Testes só agora para garantir os lucros e exploração dos trabalhadores e da população

Empresas compram testes que nem sempre são eficazes para identificar contaminações por COVID-19

A crise provocada pela pandemia da COVID-19 faz as máscaras do capitalismo caírem. A iniciativa dos empresários em testar seus empregados – só agora, baseado em uma teoria não comprovada e apenas para preparar a volta ao trabalho – expõe a ganância empresarial sobre os trabalhadores para que estes continuem garantindo seus lucros, custe o que custar, mesmo diante de uma crise sanitária que vivemos sem precedentes na história.

A lógica é de que quem já contraiu a COVID-19 estaria em tese vacinado e não sofreria uma futura contaminação. Porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou recentemente de que não há provas de que indivíduos curados estejam imunes para um possível contágio.

O informe científico emitido pela OMS é um alerta aos governos que programam a emissão de “passaportes de imunidade” ou “certificados sem risco” para pessoas que foram infectadas. A OMS defende que, neste momento, sua precisão não pode ser garantida. Está evidente que grandes grupos econômicos pressionam os gestores públicos. No Brasil, Bolsonaro atua claramente para “liberar geral”, quando deveria estar garantindo as condições para a quarentena e, aí sim, a testagem em massa.

Importação em massa

Segundo publicado pelo jornal o Globo existe uma estimativa da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), entidade que reúne fabricantes e importadores de testes e reagentes para diagnóstico, de que o setor privado está encomendando cerca de 30 milhões de kits para a examinar seus próprios trabalhadores, com entrega prevista entre maio e julho próximos.

JBS registra contaminações em fábrica nos EUA

O fato é que os sistemas industriais não garantem a segurança sanitária de seus produtos a serem consumidos, como é o caso de um frigorifico de propriedade da JBS nos EUA. Localizado no estado do Wiscosin, a JBS Packerland identificou ao menos 147 trabalhadores infectados. A empresa afirmou que continuará a realizar testes nos funcionários e cerca de 2.200 testes serão enviados à fábrica. De acordo com o porta-voz do Departamento de Saúde, Ted Shove, o exame é “voluntário” – em reportagem publicada pela rede estadudinense de televisão NBC.

Plataformas de petróleo

No setor de petróleo a situação revela a exaustão dos trabalhadores em plataformas que estão sendo submetidos a isolamentos no pré embarque e no pós desembarque, cumprindo quarentenas de sete dias.

A nossa reportagem relata o caso de um trabalhador da cozinha a bordo da Plataforma P-74, do campo de Búzios, área de exploração do Pré-Sal, que segundo a gerência foi positivo no teste rápido pré embarque.

Segundo informes, o exame sorológico do profissional de resultado positivo tanto para IgG como para IgM, índices de referência para a COVID-19. Estes resultados indicam que o paciente teve uma infecção recente (semanas ou meses). O fato é que o trabalhador não fez a contraprova, deixando assim dúvidas sobre a eficácia do teste rápido.

Papel da Anvisa

Na reportagem do Globo é informado que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já recebeu pedidos de avaliação de 160 testes de diferentes fabricantes, dos quais 41 foram aprovados. A maioria é de testes rápidos ou sorológicos, realizados a partir da coleta de sangue.

“As empresas têm preferido estes testes, cujo resultado sai em 15 minutos, em média. Alegam que mais simples e baratos — custam entre R$ 80 e R$ 100 no distribuidor, sem contar o custo do laboratório —os exames sorológicos medem a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus, permitindo identificar se a pessoa está em fase de risco de transmissão ou se já está imunizada. Porém, para ser eficaz, a coleta tem de ser feita após o 7º dia da contaminação, sob risco de acusar um resultado falso negativo” – diz um trecho da reportagem publicada nesta segunda-feira (27).

Ações midiáticas que não convencem

A verdade é que o capital tenta se antecipar e pressiona organismos internacionais como a OMS para que se afrouxe às medidas de isolamento e quarentena. Capachos como Trump e Bolsonaro questionam os protocolos e em nome da produtividade e lucro deixam a critério dos patrões as ações que deveriam ser da parte do Estado.

Fora isso, o que se verifica nos grandes veículos de comunicação, e também nas mídias sociais é uma campanha maçante a favor das grandes empresas que praticam doações de recursos financeiros e materiais, ou que patrocinam lives para estrelas do showbusiness, tentando mostrar que essas empresas se importam com o combate à COVID-19, mas se mostram contraditórias quando as mesmas expõem seus empregados e a própria população.

 

Imagem Reuters

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