O desequilíbrio entre os custos de produção e refino e o preço final de venda dos combustíveis

Em artigo publicado no site da FNP, o economista Eric Gil Dantas do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS) mostra o disparate no Brasil entre o custo de produção e refino e os preços de venda dos combustíveis praticados pela direção da Petrobrás

A política de preços adotada pela direção da Petrobrás , a PPI (Preço Paridade de Importação) que faz com que os preços dos combustíveis vendidos no Brasil tenham como referência a variação do mercado internacional, mesmo com o Brasil produzindo quase três milhões de barris de petróleo por dia (bpd), mostra o quanto as direções desde Bendine, no governo Dilma, (sim, tudo começou nos governos do PT), até ao demissionário Roberto Castello Branco, em vias de ser substituído por um general Joaquim Silva e Luna, amigo de Bolsonaro, é uma forma de garantir os ganhos dos acionistas da empresa.

“Vivemos um momento delicado na Petrobrás, afinal de contas está difícil convencer a população de que os preços praticados nas bombas e nas revendas fazem sentido. A mando do “Deus Mercado”, a estatal adota uma política de preços que não tem lastro na economia real, aquela praticada no plano terreno, sem sabores e dessabores de especuladores que vivem como parasitas em bolsas de valores e de futuros. Falo daquela economia em que preços são formados por uma operação simples: custos mais um lucro (“normal”), com uma variação dentre o quanto as pessoas demandam e ofertam produtos dentro de um mercado, estabelecido no tempo e no espaço (mas não numa ficção global)” – descreve o economista sobre a forma como os especuladores conseguem ganhos irreais às custas do bolso da população brasileira.

Só neste ano de 2021, já aconteceram seis reajustes dos combustíveis anunciados pela direção da Petrobrás para a venda em suas refinarias. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), no acumulado a variação já representa uma alta no ano de 54% no preço da gasolina, 41,6% no diesel e gás de cozinha com 17,1%. Para o consumidor comum que compra no posto de combustíveis e no depósito de gás, a realidade já é de preços finais por litro qu já chegam a R$ 4,79 (diesel), R$ 6,30 (gasolina) e R$ 105,00 (gás de cozinha).

Custo de extração de petróleo

Mas voltando ao artigo de Eri Dantas, o economista descreve como a exploração do Pré-Sal faz com que o custo de produção de petróleo caia.

“O primeiro custo que chamamos atenção é o da extração do petróleo. A descoberta do Pré-Sal e a sua atual exploração comercial está permitindo uma queda nos custos de extração da Petrobrás, o chamado “lifting cost”. Os custos de produção no Pré-Sal são 65% menores do que a extração em terra, águas rasas, águas profundas e ultra profundas. Como o volume de óleo do Pré-Sal vem aumentando exponencialmente, o custo total de extração vem caindo no país. Como nos últimos anos a Petrobrás não publica mais seu custo de extração em reais, multiplicamos o seu custo pelo dólar médio de venda, todos estes dados apresentados nos resultados financeiros da empresa. No ano de 2020, a Petrobrás teve um custo de extração de R$17,94 menor do que a média dos últimos 16 anos, e só em 2009 a estatal teve um custo de extração inferior ao atual” – explica conforme gráfico:

(Gráfico 1 – Custo de extração de petróleo por barril em reais de dezembro de 2020)

 

Custo do refino

Além da queda do custo de extração, Eric Dantas mostra como também o custo do refino também apresenta uma queda histórica.

Outro custo importante a ser analisado é o de refino. Publicado trimestralmente pela Petrobrás, o “custo de refino” em 2020 também ficou muito abaixo da média história, também tendo apenas um ano (2014) com um custo mais baixo do que o de 2020. Com o custo 15% abaixo da série histórica, também tivemos o aumento da participação de óleo nacional na carga processada pelas refinarias da estatal, o que faz com que os efeitos do câmbio diminuam” – revela o resultado que praticamente não foi divulgado pela grande mídia neoliberal.

(Gráfico 2 – Custo de refino por barril em reais de dezembro de 2020)

 

Ociosidade em refinarias

O fato é que hoje com o processo de desmonte e privatização a direção da Petrobrás opera um desestimulo em suas refinarias, provocando uma ociosidade. Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), em dezembro de 2019, as importações responderam por 13,7% da demanda por gasolina e 22,9% da demanda por diesel no Brasil. Esta política de ociosidade vem sendo adotada desde 2017, a partir da gestão Pedro Parente. Ou seja, quanto mais importação maior é a influência da variação dos preços finais ao consumidor, pois se o preço tem como referência o mercado internacional é óbvio que sofreram influência também das sucessivas desvalorizações do real frente ao dólar, só em 2020 a moeda oficial do Brasil registrou uma desvalorização de 20%.

(Gráfico 3 – Capacidade  instalada das refinarias da Petrobrás)

Fonte: Petrobras; IBGE [Elaboração própria]

 

Custos de extração e refino menores em 20%

Por fim, o economista mostra como a soma dos custos de extração e refino são os menos dos últimos 16 anos, com um custo somado 20% inferior ao da média deste período.

“Agora façamos um último exercício, somemos o custo de extrair petróleo e de refinar esse óleo gerando gasolina, diesel, gás de cozinha, dentro outros. Como podemos ver, 2020 é o ano com o segundo menor custo para produzir combustíveis e gás de cozinha na Petrobrás, ao menos desde 2005. Ou ainda, um custo 20% inferior ao à média destes últimos 16 anos” – como mostra o gráfico abaixo:

(Gráfico 4 – Custos de extração mais os custos de refino por barril da Petrobrás em reais de dezembro de 2020)

 

Ao final de seu artigo o economista do IBEPS, que também é doutor em Ciência Política, faz perguntas bem pertinentes.

“Se produzir gasolina, diesel e GLP no Brasil está mais barato, por que temos que pagar mais caro por estes produtos? Por que na maior crise econômica da história deste país, temos que pagar o preço da gasolina que não víamos desde a primeira metade da década de 2000?” – indaga.

Destaques