos de demissão voluntária, ajustes em planos de pensão e multas vinham sendo as grandes responsáveis pelos prejuízos da Petrobrás nos últimos quatro anos. Mesmo os porta vozes do mercado como o Valor Pro acrescentaram que o balanço recém divulgado “é o primeiro resultado trimestral “limpo”, sem baixas contábeis surpreendentes, desde o início da operação Lava Jato, em março de 2014”. Eis os segredos do atual “sucesso” de Pedro Parente.

E a Petrobrás Distribuidora? – Obteve lucro de R$ 247 milhões no primeiro trimestre, alta de 58,3% ante o mesmo período de 2017, e registrou crescimento de 19,5% do Ebitda, para R$ 773 milhões. Lucrativa que sempre foi, a Distribuidora viu sua dí- vida líquida cair de R$ 9,175 bilhões para R$ 3,418 bilhões, devido ao aporte de capital realizado pela Petrobrás, de R$ 6,313 bilhões, e à liquidação antecipada dos saldos das Notas de Crédito à Exportação (NCEs), no montante de R$ 7,708 bilhões (operações ocorridas em agosto de 2017). Estas operações, à grosso modo, representaram a transferência para a Petrobrás das dívidas do sistema Eletrobrás com a Distribuidora, de modo a possibilitar a IPO e passar a (falsa) impressão de que só Wall Street salva. E como o que não falta é oportunismo, a direção da Petrobrás já iniciou “conversas” com, ao menos, duas empresas interessadas em assumir a rede de conveniência dos postos da BR. Segundo o Valor Pro, estão no páreo as Lojas Americanas e a americana 7-Eleven, ambas de olho em um lucrativo negócio que somente uma gestão entreguista teria interesse em buscar “parcerias”. Enquanto isso os acionistas, que raramente enxergam a realidade das empresas, estão felizes. Trabalham no curto prazo e seguem a corrente, num verdadeiro efeito boiada. Vide caso Enron e posteriormente a crise dos subprime de 2008. A Petrobrás está sendo saqueada, privatizada em pedaços e reduzida a uma mera exportadora de óleo cru, mas a direção da empresa e o governo usam os balanços de forma política: uma hora para forjar a falência da empresa e justificar o desmonte. Outra hora para usar um “lucro dos tolos” para dizer que o saque na verdade é uma estratégia de sucesso. E a imprensa massifica, obviamente. Só os ingênuos e os desavisados acreditam e os maldosos fingem acreditar. Reage petroleir@!

Versão do impresso boletim 69

Destaques