3R Petroleum: exemplo de como a Petrobrás subvaloriza a venda de seus ativos

Após comprar campos maduros da Petrobrás, empresa apresenta valorização acima do normal em ações do mercado financeiro

Uma bolha que pode ser uma furada

Em novembro de 2020, a 3R fez uma IPO (abertura de capital) a partir do agrupamento de ativos comprados da Petrobrás – no montante de R$ 2,9 bilhões, e da Ouro Preto Petroleum, de Landim, no montante estimado de R$ 2,4 bilhões. Um total de R$ 5,3 Bi. A 3R Petroleum alcançou um valor de mercado de R$ 8 bilhões. Essa diferença, de R$ 2,7 Bilhões, entre o valor do patrimônio adquirido e avaliado a mercado em bolsa, indicam um subfaturamento da ordem de 50%.

A abertura de capital atraiu as famílias Falabella – dona da rede de varejo chilena de mesmo nome – e Gerdau, conforme apurou o Estadão/Broadcast.

Segundo publicado pela Isto é, em novembro de 2020, para levar adiante os planos, a 3R Petroleum foi à Bolsa, num complexo processo de abertura de capital. A empresa surgiu de uma reorganização societária concretizada apenas com a efetivação da abertura de capital. Os ativos unificados pertenciam à gestora de investimentos Starboard, bastante ativa no mercado brasileiro.

O que a Petrobrás perde com a subvalorização de seus ativos

Esse formato precisou passar pelo aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tendo padrinhos forte. Usualmente, e em tese, a estrutura de um empresa é consolidada antes de ser feita a oferta inicial de ações. Na própria página da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) isso é claramente especificado ( https://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/solucoes-para-emissores/abertura-de-capital/como-abrir-o-capital/). A oferta da IPO da 3R Petroleum foi coordenada por XP, BTG Pactual, Itaú BBA e Genial Investimentos.

O BTG Pactual se tornou acionista da 3R nesta abertura de capital – “ (…) o FIP 3R sofrerá uma cisão desproporcional, por meio da qual o BTG Pactual, na qualidade de cotista do FIP 3R ou sua afiliada, passará a ser, após a realização da oferta pública de ações, acionista da Companhia.”

A parcela da Ouro Preto Petroleum (OP) equivale aos outros 35% do Pólo Pescada – que a Petrobrás entregou seus 65% por US$ 1,5 milhão em negócio finalizado, em julho de 2020 (https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=982871) . Assim, a parte do polo Pescada da Ouro Preto (Landim) teria proporcional valor de US$ 525 milhão de dólares, cerca de R$ 2,4 bilhões ao cambio de hoje (1,5×35%×4,6 dólares).

Daí podemos ter uma ideia da real subvalorização dos ativos no processo de desmonte e privatização da Petrobrás, e de como esse patrimônio “ganha valor” nas mãos dos novos donos.

O desmembramento de negócios e a mágica da especulação no mercado

Os tubarões “estruturam” novos conglomerados – formados nas compras a preço vil a partir do processo de privataria da Petrobrás – e ofertam aos incautos um novo veículo de especulação, pois o lucro da compra com desconto já foi para os bolsos dos grupos e a oferta se dá com um sobrepreço dos ativos ao grande público.

Os prospectos de lançamento são instrumentos de propaganda e venda e cumprem um papel jurídico de total descompromisso de quem apresenta projeções, estudos e avaliações sobre a “solidez dos próprios estudos”. As consultorias que avaliam não avalizam nada. E essa história já aconteceu num passado recente como na crise do subprime em 2008, surgida nos EUA. Lá aconteceu uma CPI no congresso sobre as empresas de avaliação de riscos das ações que desmoralizou todo o sistema.

Não tem almoço grátis ou mágica. Ou é sobrepreço dos proprietários que estruturaram o novo conglomerado e superavaliação dos bancos e consultorias envolvidas na abertura de capital contra o mercado ou preço vil da privataria, venda de ativos, contra a Petrobrás e seus acionistas.

A porta gira…

Recentemente, o Sindipetro-RJ publicou uma reportagem sobre o novo emprego do ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco que vai ser o principal executivo da 3R Petroleum, após tem vendido em sua gestão seis ativos da empresa (campos maduros), por cerca de R$ 2,9 bilhões

Vale lembrar que a 3R Petroleum comprou, em 2020, a Ouro Preto Petróleo e Gás empresa fundada por Rodolfo Landim, que teve o nome escolhido recentemente pelo governo Bolsonaro para presidir o Conselho de Administração (CA) da Petrobrás. Landim que é atualmente presidente do Flamengo, anunciou que desistiu do cargo na Petrobrás para se “dedicar” ao clube da Gávea, mas uma das realidades é que o empresário possui uma condenação do Tribunal de Contas da União (TCU), referente ao tempo em que era o chefão na BR Distribuidora. O Sistema de Contas Irregulares do tribunal registra que, para Landim, a punição por contas irregulares, em 2011, tem efeitos até fevereiro de 2025. Com isso, ele estaria inapto para assumir cargos em qualquer conselho de estatal do país.

O fato é que o processo de desmonte e privatizações de empresas do sistema Petrobrás se tornou um verdadeiro “eldorado” para pessoas que atuaram dentro da própria Petrobrás sob apadrinhamentos políticos como Castello Branco, Landim, Denise Lara…

Mas voltando ao nome de Roberto Castello Branco, que foi demitido, em 5 de março de 2021, da Petrobrás, em um escândalo que envolveu seu gestor de RH da Petrobrás, Claudio Costa, que, segundo investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), teria obtido ganhos no mercado financeiro a partir de informações privilegiadas sobre a demissão do ex-presidente da companhia.

Cara de pau

Enquanto presidiu a Petrobrás, Roberto Castello Branco negociou com o seu novo patrão ativos que somaram o montante de US$ 626,9 milhões, cerca de R$ 2,9 bilhões. Isso mostra o quanto a legislação é frouxa no andar de cima. Até o nome do crime – conflito de interesses – não revela à sociedade seu real significado e potencial de dano.

Hoje, a Petrobrás tem servido de trampolim e escada para pessoas e empresas que servem ao mercado de capitais e interesses nada públicos.

Roberto Castello Branco é mais um que passa pela porta giratória, junto com o “caminhão” de informações privilegiadas, levando tudo da Petrobrás.

E só pra não deixar de lembrar, no TCU também tramita uma ação contra o até então escolhido por Bolsonaro para a presidência da Petrobrás, e já desistente Adriano Pires, por conflito de interesse. Será que a fonte (Petrobrás) vai secar, e a farra dos da venda de ativos acabar?

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