Serviços de consultoria em RH, um bom negócio para os chefões da Petrobrás

Companhia ao longo dos últimos 10 anos gastou fortunas com contratação de consultorias de RH que culminaram com a criação de premiações para ganhos financeiros, de curto prazo, direcionados para a alta administração como é o caso do PPP

 

Claudio Costa, um “case” na Petrobrás

O ex-gerente executivo do RH da Petrobrás, além de ter saído pela porta dos fundos da empresa sob suspeita de uso de informações privilegiadas no mercado financeiro, durante a gestão bolsonarista de Roberto Castello Branco, deixou como ataque contra a empresa o Programa de Prêmio por Performance (PPP).

Conforme divulgado à época pela Petrobrás, o gerente executivo de Recursos Humanos foi desligado da companhia, por ter atuado, em episódio pontual, em desacordo com o disposto na Política de Divulgação de Ato ou Fato Relevante e de Negociação de Valores Mobiliários, que veda a negociação de valores mobiliários de emissão da Petrobrás por pessoas vinculadas nos 15 dias que antecedem a divulgação das demonstrações financeiras da companhia.

A Comissão de Valores imobiliários também informou “No que se refere à denúncia a respeito de eventual prática de crime de insider trading cometido pelo então gerente executivo de recursos humanos, Sr. Claudio da Costa, cumpre informar que, em 02/03/2021, foi instaurado pela Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários — SMI o Processo CVM SEI no 19957.001646/2021-76, cujo objeto é investigar, dentre outros assuntos, eventuais negociações atípicas e quaisquer irregularidades envolvendo administradores da Companhia, dentre os quais se encontra o referido ex-administrador” – informa o trecho do informe da CVM.

Mesmo sob o novo governo de Lula, com Jean Paul Prates, o PPP ainda resiste na Petrobrás, por empenho de seu Jurídico, defendendo sua manutenção a unhas e dentes para a felicidade dos chefões privatistas que ainda se mantém camuflados na companhia.

https://sindipetro.org.br/ppp-um-tremendo-cavalo-de-troia/

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Mas para entender essa proteção dos ganhos da “casta” é preciso visualizar a atuação dessas empresas na Petrobrás. Vale lembrar que Claudio Costa iniciou na companhia prestando trabalho de consultoria, e anos mais tarde foi alçado ao cargo de gerente executivo de RH.

A volta

Mas Claudio Costa parece ser realmente um cara de “sorte e competência”. Em 2010 assumiu a vice-presidência de RH da companhia aérea TAM (Latam). A partir daí, passou pela EcoRodovias, foi para o setor público, atuando na Secretaria Municipal de Gestão de Pessoas, na prefeitura do tucano João Dória e, no início de 2019, por indicação do próprio Dória, então apoiador da campanha de Bolsonaro nas eleições de 2018 – quem não se lembra do Bolsodória? – caindo de paraquedas no RH da Petrobrás ao lado de Roberto Castello Branco.

Entre os anos de 1998 e 2009, Claudio Costa foi diretor de Negócios da Hay Group Brasil, uma empresa de consultoria especializada em projetos estratégicos de recursos humanos – remuneração, remuneração variável, gestão de clima, competências, governança corporativa, estrutura organizacional.

Até o ano 2010, o executivo era um mero consultor de RH, tendo atuado inclusive na Petrobrás. Certamente, os mais antigos do setor lembram do sujeito circulando nos corredores do RH da Petrobrás, por exemplo em 2008.

Costa, entre 11/2003 e 03/2005 participou da Pesquisa Salarial base para Revisão do PCAC, sob o contrato 4600161093, que tinha por finalidade analisar seus efeitos no ACT 2006, a partir da RMNR, PCAC, REPACTUAÇÃO/PETROS-2.

O embrião do PPP

Na sequência, vem a Revisão da Carreira Gerencial da Petrobrás aos moldes daquele modelo internacional que foi impulsionador do crescente risco moral (incentivo das regras corporativas à escolha de implantação de medidas contraproducentes aos objetivos mais estratégicos das empresas, para o privilégio direto, próprio, de ganhos financeiros de curto e médio prazos, concentradamente, para a alta administração.  O termo “Moral Hazard” é um eufemismo do mundo da Governança Corporativa para classificar a institucionalização do imoral, para a institucionalização da corrupção como “prática legal” e rotineira nas empresas), que contribuiu para a crise de 2008 nos mercados internacionais.

Assim, em 2019, foi implantado pelo então chefão do RH da Petrobrás, Claudio Costa – aquele antigo consultor, de forma unilateral e sem negociação com as entidades sindicais, o PPP (Programa Prêmio por Performance), também carimbado pela categoria como “Propina por Privatização”, institucionalizando uma verdadeira farra de distribuição de recursos para o alto escalão da empresa.

Hay Group/Korn Ferry

Mas voltemos ao papel das empresas especializadas em remuneração, remuneração variável e em recrutamento de executivos na Petrobrás. Em setembro de 2015, a Hay Group é comprada pela Korn Ferry, uma empresa voltada para o recrutamento de executivos.

“Com a aquisição do Hay Group, a Korn Ferry terá uma habilidade inigualável de apoiar a comunidade global de negócios, não só na atração dos grandes talentos e no desenho da remuneração e de incentivos, com uma abordagem integrada para a contínua evolução das pessoas e de toda a liderança” – escrevia na época, no Linkedin, um especialista em remuneração.

Em pesquisa no Portal da Transparência, da Controladoria Geral da União (CGU) – www.portaldatransparencia.gov.br  –  verificamos que a Hay Brasil entre 12/2013 e 12/2019 firmou com a Petrobrás 14 contratos de consultoria que totalizaram mais de 10 milhões.

Em 15/07/2015 entrava em vigência um contrato entre a Korn Ferry e a Petrobrás (nº 95071/2015) que envolveu o valor de mais de R$ 11, 6 milhões, cujo objeto era a prestação serviços de consultoria para o recrutamento e seleção de executivos para a alta administração e administração superiores da Petrobrás. A Korn, ainda no ano de 2014, celebrou um outro contrato de R$ 666,6 mil, também a título de consultoria para o RH da Petrobrás.

Conforme dados disponibilizados no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU), a Hay Brasil e Korn Ferry tiveram em execução com a Petrobrás um total de 19 contratos, entre os anos de 2013 e 2016, totalizando mais de R$ 23 milhões. Essas informações também foram obtidas a partir de dados fornecidos em pedido formulado com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), que apesar do acesso negado nos foi fornecido a relação com identificação dos contratos com prazos de vigência.

Korn selecionou Elek, que contratou a Deloitte

Em janeiro de 2015, a Petrobrás anunciava a escolha do seu primeiro diretor de Governança, Risco e Conformidade, João Elek, por meio de processo seletivo conduzido pela Korn Ferry, especializada em seleção de executivos, que buscou profissionais de mercado com notório reconhecimento de competência na área de Governança.

Na esteira da Operação Lava Jato, a criação da nova diretoria de Governança, Risco e Conformidade foi aprovada de forma unânime pelo Conselho de Administração no dia 25/11/2014.

https://dev.hotsitespetrobras.com.br/fatos-e-dados/gastos-com-investigacao-interna-resposta-ao-valor-economico.htm

O mesmo João Elek teve seu nome envolvido em um imbróglio não desejável para um diretor de governança. No fim de 2015, o executivo contratou, sem licitação, a consultoria Deloitte para prestar serviços para a Petrobrás. Em paralelo, porém, sua filha disputava uma vaga de trabalho na mesma empresa. Elek chegou a ser afastado no cargo após a denúncia de conflito de interesses, mas foi reconduzido por decisão do Conselho de Administração depois de a Comissão de Ética Pública da Presidência da República ter analisado o caso como improcedente.

Essa “Nova Diretoria”, trazida à baila como fosse um remédio contra a corrupção, ao longo do Governo Bolsonaro, e sob a batuta de Salvador Dahan, no mínimo, não foi eficiente, pois não impediu a reiterada corrupção da lei trabalhista brasileira, a “desconformidade” de inúmeras medidas do RH da Petrobrás contra o conjunto de seus trabalhadores.

O que ficou claro, ao longo desses 10 anos, é que empresas que possuem atuação global no mundo corporativo, especificamente em RH, executaram ao menos 19 contratos com o sistema Petrobrás, aplicando métodos a partir de contratos de consultoria que visavam criar condições para implantação de uma política de remuneração que aumentasse os ganhos dos chefões do sistema Petrobrás.”, pois é possível que tenha havido pactuação de mais contratos que não foram por nós rastreados.

E este modelo também foi aplicado na Petrobrás e não alterado até o momento. É importante passar esses contratos em lupa dado a evolução de papéis do próprio Cláudio Costa: de consultor externo à contratador e superior interno de consultoria a qual representou em contratos diretos perante a própria gerência que passou a exercer na Petrobrás.

Não houve meritocracia, mas houve muito assédio institucional

Também se deve considerar que a infiltração dessas empresas visou colocar em prática a cultura da competição corporativa dentro do Sistema Petrobrás, dando ênfase no discurso da meritocracia que fragmentou equipes de trabalho, aumentou o espaço do assédio e o sofrimento, promovendo uma cultura individualista patronal que os trabalhadores da Petrobrás já rechaçaram em pesquisa.

https://sindipetro.org.br/o-papo-furado-da-meritocracia/

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